Fruta podre? "Ou a senhora ministra indica o nome dos polícias" ou então não tem condições "de continuar a exercer a função"

11 jul 2024, 18:58

Há dois dias chegou a acordo com PSP e GNR, agora acende uma nova polémica com as forças de segurança, onde as declarações de Margarida Blasco não caíram bem

A ministra da Administração Interna apontou o dedo à “fruta podre” dentro das forças de segurança e os polícias não parecem ter gostado. “Das duas uma, ou a senhora ministra indica o nome dos polícias a que se refere ou, não o fazendo, quanto a nós, deixará de ter qualquer condição de continuar a exercer a função que está a exercer neste momento” afirmou à CNN Portugal Paulo Macedo, dirigente do Sindicato dos Profissionais de Polícia (SPP/PSP). Já Armando Ferreira do SINAPOL (Sindicato Nacional da Polícia), considerou a expressão  da ministra “um exagero”. Bruno Pereira, do Sindicato Nacional de Oficiais da Polícia, também alertou, durante uma entrevista em direto na CNN Portugal, que "os líderes políticos têm de ter cuidado com o que dizem e fazem" para "não haver generalização". Isto depois de Margarida Blasco ter conseguido chegar a um acordo com algumas associações de PSP e GNR - SPP e SINAPOL fazem parte das organizações que não assinaram o acordo, Bruno Pereira foi um dos que assinou.

Margarida Blasco, afirmou esta quinta-feira, numa entrevista ao Diário de Notícias e à rádio TSF que vai “retirar a fruta podre do grande cesto que são as forças de segurança”, que tem "tolerância zero" com movimentos radicais e que é intransigente com os crimes de ódio. 

Os polícias são cidadãos, mas não são uns cidadãos quaisquer. São cidadãos que defendem a ordem pública, defendem o cidadão. São um dos pilares da democracia e do Estado de Direito e não é admissível que haja movimentos radicais dentro das forças de segurança”, afirmou Paulo Macedo.

Na entrevista, a governante disse crer que este tipo de movimentos “vão desaparecer rapidamente”, pois está a ser dada formação que vai “retirar a fruta podre do grande cesto que são as forças de segurança”. “Desculpem esta imagem, mas é para filtrar”, acrescentou.

Para Paulo Macedo é claro que não podem “ter uma ministra da Administração Interna a fazer acusações deste género, graves, contra polícias, generalizando e não indo ao concreto”. Ela “tem de se retratar ou explicar”, acrescentou. 

À CNN Portugal, Paulo Macedo garantiu que irá “já no dia de amanhã confrontar a sra. Ministra com estas suas declarações” e que também vão dar conhecimento “ao sr. primeiro-ministro” e “também ao sr. Presidente da República, porque parece-nos que é uma situação por demais grave”.

“A senhora ministra também fez ali associações quanto a movimentos, ou pelo menos associações extremistas e mesmo a partidos”, ressalva o sindicalista. Por isso, considera que esta deve “indicar estruturas sindicais que são afetas, por exemplo, ao Chega”. Mas não é suficiente. “Se ela indicar quem são essas frutas podres, a quem se refere, tudo bem. E depois as pessoas a quem ela se referir, lá terão a capacidade de se defender”.

"Os líderes políticos têm de ter cuidado no que dizem e no que fazem"

Bruno Pereira, do Sindicato de Oficiais da Polícia esteve esta quinta-feira à tarde na CNN Portugal para comentar também as declarações da ministra e assume que não percebe "o contexto" das afirmações de Margarida Blasco e que é preciso "não confundir a floresta com algumas árvores".

Dito isto, assume que "não quer dizer que não possa haver e não tenha havido" situações detetadas, mas que as "desconhece". Pede, por isso, "que o controlo interno seja afinado", porque só assim "se pode expurgar as ervas daninhas que devemos expurgar". Concordando que "não é admissível que haja movimentos radicais" dentro das forças de segurança.

Todavia, lembra que "os líderes políticos têm de ter cuidado no que dizem e no que fazem" e ainda "na linguagem e tipo de enquadramento que pode ser perigoso e levar a generalizações". E insiste que é preciso cuidado para "não colar os polícias com forças políticas, de alguma forma ligadas à extrema-direita".

Questionado sobre alguns movimentos aparentemente ligados a forças políticas e movimentos radicais, Bruno Pereira garantiu que estes "não têm rosto" e que "qualquer movimento sem rosto é algo que se deve expurgar". Tal como assumiu que criticou o líder do Chega, André Ventura, porque não cabe "aos líderes políticos", seja ele qual for, convocar manifestações para tentar pressionar o poder político. Isso é feito pelos sindicatos. E que "se tivesse sido apenas feito um convite porque era um dia importante", na Assembleia da República, "não teria dito nada". Mas não foi isso que aconteceu.

"Aquilo que tem de ser a conduta dos profissionais de polícia"

Já Armando Ferreira dirigente do SINAPOL lamentou que a ministra não tenha utilizado “as palavras mais corretas. A situação da fruta podre talvez tenha sido um bocado exagero”. E lembra que “existem os mecanismos” que servem como “fiscalizador das atuações dos polícias em determinadas situações” e que Margarida Blasco “esteve à frente de um dos mecanismos”. Recorde-se que a atual ministra esteve na Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI).

Para Armando ferreira esta “não é uma situação que cabe aos sindicatos estarem a comentar em concreto. Se estivéssemos a falar de uma questão laboral seria uma questão objetiva. Até porque não lhe parece que o tema “neste momento seja um problema, digamos assim”.

E de alguma forma, mesmo sem concordar com os termos, admite: “A senhora ministra, por um lado, acaba por dizer, com umas palavras se calhar um bocadinho mais fortes, aquilo que tem de ser a conduta dos profissionais de polícia”. “Todos os policias têm que ser uma conduta correta e não podem ter influências quer de partidos, quer de outras opções”

No decorrer da entrevista Margarida Blasco valorizou ainda o facto de as forças de segurança não se terem deixado instrumentalizar quando, na semana passada, o Chega solicitou a sua presença na Assembleia da República. “Num universo de 45 mil polícias, as principais organizações sindicais vieram a terreiro dizer que não se sentiam vinculadas, que não queriam ser instrumentalizadas”, lembrou a governante.

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