Já tivemos uma submarinista, já tivemos uma mergulhadora. Agora Portugal tenta avançar para a "modernidade" na Marinha

20 ago, 19:00

As candidaturas estão abertas até ao final de setembro para a primeira fuzileira. As candidatas devem ter entre 18 e 24 anos, nacionalidade portuguesa e pelo menos o 9.º ano de escolaridade, para além de serem submetidas a testes físicos e avaliações psicológicas

Procura-se a primeira mulher fuzileira do país. A Marinha Portuguesa abriu um concurso para integrar mulheres nos fuzileiros - um corpo especial que nunca contou com uma mulher. O concurso está aberto até ao dia 30 de setembro.

"Atualmente, ainda não existe nenhuma mulher na classe de Fuzileiros e é algo que queremos mudar, mas para isso precisamos de ti", apelou a Marinha, nas redes sociais, onde frequentemente divulga os concursos abertos. Em entrevista à TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal), o porta-voz da entidade confirmou a falta de mulheres na categoria.

“Em 2018 tivemos a nossa primeira submarinista, em 2021 a nossa primeira mergulhadora e efetivamente, neste momento, não temos mulheres da classe fuzileiros”, disse o comandante José Sousa Luís. Mas este cenário pode estar prestes a mudar. 

Se há mulheres nestas funções noutros países, como acontece nos EUA, alerta o comandante João Fonseca Ribeiro, não há “razão para pensar que os fuzileiros, os comandos e os paraquedistas não têm a mesma abordagem” em Portugal. “Só posso ficar satisfeito de que a chefia da Marinha tenha tomado uma decisão a esse nível. É uma decisão de modernidade e da forma como hoje as forças desempenham as missões e o recrutamento com igualdade de género”, congratula também o comentador da CNN Portugal.

Apesar de admitir estar “otimista” de que o recrutamento tem tudo para avançar, João Fonseca Ribeiro acredita que este passo possa ter surgido tarde. “Passa-se o mesmo noutros países há vários anos. A preparação da organização das unidades e a vontade de mudar e assumir isso faz parte da mudança. Podemos ter demorado algum tempo a mais e devemos questionar isso à nossa consciência”, reconhece, acrescentando que talvez as próprias organizações não estivessem "preparadas para poder incorporar mulheres".

O porta-voz da Marinha afirmou, no entanto, que já se receberam candidaturas de mulheres aos fuzileiros, mas o percurso não terminou como desejado - daí nunca uma mulher ter chegado efetivamente a integrar a função. “Ao longo destes últimos anos tem havido algumas candidatas mulheres - não com a mesma percentagem comparativamente com o serviço naval ou mergulhadores. Mas tem havido algumas candidatas que acabam por desistir ou não passar nas provas”, revelou.

Tudo porque as provas para fuzileiros são, de acordo com o comandante José Sousa Luís, “diferentes e mais exigentes comparativamente com o serviço naval”.  As candidatas serão submetidas a testes físicos e avaliações psicológicas - tal como os candidatos do sexo masculino. De acordo com o site da Marinha, os testes físicos incluem exercícios como cinco elevações na barra, 30 flexões abdominais num tempo máximo de um minuto, correr 2.400 metros  em terreno plano em 12 minutos e nadar 25 metros numa piscina sem apoio nem paragens. A estes juntam-se outros requisitos: ter entre 18 e 24 anos, nacionalidade portuguesa e pelo menos o nono ano de escolaridade.

"Há um critério de exigência que é cada vez mais um critério-padrão em termos de género. Não há diferença. Mas se as mulheres conseguirem aproximar-se de um padrão que é comum estão salvaguardadas. Quando são colocados padrões comuns tem-se provado que as mulheres conseguem cumprir", garante. João Fonseca Ribeiro, agora afastado dos conhecimentos técnicos da Marinha, diz que "durante muitos anos a questão era se os padrões de exigência deviam ser comuns a homens e mulheres".

O comentador da CNN Portugal acrescenta que existe falta de fuzileiros em Portugal, o que gera uma "dificuldade". "Admito que sim, tal como faltam quadros nas forças armadas em várias áreas", compara. Para isso e para além dos fuzileiros, a Marinha Portuguesa está a recrutar elementos para outras posições. Há cursos a decorrer para as diferentes categorias de oficial, sargento ou praça e em áreas muito diversificadas - todas elas disponíveis para consulta no site da Marinha. Todos os concursos são regime de contrato com duração entre três e seis anos.

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