Mau tempo: em Lisboa é tempo de limpezas e de contabilizar estragos

Agência Lusa , MM - Notícia atualizada às 12:54
8 dez 2022, 11:48

Em Algés, concelho de Oeiras, há uma vítima mortal a registar.

Vários comerciantes da zona de Lisboa estão esta manhã em trabalhos de limpeza e a avaliar os estragos provocados pelas inundações causadas pela chuva intensa da última noite, que cortaram também ruas e acessos.

A manhã solarenga quase faz esquecer o mau tempo que se fez sentir durante a noite, não fosse a azáfama de alguns comerciantes, bombeiros e serviços de limpeza, que, em dia de feriado nacional, trabalham para drenar caves inundadas, varrer lamas e reabrir acessos cortados.

Na zona de Benfica, uma das mais atingidas, o responsável de uma pastelaria passou a noite no estabelecimento para onde foi chamado às 22:00, depois de a água começar a entrar pelas sanitas e ter inundado a cave, onde tinha já armazenados vários produtos para o Natal, provocando estragos na ordem dos 20.000 a 30.000 euros.

“Coisas que tinha comprado para o Natal, farinha, açúcar, tinha cinco arcas cheias de produtos, azevias e essas coisas todas, foi tudo. As arcas viraram todas ao contrário, não tenho nada. E fora o material, computadores, está tudo lá em baixo, o material elétrico, tenho tudo na cave”, disse à Lusa o proprietário da pastelaria, Jacinto Marques.

Segundo o comerciante, os bombeiros, que se encontravam no local a retirar a água da cave, que chegou a atingir um metro e meio, explicaram que a água da chuva entrou pelos esgotos, inundando o estabelecimento através das casas de banho.

Já em Algés, no concelho de Oeiras, Afonso de Carvalho, empregado num restaurante, encontrava-se no estabelecimento quando, pelas 21:30 começou a chuva forte.

“A água começou a entrar e os balcões frigoríficos, tudo o que era vitrines, tombou logo tudo, partiram os vidros, está tudo partido no chão. A nossa sorte foi termos subido para o primeiro andar, ali ficámos, só por volta das 03:30, 03:45, é que os bombeiros nos tiraram de lá”, relatou à Lusa.

Também neste caso, as arcas frigoríficas estavam carregadas e os prejuízos, embora seja cedo para saber em concreto, “devem ser enormes”, disse Afonso de Carvalho.

Na mesma zona, a vitrine de uma clínica dentária partiu-se com a força da água, sendo possível ver da rua a zona da receção completamente destruída.

“Os estragos são bastantes, temos aqui a entrada com os vidros partidos e a receção totalmente destruída, temos o piso -1 totalmente alagado, ainda não conseguimos entrar lá”, disse à Lusa o técnico de manutenção Joaquim Alves.

“A força da água foi tanta que conseguiu partir a montra, um vidro grosso”, acrescentou, dizendo, porém, ter esperança de conseguir reabrir a clínica na segunda-feira.

Em Algés, há uma vítima mortal a registar. Trata-se de uma mulher, que residia, com o marido, na cave de um edifício. O marido foi salvo por vizinhos, mas a mulher não resistiu. 

A chuva que caiu na última noite atingiu os 80 milímetros, cerca de 63% do valor esperado para o mês de dezembro, segundo uma meteorologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Mais de uma centena de pessoas tiveram que sair temporariamente das suas casas na sequência das fortes chuvas de quarta-feira, que atingiram sobretudo os distritos de Lisboa e Setúbal, informou a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil.

22 pessoas obrigadas a sair de casa em Loures

Vinte e duas pessoas ficaram desalojadas no concelho de Loures devido aos efeitos do mau tempo, indicou hoje a Câmara Municipal, dando conta da existência de 160 ocorrências no município.

“A forte chuva das últimas horas, verificada em toda a região de Lisboa, originou, no concelho de Loures, cerca de 160 ocorrências”, escreveu a autarquia numa publicação na sua página de ‘Facebook’ às 08:45, indicando que a maior parte das situações se deveu a deslizamentos de terras, quedas de muros e de árvores, e inundações e cheias.

