Mario Draghi deixa um sério aviso a países como Portugal para conseguirem competir no mundo

30 set, 17:59
Mario Draghi antigo ministro das Finanças de Itália discursa no Parlamento Europeu em Estrasburgo (Teresa Suarez/EPA)

Para o antigo presidente do BCE, é necessária uma estratégia coordenada a nível europeu, que evite a proliferação de múltiplas políticas nacionais "pequenas" e "descoordenadas"

Os países da União Europeia (UE) são demasiado pequenos para enfrentar os desafios globais sozinhos. A ideia é de Mario Draghi, antigo presidente do Banco Central Europeu, que defendeu a necessidade de uma maior integração do mercado único europeu. O responsável italiano, encarregado pela Comissão Europeia de reescrever um relatório sobre a competitividade da UE, destacou esta posição durante um seminário organizado pelo grupo de reflexão Bruegel, na segunda-feira.

Segundo Draghi, os países da UE não conseguem, de forma isolada, competir com potências como a China e os Estados Unidos. É por isso fundamental que exista um mercado único mais integrado, o que permitiria a criação de empresas pan-europeias com escala suficiente para atuar de forma global.

Draghi sublinhou que o maior desafio para a União Europeia é promover a integração dos mercados. “Se o objetivo é aumentar a produtividade, a escala em muitos dos setores que analisámos tornou-se fundamental. Essa escala só é possível através de mercados únicos integrados”, explicou.

O antigo presidente do BCE apontou que as barreiras nacionais e as diferentes regulamentações entre países da UE dificultam a criação dessa escala, colocando as empresas europeias em desvantagem face à concorrência da China e dos EUA, que são impulsionadas por inovação e generosos subsídios. “Neste novo contexto geopolítico, os países europeus, sozinhos, são demasiado pequenos para enfrentar os desafios", afirmou.

Para Draghi, é necessária uma estratégia coordenada a nível europeu, que evite a proliferação de múltiplas políticas nacionais "pequenas" e "descoordenadas". Mas, acrescenta ainda que os Estados-membros, ao focarem-se em identificar individualmente as tecnologias estratégicas e em promover campeões nacionais, estão a prejudicar o desenvolvimento coletivo dos pontos fortes da Europa.

Um dos principais exemplos citados, segundo a Reuters, foi o setor das telecomunicações. Mario Draghi defende que a União Europeia não deveria contar com os 35 operadores de redes móveis e 351 operadores virtuais que têm pouca base de investimento. Em alternativa, deveria apostar num número mais reduzido de grandes concorrentes pan-europeus, capazes de competir de forma mais agressiva no mercado interno. 

Segundo o também ex-primeiro-ministro de Itália, essa multiplicidade de operadores levou a um nível de investimento inferior ao dos EUA, num setor que, com o avanço da Inteligência Artificial, terá um papel ainda mais importante no futuro.

Draghi concluiu destacando a necessidade de preservar a concorrência, ao mesmo tempo que alertou que isso não deve dificultar o aumento de escala das empresas. “Devemos harmonizar a atribuição de espetro e a regulamentação nacional. Precisamos realmente de criar um mercado europeu de telecomunicações”, afirmou.

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