Marcelo quer voltar e Costa quer mais proximidade. Na visita a África do Sul houve viagens ao passado e uma ida ao futuro com um consulado virtual

Agência Lusa , DCT
7 jun 2023, 19:40
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa (Lusa/Tiago Petinga)

Joanesburgo e Pretória foram palco da visita de António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa no âmbito das Comemorações do Dia de Portugal e de Camões junto das comunidades portuguesas na África do Sul

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa, estiveram esta quarta-feira juntos na África do Sul a celebrar o Dia de Portugal com emigrantes portugueses e lusodescendentes em Joanesburgo e Pretória. E houve espaço para tudo: memórias do apartheid, promessas de regresso e ainda de um António Costa enquanto aluno “brilhante” mas que “estudava pouco”.

Após a visita ao Museu do Apartheid, Marcelo lembrou a sua passagem pela África do Sul, na sua juventude, no tempo do regime do 'apartheid', que considerou "impressionante e chocante".

"É uma visita que para mim é especialmente impressionante. Em primeiro lugar porque represento um país que teve um império colonial durante séculos", declarou.

"As pessoas não têm a noção do que era de facto o regime do 'apartheid'. Não tem mesmo paralelo com aquilo que era a experiência colonial em Moçambique ou Angola ou noutras colónias portuguesas naquela época, porque era a separação rígida total por raças - não havia possibilidade de circulação no território".

Marcelo Rebelo de Sousa referiu que já fez discursos na Assembleia da República em que assumiu "a responsabilidade por esse colonialismo", com "tudo aquilo que houve de negativo", e observou: "Isso é muito atual ao visitar um museu que tem aqui recordações do passado na África do Sul mas que são lições para o futuro".

Interrogado sobre se lhe parece que as feridas deixadas pelo 'apartheid' na África do Sul já estão curadas, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu que "a África do Sul se transformou num colosso, numa potência com expressão global, que tem muitas diversidades regionais" e que "a integração é um processo que está em curso, difícil, até pela população enorme e pelas crises económicas que também têm chegado aqui".

Mas ficou a promessa de voltar: "Nós viemos para aqui, estamos felizes aqui, estamos gratos aqui, e estamos para ficar. (...) E eu prometo até ao final do meu mandato ainda voltar mais uma vez à África do Sul e a Joanesburgo e quero vê-los a todos e a todas".

Costa focado no futuro e com uma garantia: relação desburocratizada e mais tecnológica

Se Marcelo Rebelo de Sousa foi nostálgico na sua visita à África do Sul - tendo até lembrado o seu antigo aluno António Costa, “brilhante” mas que “estudava pouco” -, o primeiro-ministro preferiu ser mais pragmático.

António Costa discursou imediatamente antes do Presidente da República no pavilhão da União Cultural, Recreativa e Desportiva Portuguesa de Joanesburgo, tendo a escutá-lo, entre outros, o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, e focou-se naquilo que é preciso fazer no futuro. “Temos sempre de procurar fazer mais e melhor para estarmos cada vez mais próximos de cada um de vós. Esse esforço é feito em primeira linha pelos cônsules e pelos embaixadores. Mas hoje as tecnologias permitem-nos cada vez mais estar mais próximos uns dos outros mesmo à distância”, referiu.

De acordo com António Costa, as suas equipas governamentais a partir de novembro de 2015 “tinham o sonho antigo de conseguir instalar o telemóvel de cada pessoa, ou no computador, um verdadeiro consulado, onde se possa tratar de todas as operações que não requerem uma conversa pessoal e direta com cônsules ou embaixadores”.

“Neste 10 de Junho de 2023, vamos finalmente lançar o consulado virtual. Quando chegarem a casa, num sítio onde tenham rede forte, se forem ao portal das comunidades portuguesas podem já encontrar a entrada para o consulado virtual. O registo é muito fácil: quem tem cartão do cidadão e o leitor pode fazer assim a inscrição; quem não tem pode fazer o acesso à chave móvel digital através da própria câmara do telemóvel com o seu registo biométrico”, explicou.

Depois de detalhar as operações que vão estar disponíveis online a partir deste sábado, disse que haverá uma plataforma para os agendamentos consulares, “de forma a que isso seja tramitado entre cada um e os consulados, sem intermediários, acabando com aqueles que fazem negócios à custa da venda de agendamentos do atendimento consular”.

“É um passo muito importante para a nossa proximidade”, sustentou.

Na sua intervenção, referiu medidas tomadas pelos seus governos para facilitar o acesso à nacionalidade, mesmo para netos de portugueses, e as alterações à lei do recenseamento, esta última facilitando o direito de voto.

“O recenseamento passou a ser automático e, portanto, todos os que têm nacionalidade portuguesa estão recenseados e podem participar nas eleições para a Assembleia da República e para Presidente da República”, assinalou ainda.

Política

Mais Política

Patrocinados