Teixeira dos Santos e José Sócrates tentaram fazer as pazes mas "a conversa não correu bem, não foi agradável"

21 jan 2022, 22:37
Teixeira dos Santos

Em entrevista ao Observador, o antigo ministro de José Sócrates diz que vive com o estigma de ter feito parte desse Governo e, sobre a política atual, revela que não teria feito como Centeno, ou seja, deixar o Governo a meio da pandemia

Teixeira dos Santos recordou numa entrevista ao programa “Sob Escuta”, da Rádio Observador, como Sócrates se zangou quando o ex-ministro forçou o pedido de ajuda externa. “Suportei esse custo, a bem do país.” 

Depois de o Governo ter caído, José Sócrates “procurou, de alguma forma, quebrar o esfriamento que tinha ocorrido”. Antes de ir para Paris, o antigo primeiro-ministro convocou um almoço com vários ex-ministros, incluindo Teixeira dos Santos. Para quê? “Para não acabarmos isto zangados”, revelou Teixeira dos Santos ao Observador. “Mas ele foi à sua vida, eu fiquei cá.” 

Quando o antigo primeiro-ministro e agora arguido no caso Marquês regressou, os dois falaram algumas vezes ao telefone. “Ele tinha um programa na televisão, chegou a pedir-me opinião duas ou três vezes sobre a situação do país”, conta Teixeira dos Santos, destacando que a última vez que se encontrou com Sócrates presencialmente foi durante um jantar no Porto da apresentação do livro “A confiança no mundo”, editado em 2013. "Tive uma última conversa ao telefone [com José Sócrates] em outubro de 2013. A conversa não correu bem, não foi agradável e, desde aí, nunca mais falei com ele”, afirma Teixeira dos Santos.

Questionado sobre se ficou surpreendido com os desenvolvimentos gerados pela Operação Marquês, o antigo ministro de Sócrates afirma que sim. “Surpreende porque nunca nada sugeriu, no período em que estive no Governo, qualquer ação do primeiro-ministro daquilo que está em investigação. Nunca vi nenhum sinal.”

Teixeira dos Santos "vai ter de suportar e viver" com o estigma de ter feito parte do Governo Sócrates

Teixeira dos Santos explica ainda que carrega consigo uma espécie de herança negativa por ter trabalhado com José Sócrates. “Não é agradável sentirmos que há uma desconfiança generalizada sobre quem esteve no Governo com ele. Sinto isso e recebo comentários de pessoas mal ou pouco informadas e que me dizem que não presto, sou corrupto, suspeito e mau.” Há, de acordo com o ex-ministro, um preconceito estabelecido: “Vou ter de suportar e viver com isso”.

Ainda assim, não olha para o passado com amargura.  “Estive seis anos num Governo onde fiz o melhor que pude, tive sempre a preocupação de servir bem o país. Não tenho a arrogância de afirmar que tomei sempre boas decisões, mas as más decisões nunca foram com o sentido de beneficiar fosse quem fosse.”

Teixeira dos Santos revela ainda que está de "consciência muito tranquila” e que tem “orgulho de ter feito parte de um Governo deste país”, apesar de “dizerem o que quiserem do primeiro-ministro”.

Diferente de Centeno

O antigo ministro das Finanças critica a transferência de Mário Centeno do Governo para o Banco de Portugal, sublinhando que gostaria de ter saído do Executivo de José Sócrates em 2009 mas entendeu que deveria aguentar a situação até a crise ser ultrapassada. Sobre Mário Centeno, confessa não ter ficado agradado com a ida para o Banco de Portugal, “não tanto por razões de incompatibilidades” mas pela “forma como o processo foi conduzido”. “O antigo ministro deveria ter sido mais discreto sobre a sua vontade de ir, penso que a forma como expressou essa vontade não foi a melhor forma de o fazer”, entendeu.

Teixeira dos Santos deu ainda o seu exemplo para caracterizar a saída do antigo ministro das Finanças de Costa: “Eu gostaria de ter saído do Governo em 2009, depois de ter cumprido um mandato, mas aguentei-me”. "Naquilo que é a minha forma de encarar as situações e olhando para aquilo que eu faria na mesma situação, não abandonaria o cargo de ministro das das Finanças numa situação de dificuldade como aquela que o país se encontrava na pandemia”, concluiu o ex-governante.

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