Presidente disse que "400 casos de abusos sexuais na Igreja não é particularmente elevado". Esta declaração está a provocar enorme celeuma no país
"Inaceitável", "inacreditável e "lamentável". A declaração do Presidente da República, que considerou que as mais de 400 queixas validadas pela Comissão Independente para o estudo dos abusos sexuais de menores na Igreja Católica não se trata de um número "particularmente elevado", provocou uma onda de indignação entre deputados e políticos. Da esquerda à direita, sucedem-se os pedidos para que Marcelo dirija um pedido de desculpa às vítimas e aos seus familiares.
Numa publicação na rede social Twitter, a Iniciativa Liberal (IL) diz que "lamenta profundamente o comportamento do Presidente da República no caso dos abusos sexuais de menores no seio da Igreja" e acusa Marcelo de estar "mais preocupado em ilibar e relativizar a gravidade do comportamento de vários elementos da Igreja Católica do que com as vítimas dos atos hediondos". O partido aconselha o chefe de Estado a fazer um "pedido de desculpas às vítimas e ao país".
A Iniciativa Liberal lamenta profundamente o comportamento do Presidente da República no caso dos abusos sexuais de menores no seio da Igreja. O Presidente mostra estar mais preocupado em ilibar e relativizar a gravidade do comportamento de vários elementos da Igreja Católica
— Iniciativa Liberal (@LiberalPT) October 11, 2022
Antes, o deputado Carlos Guimarães Pinto, da IL, tinha defendido algo semelhante.
O Presidente da República deve um pedido de desculpas ao país e às vítimas pelas declarações infelizes. E nem vale a pena discutir se o número está subestimado porque muitas queixas ficam por fazer. Mesmo que não estivesse, as declarações são inaceitáveis.
— CGP (@carlosgpinto) October 11, 2022
O deputado do Bloco de Esquerda Pedro Filipe Soares diz mesmo que as "declarações miseráveis" do Presidente da República constituem "um insulto às mais de 400 vítimas" que apresentaram queixa. "É este o Presidente de uma República laica e de um Estado de Direito? Lamentável. Fosse um caso apenas e já era preocupante", escreveu o deputado bloquista numa publicação no Twitter, onde acusou Marcelo de "não ter estado à altura do cargo que ocupa".
400 queixas de abusos de menores validadas pela Comissão Independente e o comentário do Presidente da República é "o número não é particularmente elevado".
É este o Presidente de uma República laica e de um Estado de Direito? LamentávelFosse um caso apenas e já era preocupante.
— Pedro Filipe Soares (@PedroFgSoares) October 11, 2022
O presidente do Chega, André Ventura, também considera que Marcelo "deve pedir desculpa às vítimas" pelas "declarações infelizes" desta tarde, que "menorizam o seu sofrimento".
Que declarações tão infelizes de Marcelo Rebelo de Sousa! Uma vítima de abusos sexuais, mesmo que fosse só uma, já seria muito grave. O país deve pedir desculpa às vítimas- e o Presidente também- e não menorizar o seu sofrimento!
— André Ventura (@AndreCVentura) October 11, 2022
Isabel Moreira, deputada do Partido Socialista (PS), também classificou a posição de Marcelo como "inaceitável".
Abusos na Igreja: “400 casos em milhões não é particularmente elevado”, diz o Presidente https://t.co/lyTZwCWKAE via @expresso - inaceitável .
— Isabel Moreira (@IsabelLMMoreira) October 11, 2022
A ex-candidata presidencial Ana Gomes considera que o Presidente da República "anda a precisar de descanso e meditação" depois desta declaração - que descreveu como "inacreditável" e "inaceitável".
Inacreditável! Inaceitável! SEXA PR anda a precisar de descanso e meditação. Um retirozinho? ou talvez não… https://t.co/FwcAEK5NVe
— Ana Gomes (@AnaMartinsGomes) October 11, 2022
Rui Tavares, do Livre, pediu que Marcelo Rebelo de Sousa faça um exercício de introspeção quanto às eventuais consequências da sua declaração nas vítimas de abusos sexuais.
Senhor Presidente, imagine todo o sofrimento e coragem que foi preciso para que 400 pessoas partilhassem as histórias de abusos que guardaram durante anos. As suas declarações podem ter por consequência minimizar esse sofrimento e desencorajar quem ainda procura forças para falar
— rui tavares (@ruitavares) October 11, 2022
Também através do Twitter a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, disse ser "incompreensível a desvalorização dos abusos sexuais de menores por parte do Presidente da República".
1 caso que fosse era grave, muito grave e repudiável, quanto mais 400!
— Inês de Sousa Real (@lnes_Sousa_Real) October 11, 2022
É incompreensível a desvalorização dos abusos sexuais de menores na igreja por parte do Presidente da República e inaceitável o contacto que fez ao bispo José Ornelas sobre a denúncia.https://t.co/WJdwnx8Ume
Numa declaração enviada à Lusa, o PCP alertou que o número de casos de abusos sexuais de menores na Igreja Católica é "uma questão muito sensível" que "não deve ser menorizada" e exortou para que se apurem todas as consequências. "Esta é uma questão [os abusos sexuais de menores] muito sensível, que merece preocupação, não deve ser menorizada e cujo apuramento deve prosseguir com as consequências devidas", sustentou.