Reduzir o consumo de carne ajuda no combate às alterações climáticas, prova estudo

14 jan 2022, 11:57
Carne

Consumir menos carne nos países ricos reduziria em 60% emissões agrícolas

Um estudo divulgado pela revista científica “Nature Foods”, publicado esta semana, revelou que consumir menos carne e produtos lácteos nos países mais ricos do mundo ajudaria a reduzir em mais de 60% as emissões agrícolas. Para além desta redução, o menor consumo iria também ajudar a melhorar a saúde da população.

"Se reduzirmos o consumo de carne também se 'libertam' terras para outras culturas, o que aliviaria muito os ecossistemas e melhoraria a segurança alimentar em todo o mundo", disse Martin Bruckner, professor da Universidade de Economia de Viena e um dos autores do estudo, citado pela agência Efe.

Martin Bruckner salientou ainda que essas “terras libertadas” poderiam capturar cerca de 100 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), o que ajudaria a limitar o aquecimento do planeta a 1,5 graus celsius em relação à época pré-industrial. Esta é uma das metas do Acordo de Paris (2015) sobre o clima e reafirmada na última cimeira da ONU sobre aquecimento global, em Glasgow, no final do ano passado.

Dieta saudável com menos produtos animais

O estudo "A mudança da dieta nas nações ricas pode levar a um duplo benefício climático" analisa o impacto ambiental da dieta saudável em 54 países com elevados rendimentos. A dieta baseia-se especialmente em vegetais e num menor consumo de produtos animais, açúcares e gorduras saturadas.

Perante a realidade de que a produção de verduras e hortícolas também desempenha um papel no aumento do aquecimento global, os investigadores propõem várias estratégias para a tornar menos prejudicial para o ambiente.

"A forma mais óbvia e simples de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa é reduzir as principais fontes, nomeadamente a criação de animais (particularmente gado bovino), a produção de arroz e a alteração do uso do solo”, disse Martin Bruckner.

De acordo com o estudo, se os países mais ricos reduzissem o consumo de carne, a terra de cultivo poderia voltar ao seu estado natural.

No entanto, para Martin Bruckner, a eficácia das medidas, bem como os resultados da investigação, são limitados pelas atuais políticas agrícolas da União Europeia.

"O pré-requisito para tal é que as áreas libertadas não sejam utilizadas para outros fins, como a produção de bens de exportação ou outras matérias-primas agrícolas, o que é bastante improvável", lamentou.

Países exportadores precisam de outras fontes de rendimento

Segundo o estudo, a União Europeia é o maior exportador mundial de carne de porco e de produtos de carne de porco, sendo que só a Alemanha, a Espanha e a França são responsáveis por metade desta produção.

Caso estes países não reduzam a produção e reconheçam com “honestidade” a gravidade da situação, "o mundo será incapaz de limitar o aquecimento global a 1,5 graus", advertiu o responsável.

"Ou os países ocidentais reduzem o consumo de carne de forma controlada ou as alterações climáticas irão, mais cedo ou mais tarde, reduzir a produção global de alimentos e forçar o mundo inteiro a reduzir o seu consumo", acrescenta Bruckner.

O estudo explica ainda que a mudança nas dietas, requer uma abordagem conjunta às políticas de reforma agrária e medidas climáticas.

Segundo a investigação, estas políticas devem considerar também novas fontes de rendimento para os países exportadores de carne, como o Brasil ou a Argentina que, de acordo com Martin Bruckner, “terão de encontrar outras fontes de rendimento para os seus produtores agrícolas, que nas últimas décadas cresceram rapidamente e destruíram grande parte dos ecossistemas, como a Amazónia ou o Cerrado”.

"Evitar uma catástrofe climática exigirá mudanças nos nossos estilos de vida e economias, mais mudanças do que comprar produtos locais e colocar painéis solares nos telhados dos edifícios", disse.

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