Depois do exclusivo da CNN sobre o passado do candidato republicano a governador da Carolina do Norte num site pornográfico, o Politico acaba de noticiar mais informações sobre o polémico historial de Robinson na internet. Republicanos temem que o caso afete a candidatura de Trump à Casa Branca
Estão a aumentar as pressões sobre Mark Robinson para desistir da corrida a governador da Carolina do Norte ou, em contrapartida, apresentar provas de que não foi ele o autor de comentários inflamatórios e polémicos em sites de pornografia há mais de uma década.
As primeiras revelações sobre a atividade sexual online do candidato a governador surgiram na quinta-feira passada, quando a CNN Internacional noticiou em exclusivo que, há mais de uma década, o político republicano era muito ativo no site pornográfico Nude Africa, onde chegou a escrever “sou um NAZI negro!”, se autointitulou de "perv" (pervertido) e interagiu com dezenas de vídeos de pornografia transgénero, escrevendo que adora “ver porno de travestis com raparigas”.
Apesar da sua retórica antitransgénero ao longo da campanha, Robinson terá consumido muita pornografia transgénero, publicando dezenas de comentários de "natureza sexual gratuita e lasciva" em vários vídeos do Nude Africa, indicava a CNN na semana passada. Os comentários, que precedem a carreira política do atual vice-governador da Carolina do Norte, foram feitos sob o nome de utilizador minisoldr, um pseudónimo frequentemente usado por Robinson na internet, segundo apurou o canal.
Numa primeira reação à notícia, o candidato republicano a governador garantiu que não foi ele o autor dos comentários e que a conta usada no site não lhe pertence, mas isso não convenceu a sua equipa de campanha.
No domingo, os seus principais conselheiros e quase todos os funcionários de campanha apresentaram demissão em bloco, já depois de o site Politico ter noticiado que o conservador também manteve uma conta no site Ashley Madison, um serviço online muito famoso nos EUA para pessoas casadas que procuram ter casos extraconjugais. Esta segunda-feira, o Politico divulgou novos dados que parecem confirmar a autoria dos comentários e publicações do candidato a governador.
O jornal apurou uma série de dados que traçam uma ligação direta entre o endereço de email de Robinson e múltiplos sites que foram alvo de ciberataques em anos recentes, dados esses que foram posteriormente partilhados na dark web e que mostram que o endereço de IP da alegada conta do republicano no Nude Africa localiza-se na região de Piedmont Triad, a zona da Carolina do Norte onde Robinson vivia à data.
Os ficheiros foram partilhados com o Politico por Megan Squire, uma cientista informática e vice-diretora do departamento de análise de dados do Southern Poverty Law Center, um grupo sem fins lucrativos de aconselhamento jurídico que não assume uma posição quanto à candidatura de Robinson a governador mas que diz que tem estado a acompanhar as “declarações extremistas e odiosas” do republicano “enquanto atual vice-governador [da Carolina do Norte] e na sua vida anterior enquanto influenciador”.
A conta atribuída a Robinson usada no fórum pornográfico foi divulgada após o roubo de dados e metadados do Wife Lovers, site-mãe do Nude Africa, em 2018, e tem uma morada de IP sediada em Winston-Salem, uma cidade próxima da casa de Robinson em Greensboro.
O mesmo endereço IP também surge listado nos dados de utilizadores roubados do site de encontros Fling, novamente por uma conta registada com o email de Robinson. Os ficheiros vazados mostram ainda que a conta de email do republicano esteve registada nos sites de encontros Adult Friend Finder e Mate 1 e no entretanto extinto Lords of Porno. Nada aponta para atividade recente do candidato em qualquer desses sites, sendo que os dados do Adult Friend Finder mostram que a última visita da sua conta naquele website foi a 31 de dezembro de 2013.
O Politico apurou ainda que a password usada no email de Mark Robinson é praticamente idêntica à password usada por outras três contas distintas registadas com o email da sua mulher em websites não pornográficos, incluindo o agora extinto DatPiff, para criar mitxtapes de hip hop.
Confrontado pela CNN na semana passada, Robinson negou qualquer envolvimento com o site Nude Africa e disse que “as coisas que as pessoas conseguem fazer hoje em dia na internet são incríveis”. Contactado pelo Politico, Mike Lonergan, porta-voz do candidato, manteve o desmentido, assegurando que o atual vice-governador da Carolina do Norte “nunca criou nem usou contas em qualquer destes sites” e que pretende contratar advogados para investigar o assunto.
Anteriormente, e face a pressões semelhantes quanto a outras informações do seu passado, como o facto de ter levado a mulher a fazer um aborto há algumas décadas e suspeitas de má gestão financeira, Robinson assumiu esses erros – mas desta vez continua a manter-se firme no desmentido sobre as novas alegações.
Os republicanos da Carolina do Norte estão a exigir a Robinson que apresente provas que sustentem a sua versão de que está a ser alvo de uma campanha de difamação. Temem que as revelações tenham um impacto negativo na candidatura de Donald Trump à Casa Branca, numa altura em que as sondagens mais recentes no estado (conduzidas antes de estas notícias terem surgido) mostram que a vantagem do republicano sobre Kamala Harris é diminuta.
“Se as notícias sobre Mark Robinson são uma total fabricação dos media, ele tem de intentar imediatamente uma ação judicial”, defendeu na sexta-feira o senador Thom Tillis, ecoando uma posição assumida por Ted Budd, também senador republicano pelo mesmo estado.
Num comunicado enviado ao Politico, Jason Simmons, líder do Partido Republicano da Carolina do Norte, disse que as acusações que Robinson enfrenta são “profundamente perturbadoras” e defendeu que o vice-governador “tem de se explicar ao povo da Carolina do Norte”.
Até esta terça-feira, Robinson ainda não tinha intentado qualquer ação judicial relacionada com as alegações sobre as suas atividades online. Num comício de campanha realizado esta segunda-feira, e citado pela estação televisiva local WRAL, o republicano disse que está a considerar “recorrer a um advogado para levar a CNN a tribunal pelo que nos fizeram”. Segundo o mesmo canal, o candidato rejeitou ofertas feitas por apoiantes seus para o pôr em contacto com especialistas em tecnologia para o ajudarem a investigar a origem das mensagens.
Entretanto, Donald Trump, que deu o seu apoio formal à candidatura de Robinson nas primárias do partido no início do ano, continua em silêncio sobre as revelações, que põem a descoberto contradições entre o passado do vice-governador e a sua persona política, que se baseia numa retórica anti-LGBT, antitransgénero e antiaborto. No sábado, num comício de campanha em Wilmington, na Carolina do Norte, Donald Trump não fez qualquer menção ao candidato a governador, nem este apareceu no evento de campanha do ex-presidente.