Ativistas das Pussy Riot fogem da Rússia e de Putin disfarçadas de estafetas de entrega de comida

12 mai 2022, 15:12
Pussy Riot (Imagem The New York Times)

Ambas estavam condenadas a “restrição de liberdade”, sentença recorrente em opositores do regime russo

Maria Alyokhina, também conhecida como “Masha”, líder do grupo de punk rock Pussy Riot – famoso pelos protestos contra o regime de Vladimir Putin -, revelou que abandonou a Rússia disfarçada de estafeta de entrega de comida.

Em entrevista ao jornal The New York Times, a ativista de 30 anos referiu que a decisão de deixar a Rússia só surgiu após ser notificada que iria cumprir o remanescente da pena a que tinha sido condenada - desde que criticou abertamente a guerra na Ucrânia - numa colónia penal. Alyokhina encontrava-se sob “restrição de liberdade”, sentença recorrente em opositores do regime russo.

O plano foi idealizado pela namorada, Lucy Shtein - também membro das Pussy Riot e que igualmente estava sentenciada à dita "restrição de liberdade" -, como conta Alyokhina ao jornalista Anderson Cooper, da CNN. Shtein fez o esboço da fuga, tendo abandonado a Rússia - graças ao disfarce - no dia 31 de março. No entanto, só agora pôde falar abertamente sobre a encruzilhada, quando Alyokhina também abandonou o país.

“Percebi que não podia continuar na Rússia. Então, comecei a planear a fuga, algo que não iria ser fácil”, disse Lucy Shtein, em entrevista ao The Guardian.

 

Para evitar ser detetada pelas autoridades russas, Masha explica que vestiu o blusão verde avolumado – normalmente usado por estes estafetas na Rússia – como mostram as fotos partilhadas pela ativista ao jornal norte-americano, em que surgem também Lucy Shtein – disfarçada e com a icónica mochila térmica às costas.

A fuga de Alyokhina durou cerca de uma semana. Da Rússia foi para a Bielorrússia e, em seguida, cruzou a fronteira para a Lituânia. Passar esta última fronteira revelou-se um autêntico "pesadelo", nas palavras da própria. O passaporte de Maria foi confiscado pelas autoridades de Moscovo quando foi condenada e, sem o documento, só à terceira tentativa conseguiu entrar em território lituano.

Durante todo o processo, Masha tinha calçadas um par de botas de plataforma sem atacadores – um símbolo, por este ser um item proibido na maioria das prisões -, que promete usar novamente na tour das Pussy Riot, que começa ainda este mês.

“Acho que a Rússia já não tem o direito de existir. Mesmo antes, havia dúvidas sobre quão unida estava, por que valores se mantinha unida. Mas, agora, acho que já não há qualquer dúvida”, disse Maria Alyokhina, ao The New York Times.

Maria Alyokhina (à esquerda) e Lucy Shtein (à direita) disfarçadas de estafetas de comida. 

Em entrevista ao The Guardian, Shtein explica que, seis meses antes do início da guerra na Ucrânia, tinha sido também condenada a um ano de “restrição de liberdade”. A ativista estava autorizada a sair do apartamento onde vivia apenas em certos períodos do dia, tinha de usar uma pulseira eletrónica 24 horas por dia e a rua era regularmente controlada pelas autoridades russas. “Foi uma sensação muito libertadora, finalmente, tirar a pulseira eletrónica do tornozelo. Por reflexo, ainda calço as meias como se a pulseira lá estivesse e ainda estremeço sempre que alguém bate à porta”, descreveu Lucy Shtein ao The Guardian.

Masha garante que, apesar de tudo, quer regressar à Rússia no futuro, mas que por enquanto está na Islândia, onde tem organizado diversos eventos pró-Ucrânia, com a participação de vários artistas islandeses, como Björk.

Maria Alyokhina e Lucy Shtein, juntamente com outros membros das Pussy Riot, vão fazer um conjunto de concertos pela Europa, com o propósito de reunir fundos destinados aos refugiados ucranianos. “Vou continuar o meu trabalho fora do país, quero sentir-me útil de uma maneira ou de outra”, garantiu Lucy.

O grupo ganhou destaque nos holofotes internacionais em 2012, quando apresentou um hino de protesto contra Vladimir Putin e a Igreja Ortodoxa Russa, no interior de uma catedral moscovita. Mulheres com máscaras de ski a tapar a cara gritaram: “Virgem Maria, por favor leva Putin embora”.

Durante a última década, ambas foram presas em várias ocasiões, devido às performances das Pussy Riot.

Masha e outros dois membros do grupo de punk rock foram condenadas por “hooliganismo” após o espetáculo e sentenciadas a dois anos de prisão. Alyokhina acabou por cumprir um ano e 10 meses de prisão, saindo em liberdade dois meses antes do fim da pena. No entanto, como disse ao The New York Times e a Anderson Cooper, desde o último verão, já foi presa seis vezes, sempre por se manifestar contra o regime de Putin.

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