Segundo o bastonário da Ordem dos Médicos, falta definir matérias éticas, deontológicas e mesmo da responsabilidade médica relativamente ao uso da IA na medicina, com aplicação prática em áreas como o diagnóstico precoce de doenças, a personalização dos tratamentos ou a otimização dos recursos hospitalares
Cerca de 500 médicos vão debater no congresso nacional da ordem, que decorre esta sexta-feira e sábado, as transformações que a Inteligência Artificial (IA) está a introduzir na medicina, com repercussões éticas e deontológicas que necessitam de regulamentação.
“A IA tem aspetos que são muito positivos para a medicina, porque vem ajudar o médico na sua intervenção, mas é uma área ainda muito desconhecida e na qual há pouca participação médica”, adiantou à Lusa o bastonário da Ordem dos Médicos (OM), numa antecipação do 27ª Congresso Nacional, que vai decorrer em Lisboa.
Tendo em conta as potencialidades da IA e o espaço que vai ocupar no quadro da intervenção médica, Carlos Cortes alertou que há aspetos que necessitam de ser salvaguardados como é o caso da relação médico-doente, da confidencialidade dos dados, de procedimentos clínicos e da segurança do doente.
“Esta área da IA tem de ser muito bem regulada. Temos de saber muito bem o que estamos a fazer, porque há aspetos que são muito relevantes”, referiu o bastonário, para quem o Ministério da Saúde tem também de estar desperto para a necessidade dessa regulamentação.
Segundo avançou, falta definir matérias éticas, deontológicas e mesmo da responsabilidade médica relativamente ao uso da IA na medicina, com aplicação prática em áreas como o diagnóstico precoce de doenças, a personalização dos tratamentos ou a otimização dos recursos hospitalares.
O bastonário salientou que, apesar das potencialidades que já apresenta, a IA “não consegue substituir o médico na sua plenitude”, alegando que a “medicina é muito baseada no fator humano” e na “relação milenar” entre o clínico e o seu paciente.
“Um tratamento só corre bem quando há confiança entre o doente e o seu médico”, realçou Carlos Cortes, para quem a introdução desta nova tecnologia na medicina terá de ser sempre complementar à intervenção médica.
O bastonário adiantou que o Congresso Nacional vai também “refletir sobre o momento difícil da saúde” no país e defendeu que a IA pode assumir-se como um contributo para minimizar a falta de profissionais no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“Há falta fundamentalmente de recursos humanos no SNS e as capacidades da IA, ocupando algumas das áreas que são médicas neste momento, podem aliviar e deixar que o médico se foque noutros aspetos, como a maior ligação aos seus doentes”, referiu Carlos Cortes.
Adiantou ainda que recentemente a OM criou uma comissão para acompanhar a evolução da IA na medicina, mas que pretende também fazer com que os próprios médicos “tenham uma palavra a dizer nesse desenvolvimento”.
“Nós sabemos que quem está a desenvolver a IA são cientistas ligados à informática e a indústria, mas o papel dos médicos tem sido esquecido”, alertou o bastonário.
Nos dois dias do congresso, vão ser debatidos temas como as implicações éticas da IA e da robótica na saúde, a relação médico-doente face a essa nova tecnologia, o papel da IA na educação médica e a integração da IA na regulação da saúde, entre outros.