"Gostam genuinamente um do outro". O próximo líder da NATO sabe como lidar com Trump, mas será capaz de o controlar?

CNN , Jennifer Hansler, Kylie Atwood e Luke McGee
9 jul 2024, 13:00
O antigo primeiro-ministro holandês Mark Rutte, que deverá assumir o cargo de secretário-geral da NATO, é apresentado durante um almoço oficial no Palácio Noordeinde, a 24 de junho, em Haia, Países Baixos. Patrick van Katwijk/Getty Images

Mark Rutte foi formalmente escolhido como o próximo secretário-geral da NATO no final de junho e vai iniciar funções a 1 de outubro

A aliança da NATO prepara-se para celebrar o seu 75.º aniversário na cimeira que se realiza esta semana em Washington, mas também se prepara para receber o seu primeiro novo líder numa década: um homem com experiência em lidar com o antigo presidente Donald Trump que muitos esperam que possa manter a aliança unificada face a um turbilhão de desafios, incluindo uma eventual nova presidência de Trump.

O antigo primeiro-ministro holandês Mark Rutte foi formalmente escolhido como o próximo secretário-geral da NATO no final de junho e vai iniciar funções a 1 de outubro. Rutte substitui o antigo chefe da NATO, Jens Stoltenberg, que lidera a aliança desde 2014.

Diplomatas e responsáveis que falaram com a CNN afirmaram que Rutte é visto como um transatlanticista convicto e um construtor de consensos.

"É realmente um responsável político experiente, e isso é essencial para manter a coesão da aliança", afirmou um responsável europeu.

Rutte também é visto como alguém que pode trabalhar com quem quer que seja eleito presidente dos EUA, afirmaram os responsáveis à CNN, e alguns esperam que a relação passada de Rutte com Trump, de quando lideravam os seus respetivos países, possa dissuadir o antigo presidente de minar a Aliança se for reeleito.

O antigo presidente criticou publicamente a Aliança durante o seu primeiro mandato e voltou a fazê-lo recentemente na campanha eleitoral, chegando mesmo a sugerir que a Rússia "faça o que quiser" aos membros que não cumpram as metas de despesa com a defesa. A posição de Trump durante a campanha, segundo a qual a sua adesão à Aliança seria condicional, suscitou preocupações na comunidade internacional.

"Trump gosta de pessoas que o contrariem, especialmente se o fizerem de uma forma muito respeitosa", afirmou Pete Hoekstra, embaixador de Trump nos Países Baixos.

Numa reunião em que Trump falava do "défice comercial", recorda Hoekstra, Rutte respondeu, "com um sorriso na cara", que era de facto necessário abordar o défice comercial entre os EUA e os Países Baixos.

"Foi uma forma muito educada e ligeiramente humorística de lidar com Trump, e Trump apreciou-o", recordou Hoekstra à CNN. "Não houve nada de 'seu idiota' ou algo do género. Foi apenas: 'Touché, Rutte, apanhaste-me'".

Ainda assim, só porque o ex-presidente e Rutte "têm uma boa relação de trabalho (...) porque gostam genuinamente um do outro", isso não significa que Trump será dissuadido da "sua agenda", afirmou Hoekstra.

O ex-embaixador argumentou que "Trump nunca foi contra a NATO", mas sim "contra uma NATO que os europeus não apoiavam", referindo-se ao facto de muitos países europeus, na altura, não contribuírem com 2% do PIB para a defesa.

"Não é um super-herói"

Um diplomata europeu declarou à CNN que Rutte "não é certamente um super-herói", salientando que "podemos tentar agradar a Trump mas não o enganar, por isso, em última análise, o que importa com a NATO é a ação real e, mais importante, o dinheiro real".

Um alto funcionário da NATO disse que "muitos aliados estão preocupados" com a perspetiva de uma reeleição de Trump, "mas a história é positiva". Vinte e quatro dos 32 aliados estão a cumprir o objetivo de 2% de despesa; seis estão a gastar mais de 3%.

"Ainda não chegámos lá, mas é melhor do que quando Trump saiu", declarou o responsável à CNN.

Rutte não foi apenas aplaudido para o cargo de secretário-geral da NATO por causa da sua experiência com Trump. Foi visto como alguém que poderia obter o apoio de todos os 32 membros da aliança, estabelecendo um equilíbrio entre a Europa Oriental, mais agressiva, e a Europa Ocidental, mais frugal, em parte devido à sua posição mais "intermédia" sobre a guerra na Ucrânia.

Os países membros da NATO esperam que Rutte mantenha a unidade da aliança à medida que a guerra se arrasta - com poucos sinais de uma vitória diplomática ou militar rápida para Kiev - bem como em questões como a luta contra a ameaça da China, o aumento da produção de armas e a inovação no domínio cibernético.

Diplomatas e responsáveis que falaram com a CNN referiram o facto de Rutte ter sido o primeiro-ministro mais antigo dos Países Baixos - cargo que deixou no início de julho, após 14 anos.

"Teve de gerir vários governos de coligação na democracia parlamentar do seu país, o que não é certamente uma tarefa fácil", afirmou um responsável norte-americano.

Um antigo diplomata norte-americano descreveu-o como um "político muito bom (que) compreende a construção de coligações e consensos, que é o que vai estar em causa".

Rutte foi amplamente considerado como o favorito para suceder a Stoltenberg este ano, e foi rapidamente apoiado pelos EUA.

De acordo com o responsável norte-americano, o presidente Joe Biden chegou mesmo a encorajar Rutte a candidatar-se a secretário-geral há cerca de um ano e meio, quando Stoltenberg estava pronto para se demitir, mas Rutte manifestou que não estava interessado nessa altura.

Biden gosta de Rutte pessoalmente, dão-se bem e o presidente dos EUA vê que partilham os mesmos valores, acrescentou o responsável à CNN. Os dois vêem o desafio da China de forma semelhante, e Biden ficou "muito impressionado com o seu empenho em apoiar a Ucrânia desde o início" e com a sua compreensão imediata dos riscos da guerra na Ucrânia.

"Rutte tem sido muito realista entre os líderes europeus há muito tempo sobre quem é exatamente Putin", disse o responsável.

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