O difícil resgate de Rayan, o menino que luta pela vida a 32 metros de profundidade

4 fev 2022, 23:32

Criança de cinco anos estava a brincar quando caiu num poço. Missão de socorro enfrenta vários desafios técnicos

“No preciso momento em que tirei os olhos de cima dele, caiu. Não tenho conseguido dormir”. Foram estas as primeiras palavras de Khalid Agoram, pai do pequeno Rayan, após o acontecimento trágico que pôs Marrocos e o mundo de coração nas mãos.

Na passada terça-feira, o menino de apenas cinco anos estava a brincar junto do pai enquanto este reparava um poço na pequena aldeia de Ighran, o mesmo para onde Rayan caiu para uma profundidade de 32 metros, sem que ninguém tivesse dado por isso.

“Toda a nossa família saiu à procura dele. Só passado algum tempo é que nos apercebemos que ele tinha caído para o poço”, contou a mãe de Rayan, Wassima Kharchich, aos média locais, visivelmente emocionada.

“Rezo e peço a Deus que ele saia daquele poço vivo e em segurança. Por favor, Deus, alivia a minha dor e a dele, que está naquele buraco de pó”, implorou.

As autoridades foram de imediato chamadas ao local, mas desde cedo que os socorristas perceberam que o resgate seria difícil, uma vez que Rayan se encontrava a 32 metros de profundidade. Retirá-lo pelo poço revelou-se também inviável, pois este tem secções com um diâmetro reduzido.

A solução para tirar Rayan

“O problema deste resgate é que o diâmetro do buraco é muito reduzido, cerca de 25 centímetros. Aos 28 metros de profundidade era tão estreito que não o conseguíamos alcançar”, contou Mohamed Yassin El Quahabi, presidente da Associação de Montanhismo e Espeleologia de Chefchaouen, que tem colaborado na missão de salvamento.

Como solução para chegar ao jovem, as autoridades optaram por escavar um buraco paralelo, com recurso a cinco bulldozers. Operação também bastante difícil, dado que, de meia em meia hora, as escavações eram interrompidas para que uma equipa de topógrafos fizesse medições para assegurar de que haveria condições para estas continuarem sem o risco de derrocada.

Na quinta-feira, as equipas de resgate informaram que conseguiram passar água e oxigénio para o rapaz, através de uma corda, tendo também feito descer uma câmara de vigilância, para o monitorizar.

“Consegui comunicar com a criança e perguntei se me conseguia ouvir. Houve uma resposta. Esperei um minuto e vi que ele começou a usar o oxigénio”, contou à imprensa um voluntário do Crescente Vermelho que se encontra no local.

Com o risco de desabamento a aumentar cada vez mais, as autoridades foram obrigadas a mudar de estratégia. Não chegava escavar, ainda que muito lentamente, um buraco paralelo. Para assegurar o sucesso da operação, dada a instabilidade do solo, os socorristas recorreram a manilhas de betão, para que pudesse ser assegurada uma passagem segura para o pequeno Rayan sair do poço.

Para além dos socorristas, estiveram presentes no local um helicóptero da Royal Gendarmerie marroquina, pronto para evacuar o jovem, e ainda uma equipa de médicos do ministério da Saúde do país especializada em reanimação.

“Sem oxigénio, aguentaria apenas alguns minutos vivo”

O correspondente médico da CNN Portugal, Pedro Gomes de Sena, explicou no CNN Fim de Tarde a importância deste abastecimento.

 “Àquela profundidade, a concentração de oxigénio é bastante mais baixa. É o elemento de que o nosso organismo sente mais falta. Se não tivesse oxigénio nenhum, aguentaria apenas alguns minutos vivo”, explicou Gomes de Sena, vincando também a importância da hidratação neste contexto.

“É obrigatório que àquela profundidade e temperatura, que não sabemos bem qual é, vai acabar por acontecer o fenómeno de desidratação. Precisa desse abastecimento constantemente”.

Apesar de também salientar o papel da alimentação, Gomes de Sena afirma que este aspeto não será tão importante, pois o ser humano “aguenta semanas” sem comer. “Se for possível alimentá-la, no entanto, melhor ainda”.

A esperança de um desfecho feliz foi aumentando à medida que a noite foi caindo esta sexta-feira. “Estamos quase lá. Estamos a trabalhar há três dias sem parar e o cansaço está a tomar conta de nós, mas toda a equipa de resgate está a aguentar”, afirmou Abdesalam Makoudi, um dos responsáveis pela operação, citado pela BBC.

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