Eurodeputada Marta Temido diz que perdeu a confiança nas instituições europeias. "Estão demasiado preocupadas com os interesses comerciais"

Henrique Magalhães Claudino , Corrigida às 20:44
21 jun, 17:15
Marta Temido ouvida na comissão parlamentar de inquérito ao caso das gémeas (Tiago Petinga/Lusa)

Num debate com outros eurodeputados portugueses, a socialista sublinhou que não acredita que a União Europeia seja capaz de agir em prol de um cessar-fogo em Gaza e criticou Von der Leyen por ter apoiado o ataque de Israel ao Irão. "Comprometeu tudo aquilo que é a esperança de uma geração inteira de jovens"

Aconteceu mesmo nos minutos finais de um debate com vários eurodeputados portugueses. Marta Temido, questionada sobre o que a União Europeia pode fazer para travar a violência em Gaza, sublinhou que já não acredita nas instituições europeias. "Eu só acredito no poder da sociedade civil", apontou durante a intervenção. "Lamento imenso dizer-lhe, mas no poder das instituições europeias, neste momento, eu não acredito". 

A eurodeputada, eleita para o Parlamento Europeu há cerca de um ano, sublinhou que o único caminho para atingir um cessar-fogo em Gaza, entre o Hamas e Israel, é através das manifestações populares. "Acredito que as pessoas que vão para a rua têm de influenciar as instituições europeias". É esse, afirmou, o único "caminho possível" para as instituições europeias "perceberem que a população, designadamente os jovens, não se revê nesta Europa".

As instituições europeias, garantiu, "por si só, não mudam um milímetro". "Estão demasiado preocupadas com os interesses comerciais, estratégicos, de defesa". E "nada preocupados com aquilo que são problemas gravíssimos, como o genocídio a que estamos a assistir". 

Numa intervenção anterior no mesmo debate, transmitido esta quinta-feira à noite pela RTP, também criticou as palavras da Presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, que, no discurso de abertura da cimeira dos G7, sublinhou que Israel tem "o direito de se defender" face à ameaça nuclear do Irão, um país que é "a principal fonte de instabilidade regional". "Isto causou-me uma tristeza imensa", referiu Temido, acrescentando que as palavras de Von der Leyen comprometeram "tudo aquilo que é a esperança de uma geração inteira de jovens que olha para a UE e não aceita uma UE que é esta que estamos a ter hoje". 

Na visão da eurodeputada socialista, a União Europeia, neste momento, é uma instituição "onde no confronto entre interesses e valores, ganham os interesses comerciais, a manutenção do status quo político e ganham os interesses das ligações". "E isso é perfeitamente inaceitável e causador de uma frustração brutal em tudo aquilo que é a democracia". "A mim, isso deixa-me profundamente preocupada". 

As críticas feitas pela eurodeputada socialista à posição tomada por Von der Leyen não são solitárias. Na verdade, segundo avançou a Euronews esta semana, a decisão da presidente da Comissão Europeia em apoiar a decisão de Israel de levar a cabo ataques de grande escala contra o Irão aconteceu numa altura em que Bruxelas estava dividida sobre se deveria posicionar-se ao lado de Netanyahu. 

Entretanto, a chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, reafirmou a posição oficial do bloco europeu a favor de uma resolução diplomática para o conflito entre Israel e o Irão e voltou a apelar a todas as partes para que “respeitem o direito internacional e contribuam para desescalar a situação”.
 

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