O ataque é o mais recente de uma série de incidentes letais junto a centros de distribuição de alimentos
Esperavam ajuda, receberam tiros. Pelo menos 45 palestinianos morreram esta terça-feira em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, quando fogo israelita atingiu uma multidão que aguardava a chegada de camiões de ajuda humanitária. O número foi avançado pelo Ministério da Saúde do território, que acrescenta ainda a existência de “dezenas de feridos”.
O ataque, mais um a atingir civis durante a espera por alimentos, surge na sequência de outros episódios semelhantes. Na noite de segunda-feira, cinco palestinianos foram mortos a tiro e vários outros ficaram feridos na Cidade de Gaza, na zona noroeste daquele enclave, também enquanto aguardavam distribuição de alimentos.
No mesmo dia, outras 37 pessoas morreram em tiroteios nas imediações de centros de distribuição de comida geridos por empresas privadas norte-americanas, com segurança garantida por forças israelitas.
“A situação está fora de controlo”
A cidade de Khan Younis, que tem sido um dos epicentros dos combates e bombardeamentos nas fases mais recentes da guerra, viu o hospital Nasser ser novamente transformado em campo de urgência. Centenas de pessoas, entre mortos e feridos, deram entrada na unidade hospitalar.
“Quase 300 vítimas chegaram agora ao Hospital Nasser”, contou Mohammed Saqer, chefe de enfermagem da instituição. “A situação está fora de controlo. O hospital já não consegue lidar com números tão elevados.”
Saqer descreve que muitos dos feridos tinham lesões provocadas por projécteis de tanques — o que sugere um bombardeamento terrestre.
Ajuda armadilha
Desde o início da guerra em outubro, têm-se multiplicado relatos de ataques a civis durante distribuições de ajuda humanitária — frequentemente organizadas por ONG’s ou actores privados com a coordenação de forças israelitas. Testemunhos de sobreviventes dão conta de pânico, tiros e estampidas em locais onde se deveria combater a fome.
A comunidade internacional, embora atenta, tem mantido uma resposta morna. As Nações Unidas já tinham alertado para a deterioração da situação humanitária em Gaza, onde cerca de 2,3 milhões de pessoas vivem sob bloqueio, com acesso intermitente — e muitas vezes inexistente — a comida, água, medicamentos e electricidade.
O exército israelita não comentou, até ao momento, este mais recente ataque em Khan Younis.
A tragédia repete-se, sempre com o mesmo cenário: filas de civis à espera de arroz, farinha ou enlatados — e, de repente, o som dos tiros. E os habitantes de Gaza continuam a morrer, de fome ou de guerra. Às vezes, de ambos.