Marta Temido terá ligado a diretores de serviços de hospitais a pedir para que cancelassem férias a médicos

12 ago 2022, 17:50
Enfermeiros

Contactado pela CNN Portugal, o presidente do SIM, Jorge Roque da Cunha, confirma que o SIM recebeu denúncias por parte de diretores de serviços hospitalares da ARS Lisboa e Vale do Tejo, sem adiantar nomes para "não pôr em causa" quem apresentou as denúncias

A ministra da Saúde, Marta Temido, terá telefonado a diretores de serviço de hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) a questioná-los por não terem suspendido as férias dos médicos para colmatar as falhas nas escalas que têm provocado encerramentos de serviços em todo o país.

A denúncia foi feita pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM), que, num comunicado divulgado esta quarta-feira, intitulado "Assim não vai lá, Sr.ª Doutora" e dirigido a Marta Temido, acusa a ministra de "fazer telefonemas a directores de serviço a questioná-los por não terem suspendido as férias dos médicos em resposta à falta de recursos agravada por abandonos em massa do SNS ou substituir directores clínicos na esperança que sejam tirados coelhos da cartola".

Contactado pela CNN Portugal, o presidente do SIM, Jorge Roque da Cunha, confirma que o SIM recebeu denúncias por parte de diretores de serviços hospitalares da ARS Lisboa e Vale do Tejo, sem adiantar nomes para "não pôr em causa" quem apresentou as denúncias.

O Observador cita um dos diretores de serviço da ARS Lisboa e Vale do Tejo que confirma a informação, pedindo anonimato. Em declarações ao jornal online, o diretor conta que a ministra da Saúde lhe ligou diretamente a perguntar se havia a possibilidade de "melhorar a escala" que tinha sido divulgada. O responsável conta que "foi um telefonema desagradável" e que Marta Temido se mostrava "exaltada" e "em pânico", tendo, inclusive, responsabilizado o diretor pela falta de médicos nas escalas. 

O diretor de serviço disse ter recusado o cancelamento de férias a profissionais de saúde, até porque em setembro o cenário "é pior", pelo que aceitar a sugestão da ministra poderia mesmo "agravar a situação" e levar os médicos a recusarem horas extra, que são fundamentais para a escala.

"Com o número de médicos que temos, é impossível ter as escalas completas", lamenta, acrescentando que foi precisamente essa a mensagem que transmitiu à ministra Marta Temido, além de um alerta de que o hospital em causa está "muito perto do limite".

O SIM reitera que a solução para a falta de médicos nas urgências no geral passa por "captar e manter médicos especialistas e recém-especialistas no SNS" e garantir aos médicos "vencimentos mensais condignos com a especificidade, o risco profissional, a responsabilidade e a penosidade do trabalho médico, nivelando-os com os seus colegas europeus".

Em declarações à CNN Portugal, Jorge Roque da Cunha lembra que os sindicatos continuam a aguardar a receção do protocolo negocial acordado há 15 dias e a marcação de datas negociais.

"Temos os sindicatos cheios de vontade de resolver o problema, e o Ministério da Saúde desorientado, sem qualquer tipo de vontade de concretização em relação à vontade que foi expressa na assinatura desse protocolo", argumenta.

Fonte do Hospital Santa Maria, em Lisboa, disse não ter conhecimento de telefonemas feitos pela ministra da Saúde aos diretores de serviços do hospital.

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