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Paulo Portas não tem dúvidas: "Pode o Presidente ser chamado à comissão parlamentar de inquérito? Não, não pode"

MJC
4 ago, 22:14

No seu espaço semanal de comentário, "Global", no Jornal Nacional da TVI, Paulo Portas analisa a atualidade internacional, desde a situação no Médio Oriente à Venezuela, passando pela troca de prisioneiros entre a Rússia e o Ocidente. Mas também deixa um esclarecimento a todos os que pedem a presença de Marcelo Rebelo de Sousa na CPI sobre as gémeas tratadas com Zolgensma

"O Presidente da República não responde perante o Parlamento, quem responde perante o Parlamento é o Governo", diz Paulo Portas a todos os que pedem que Marcelo Rebelo de Sousa seja ouvido na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre as gémeas tratadas com Zolgensma. "O Presidente da República tem, aliás, o poder de dissolver o Parlamento", recorda. "Se querem alterar o sistema político português, então revejam a Constituição e tornem o sistema português um parlamentarismo".

Posto isto, as respostas de Paulo Portas são claras: "Pode o Presidente ser chamado à comissão? Não. Pode responder por escrito? É menos exigente mas em qualquer caso eu acho-o abrangido pelo mesmo princípio. O que pode é um ex-presidente depor, nomeadamente por escrito, como aconteceu com Cavaco com outra comissão de inquérito. Agora, um Presidente em funções intimidado pela Assembleia da República? Não."

No seu espaço semanal de comentário "Global", no Jornal Nacional da TVI, Paulo Portas abordou ainda a atualidade internacional, a começar pela situação de tensão que se vive no Médio Oriente. "O conflito de Gaza já é dramático em si mesmo, do ponto de vista humanitário, mas tem um impacto relativamente limitado em termos globais", afirma Paulo Portas. Mas se passa para a Cisjordânia e para o Líbano esse impacto aumenta. "E se chegar - esperemos não  chegar - a um conflito entre Israel e o Irão isso é um assunto muito sério em termos globais." Nesse caso, "há uma possibilidade de escalar para um conflito que atinge toda a região".

"Quando alguém ataca Israel, mais tarde ou mais cedo alguém paga por isso, o Mossad encarrega-se disso e normalmente não falha". Portanto, nos últimos tempos, o Mossad eliminou o chefe militar do Hamas em Gaza, eliminou o líder político do Hezbollah em Beirute e ainda eliminou o número dois do Hamas - mas o pior "é que isto aconteceu no Irão no dia da posse do novo presidente". "A mim parece-me evidente que o vexame do Irão foi de tal ordem que alguma retaliação haverá", afirma Paulo Portas. Como? Quando? Estará disposto a correr o risco de voltar atrás no caminho que estava a fazer após a eleição do novo presidente? E a correr o risco de fazer escalar o conflito no Médio Oriente? Essas são respostas que teremos nos próximos dias, diz o comentador.

Troca de prisioneiros: "É um sinal que ainda há espaço para a diplomacia"

Sobre a troca de prisioneiros entre a Rússia e o Ocidente, que aconteceu esta semana, foi a maior desde o fim da Guerra Fria e que um dia destes, acredita, certamente veremos contada num livro ou num filme, Paulo Portas considera que é "um sinal que ainda há espaço para a diplomacia". Foi uma troca que "demorou dois anos a preparar, foi sugerida por Putin, quem convenceu Biden a aceitar foi Hillary Clinton, e Abramavic foi o intermediário que conseguiu o acordo de Putin, incluindo para Navalny que, no dia seguinte, desapareceu".

"Fica uma lição: Putin tem uma politica de reféns, faz reféns para ter moeda de troca e para obter a única coisa que lhe interessa: gente dos serviços secretos e gente que protege a sua fortuna."

Sobre a corrida presidencial nos EUA, Paulo Portas recorda que Kamara Harris começou com 3 pontos de diferença em relação a Donald Trump, diminuiu para 1,7 e esta semana para 1,2 , ou seja, "está a reduzir a distancia" para com o adversário. "Também é significativo", diz Paulo Portas, que em julho tenha conseguido o dobro de financiamento que Biden tinha conseguido. E está "na véspera ou na antesvéspera de divulgar o seu vice-presidente".

"Até aqui o que me impressionar mais foi que ela tomou sempre a iniciativa e, por outro lado, levou a Trump a dizer outra vez aquilo que é a sua natureza - a dizer coisas estranhas, exóticas, bizarras, que o podem afastar da maioria que ele precisa".

"A eleição está mais renhida do que estava há um mês", conclui Portas.

Um aviso sobre a Inteligência Artificial

Paulo Portas deixou ainda um "aviso amigos aos nosso telespectadores". "A Inteligência Artificial acaba de entrar com relevância na campanha eleitoral", diz. Elon Musk partilhou um video falso de Kamala Harris, usando imagem real, a voz dela, mas um discurso alterado. "Cuidado. Isto vai acontecer entre todo o mundo. No dia em que as pessoas não conseguirem saber a diferença entre um discurso verdadeiro e um discurso falso, entre um facto que aconteceu e outro que não aconteceu, entre uma imagem que é verdadeira e outra que é manipulada, as pessoas podem acabar a não saber distinguir verdadeiro de falso e isso é muito perigoso para um valor que é básico para as democracias que é racionalidade. Musk e Zuckerberg sabem o que estão a fazer, ambos querem ganhar dinheiro à conta da radicalização das sociedades, extremam os valores e as democracias são feridas disto".

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