Na sequência destes episódios, 22 pessoas tiveram de sair de casa e seis foram temporariamente acolhidas numa “zona de concentração de apoio à população” criada no Pavilhão Paz e Amizade, em Loures.

O mau tempo provocou o condicionamento e corte de algumas estradas nacionais (EN), com as autoridades locais atentas às situações da EN115 (entre o nó de A-das-Lebres e a Rotunda das Oliveiras), da EN8 (entre a Flamenga e a Ponte de Frielas), da EN250 (na zona de Frielas), da EN374 (em Montachique), e ainda da Rua Comandante Ramiro Correia (que liga Frielas a Unhos).

No terreno, estiveram cerca de 200 elementos, entre bombeiros, forças de segurança e meios das autarquias, apoiados por 75 veículos, informou ainda a Câmara de Loures na publicação.

Esquadra da PSP na Póvoa de Santo Adrião inoperacional

A esquadra de trânsito da PSP na Póvoa de Santo Adrião, concelho de Odivelas, ficou inoperacional e várias lojas e habitações na freguesia foram inundadas, além de 50 viaturas que foram arrastadas, segundo o presidente da Junta de Freguesia.

Rogério Breia, presidente da Junta de Freguesia de Olival Basto/Póvoa de Santo Adrião, disse à agência Lusa que as inundações causadas pelas fortes chuvadas que atingiram a Grande Lisboa no final da tarde de quarta-feira e madrugada de quinta-feira provocaram “avultados prejuízos” na zona.

Um dos mais significativos registou-se na esquadra de trânsito da PSP, que foi inundada e o seu interior destruído, incluindo material informático e até as roupas dos agentes.

“Esta esquadra esteve a funcionar até às 03:00 de hoje nas instalações da Junta de Freguesia, pois não tinha condições para funcionar”, disse o autarca.

Rogério Breia adiantou que, face à destruição, a esquadra deverá ficar inoperacional durante algum tempo, o que lamentou.

O edil referiu ainda que existem vários estabelecimentos comerciais inundados, que estão agora a proceder à limpeza, bem como várias habitações, que no entanto não obrigou ao realojamento dos habitantes.

A força das águas arrastou cerca de 50 carros, alguns dos quais ainda permanecem no meio das estradas, bem como caixotes de lixo e detritos vários.

A Estrada Nacional nº8, que serve concelhos como Odivelas, Loures e Lisboa, está “praticamente intransitável”, devido à presença de lama, lixo e caixotes.

“Isto está o caos. Temos muito trabalho pela frente”, adiantou.

Distrito de Setúbal com 100 ocorrências e 16 pessoas retiradas de casa

Um total de 100 ocorrências relacionadas com o mau tempo foi registado no distrito de Setúbal, na noite de quarta-feira e madrugada de quinta, com a retirada de 16 pessoas das suas casas, revelou a Proteção Civil.

Em declarações à agência Lusa, fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Setúbal, explicou hoje que as ocorrências derivadas da chuva forte que atingiu o distrito começaram “por volta das 21:00” de quarta-feira e duraram, sobretudo, “até às 03:00 ou 04:00 desta madrugada”, estando “a situação mais calma agora”.

A maioria das situações registadas pela Proteção Civil foi “inundações na via pública, em algumas habitações e carros, quedas de árvores e de estruturas e limpezas de vias”, disse.

Os concelhos mais afetados foram os de Setúbal, Palmela e Seixal, mas “as duas situações mais graves aconteceram no concelho de Almada, uma na Costa da Caparica e outra na freguesia de Laranjeira e Feijó”, segundo o CDOS.

“Na Costa da Caparica, houve necessidade de resgatar seis pessoas de uma casa que estava a ser inundada”, enquanto, na outra freguesia, “foi preciso retirar temporariamente 10 pessoas de uma vivenda”, também devido a inundação, precisou a fonte.

Estas 16 pessoas “foram deslocadas temporariamente para outros locais, a cargo da Proteção Civil Municipal de Almada, e, quando a situação estiver resolvida, ou seja, quando as casas já não tiverem água e forem limpas, já poderão voltar às residências”, explicou a fonte do CDOS, frisando que não houve qualquer ferido.

No distrito de Setúbal, foram também “47 pessoas resgatadas de veículos automóveis que estavam a ser arrastados ou começavam a ficar submersos”.

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