40% das vagas ficaram por ocupar em concurso para médicos de família após "dezenas de desistências"

14 jul 2022, 12:47
Saúde

O Sindicato Independente dos Médicos avisa que esta situação "irá repetir-se e agravar-se se não forem melhoradas de forma estrutural e profunda as condições de trabalho e remuneratórias da carreira médica no SNS"

40% das vagas disponibilizadas no concurso para médicos de família, aberto em junho, ficaram desocupadas, após "dezenas de desistências", avança o Sindicato Independente dos Médicos (SIM). Em comunicado, o sindicato alerta que a "situação é ainda mais crítica" em Lisboa e Vale do Tejo (LVT).

Em comunicado, o SIM indica que o concurso, aberto no passado dia 17 de junho, disponibilizava um total de 432 vagas para médicos especialistas em Medicina Geral e Familiar, das quais 211 em LVT. Inicialmente, candidataram-se 379 médicos de família, o que corresponde a um total de 87% vagas ocupadas.

"Contudo, no final do processo, só 60% das vagas foram ocupadas, tendo havido dezenas de desistências", revela o sindicato, em comunicado. Uma situação que é "ainda mais crítica" em Lisboa e Vale do Tejo, onde metade das vagas ficaram "desertas".

Contactado pela CNN Portugal, o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha, esclareceu que as vagas que ficaram por ocupar devem-se essencialmente às condições apresentadas pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS) em termos salariais. "Um médico especialista em regime de trabalho de 40 horas aufere 1.800 euros líquidos. Isto impede que os médicos do Norte queiram vir para Lisboa, [pois] só para a renda da casa, dificilmente conseguem algo abaixo dos 1.000 euros", assinala.

Além disso, Roque da Cunha acrescenta que "muitos centros de saúde não têm o mínimo de condições de trabalho", desde logo na falta de "investimento em equipamentos", que coloca em causa o trabalho dos profissionais de saúde.

Os médicos de família são "altamente requisitados" no estrangeiro, nomeadamente Inglaterra e Alemanha, cujos governos procuram colmatar a carência de médicos desta especialidade com ofertas de "muito melhores condições" aos médicos portugueses. Tendo em conta esta possibilidade de escolha, é natural que os médicos desta especialidade "façam as contas" e escolham trabalhar lá fora, salienta.

O sindicato avisa que esta situação "irá repetir-se e agravar-se se não forem melhoradas de forma estrutural e profunda as condições de trabalho e remuneratórias da carreira médica no SNS".

"O que é preciso é que o Ministério da Saúde, em vez de utilizar a propaganda para anunciar mais vagas, seja sério no processo de negociação, que ontem mesmo [quarta-feira] anunciou com os sindicatos, e proceda a uma atualização da grelha salarial", defende Roque da Cunha.

A reunião do Ministério da Saúde com os sindicatos médicos foi suspensa esta quarta-feira, retomando dia 26, depois de as estruturas sindicais terem apresentado uma contraposta ao protocolo negocial para incluir, entre outras matérias, aumentos salariais.

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