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"Olhou cinco segundos para a minha cara: não viu nenhuma pressão psicológica, pois não?" Mário Centeno explicou assim como não pressionou psicologicamente o seu antecessor

21 nov 2022, 18:05

Governador do Banco de Portugal diz ainda que procurou pela palavra "Centeno" no livro "O Governador" - que relata episódios de Carlos Costa nas funções de antecessor do próprio Mário Centeno - e afirma que o que lá encontrou foi "desapontante". "Tinha outra ideia de como se conta a verdade"

O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, salientou esta segunda-feira em declarações na CNN Portugal International Summit que nunca se sentiu pressionado nem pressionou alguém no exercício das suas funções. As declarações surgem no âmbito das polémicas relacionadas com o livro 'O Governador', no qual Carlos Costa, antigo governador do Banco de Portugal, defende ter sofrido pressões por parte de António Costa no caso Banif.

"Eu nunca me senti pressionado para fazer nada daquilo que são as minhas obrigações. Nem enquanto ministro das Finanças, nem enquanto governador. Eu nunca pressionei ninguém, mesmo quando estou no exercício das minhas funções", afirmou. 

Questionado sobre se leu o livro em questão, Mário Centeno foi perentório: “Não li o livro todo, li o livro em torno da palavra Centeno. Encontrei coisas desapontantes mas não quero falar sobre isso. Tinha outra ideia de como se conta a verdade”.

Carlos Costa também acusa, nesta mesma obra, Mário Centeno, na altura ministro das Finanças, de pressão psicológica. Na resposta a Anselmo Crespo: "Olhou cinco segundos para a minha cara: não viu nenhuma pressão psicológica, pois não?" 

As almofadas estão a desaparecer

Mário Centeno, governador do Banco de Portugal (BdP), defendeu esta segunda-feira que a economia europeia está a enfrentar um conjunto de choques em várias frentes, disse em entrevista conduzida pelo jornalista Anselmo Crespo.

"Os tempos que enfrentamos são de facto desafiantes. Nós temos um conjunto de choques: temos a recuperação do covid, a incerteza da recuperação da China, são tudo choques de oferta. Ou seja, não conseguimos produzir face àquilo que produzíamos antes." 

As declarações surgiram em reação às críticas dirigidas ao Banco Central Europeu (BCE) sobre a forma repentina como as taxas de juro têm subido. No caso europeu, Centeno esclarece que na Europa existe “o conjunto de políticas económicas, monetárias e orçamentais mais equilibrado do mundo", razão pela qual a inflação não teve um impacto tão profundo como nos Estados Unidos.

No entanto, o governador ressalva que “não podemos deixar que a inflação fique instalada” e garante que “quando olhamos para os nossos indicadores isso não está a acontecer”. Neste sentido, assegura que não há necessidade de seguir a política monetária dos EUA em tudo e destaca a “política monetária” europeia.

“Sempre que há uma crise na Europa é uma crise existencial mas desta vez o euro valorizou", defende Centeno. Enquanto os EUA viram o seu mercado de trabalho reduzir-se, sendo que ainda não recuperaram os números pré-pandemia, na Europa “os nossos mercados já começaram a ter números superiores aos do covid”, garante o governador.

"Nós não estamos, nem ninguém prevê, uma deterioração do mercado de trabalho. O risco que corremos hoje é muito parecido com o que tínhamos em fevereiro e para o qual alertei. A inflação está a gastar as almofadas que conseguimos no período pré-covid. Mas estas almofadas não duram sempre e é aqui que o risco aparece. Temos mesmo que inverter esta tendência de crescimento da inflação."

Neste sentido, estando a Zona Euro numa situação de pleno emprego, e sendo que “as nossas economias continuam a mostrar capacidade de gerar emprego”, só resta um objetivo, nomeadamente, a redução da dívida, afirmou o governador do BdP, acrescentando que a política orçamental deve seguir nesse sentido.

Atendendo aos níveis de inflação atuais, Mário Centeno defende também que as decisões sobre os preços têm de ser “avaliadas corretamente, porque têm efeito na economia e no Banco Central Europeu”, pelo que o governador apela ao setor empresarial para considerar isto no momento de tomadas de decisões.

“Os preços internacionais têm previsões de queda para o próximo ano. Alguns até já estão a cair este ano. (...) As decisões sobre preços têm de ser avaliadas corretamente, porque têm efeito na economia e no Banco Central Europeu”, alertou Mário Centeno.

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