Desporto e direitos humanos: “O futebol sempre contribuiu para a luta contra as desigualdades”

18 nov 2022, 20:21
Cerca de 30 mil imigrantes entraram no país para a construção de estádios e outras infraestruturas relacionadas com o mundial. Foto: Jewel Samad/AFP via Getty Images

Marcelo Rebelo de Sousa reconhece que o Catar desrespeita os direitos humanos, mas defende que agora o momento é o de pensar no apoio à Seleção Nacional. Por isso, “esqueçamos isto”. Também o presidente francês Emmanuel Macron rejeita um boicote ao Mundial 2022, justificando que o evento até pode ajudar aquele país árabe. E, entre os futebolistas, admite-se uma separação assim tão clara entre futebol, política e defesa dos direitos humanos?

Estreou-se no Estrela da Amadora e passou por clubes como o Benfica, o Liverpool ou o Galatasaray; foi treinador de futebol e é atualmente comentador desportivo. Abel Luís da Silva Costa Xavier, ou apenas Abel Xavier, como ficou conhecido, nunca se coibiu de dizer o que pensa e de intervir de forma pública. Por isso, não consegue dissociar o desporto e a defesa dos direitos humanos.

“O futebol está inserido na sociedade e a sociedade no futebol. Não se podem separar. Temos de ter a consciência plena que, quando falamos de direitos humanos, é uma prioridade e um assunto importante no atual contexto social”, defende Abel Xavier, em declarações à CNN Portugal.

O antigo futebolista lembra que “o futebol sempre contribuiu muito para a luta contra a desigualdade e, permanentemente, ajuda a divulgar mensagens contra as desigualdades e em defesa dos diretos humanos”.

É desta forma que Abel Xavier olha para as declarações do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que vai ao Catar, ver o Portugal-Gana já na próxima semana, apesar de o Mundial 2022 se realizar num país onde é reconhecido o desrespeito pelos direitos das mulheres e outros direitos humanos. "O Catar não respeita os direitos humanos. Toda a construção dos estádios e tal..., mas, enfim, esqueçamos isto. É criticável, mas concentremo-nos na equipa. Começámos muito bem e terminámos em cheio", disse Marcelo, quinta-feira, na zona de entrevistas rápidas do Estádio José Alvalade, depois do jogo entre Portugal e Nigéria, de preparação para o Mundial.

Também o presidente francês, Emmanuel Macron, rejeitou, na quinta-feira, um boicote ao Mundial 2022, justificando que o evento desportivo até pode ajudar o país a mudar a forma como encara os direitos humanos. “Não sou a favor de um boicote ao Mundial. Essas questões deveriam ser colocadas antes, no momento em que se atribuem os jogos ou competições”, defendeu Macron, num evento em Banguecoque, insistindo que o desporto “não deve ser politizado”.

Esta separação não parece ser assim tão clara para quem vive do futebol, nem mesmo para os jogadores que vão atuar no Mundial. O internacional português Bruno Fernandes criticou, no domingo, "o que rodeia" o evento. A poucos dias da partida para o Catar com a Seleção Nacional, Bruno Fernandes lembrou mesmo os trabalhadores mortos na construção de estádios naquele país.

"Sabemos o que rodeia o Campeonato do Mundo, o que tem surgido nas últimas semanas, meses, sobre as pessoas que morreram na construção dos estádios. Não estamos felizes com isso, de todo", declarou o médio da Seleção Portuguesa, de 28 anos, após a vitória do Manchester United sobre o Fulham, por 2-1.

Em maio deste ano, a Human Rights Watch (HRW) reagiu a declarações do presidente da FIFA, considerando que Gianni Infantino insultou os trabalhadores migrantes envolvidos na construção das infraestruturas para o Mundial ao desvalorizar as mortes ocorridas em acidentes de trabalho. A ONG entende que "é preciso mostrar ao mundo que as mortes e os abusos sobre os trabalhadores migrantes no Catar são uma mancha histórica que precisa de ser reparada, antes que a bola comece a rolar". Infantino desvalorizou as mortes ocorridas na construção dos estádios do Mundial, preferindo elogiar o "orgulho" e a "dignidade" dados aos trabalhadores neste projeto. 

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