No regresso à TVI, Mário Crespo analisa a campanha eleitoral nos Estados Unidos, alertando para a possibilidade de Donald Trump assumir novamente a presidência. "Provavelmente o que a América decide é se quer democracia ou autocracia"
Mário Crespo inaugurou esta segunda-feira o seu espaço de comentário no Jornal Nacional da TVI, onde analisou o caminho que tem vindo a ser percorrido por Kamala Harris e Donald Trump com vista às eleições de novembro. Eleições que o comentador define como a “decisão entre democracia e autocracia”.
O jornalista, que foi durante muitos anos correspondente internacional em Washington, começa por referir que Trump, na última eleição, “perdeu por uma fração de votos, mas uma fração mínima em termos numéricos”. “Claramente, estamos a falar de um universo eleitoral de cento e tal milhões de votantes numa população de 303 milhões.”
De facto, acrescenta, as eleições nos EUA tendem a não ter muitos votos comparativamente com a população norte-americana elegível para o escrutínio. São, explica, “menos de metade”. Além disso, o modelo eleitoral que segue o colégio eleitoral e não o voto popular “tem sido contestado constantemente”. “Há tentativas de revisão constitucional para o alterar, mas são muitíssimo conservadores e vai ser difícil chegar a uma conclusão qualquer.”
Do confronto que se espera nos EUA em novembro, destaca o comentador, sairá uma decisão essencial. “Tenho a impressão que é mais do que propriamente uma questão clubística, unipessoal de favorecer este ou aquele candidato. Provavelmente o que a América decide é se quer democracia ou quer autocracia”, sublinha.
E relativamente a isso, aponta, “Trump não enganou ninguém”. “Inclusive ele tem um daqueles depoimentos fantásticos que faz, que diz que se votarem em mim já não precisam de votar mais.” Ora, diz, “isto é uma situação particularmente melindrosa, sobretudo se nós olharmos para a Europa com os olhos do relatório Draghi”.
“Temos um PIB neste momento, em termos do conjunto europeu, da Europa Ocidental, que é dois terços daquele que a América tem, o que quer dizer que perdemos competitividade”, refere, citando o relatório de Mario Draghi sobre o estado da União Europeia publicado no início do mês. “Esta Europa, com dificuldades de dinheiro, está rodeada por ditaduras e por autocracias”, “ao termos a hipótese de ter do outro lado do Atlântico um parceiro comercial governado numa distopia em que os direitos são uma ficção é preocupante”.
No Jornal Nacional, Mário Crespo analisou ainda o livro publicado pelo número 2 de Donald Trump, J.D. Vance - O Elogio do Pacóvio, tradução portuguesa de Hillbilly Elegy - no qual o republicano descreve a sua infância. O comentador destaca uma cena em particular no livro no qual a avó de Vance lhe diz que na vida só pode ser “o bom exterminador, o mau exterminador, ou o exterminador neutro. E tu queres ser um bom exterminador”.