O 25 de Abril de hoje é imperfeito mas é a mais perfeita das imperfeições: Marcelo pede paciência ao "senhor supremo do 25 de Abril"

25 abr 2023, 14:24
Marcelo Rebelo de Sousa (Tiago Petinga/Lusa)

"A liberdade e a democracia, mesmo quando nos trazem muitas desilusões, dão-nos sempre a esperança que a ditadura não tolera"

Há o 25 de Abril de Álvaro Cunhal, o de Mário Soares, o de Francisco Sá Carneiro, o de Freitas do Amaral. Também há o 25 de Abril de Ramalho Eanes, de Otelo ou de Vasco Gonçalves. Há muitos 25 de Abril, uma data que é mais do que isso e que vai mudando consoante aquilo que o povo quer, o povo "que é o senhor supremo do 25 de Abril": é assim que o Presidente da República vê os 49 anos de liberdade em Portugal, admitindo que possa haver frustração, por uma razão ou por outra, em quem tinha "expectativas e anseios" com a revolução.

"Há aqueles que consideram que o 25 de Abril de hoje não só é imperfeito como é frustrante. Tem que ver com o 25 de Abril que sonharam e que não se concretizou ou que se concretizou apenas em parte", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, falando na existência de "várias revoluções", consoante as diferentes personalidades que contribuíram para a queda do Estado Novo.

"Cada um sonhava com um 25 de Abril diferente. A revolução de Álvaro Cunhal foi diferente da de Mário Soares. A de Mário Soares foi diferente da de Francisco Sá Carneiro. A de Francisco Sá Carneiro foi diferente da de Freitas do Amaral", reiterou, dando o poder de fazer um novo 25 de Abril de tempos a tempos aos portugueses: "O povo vai escolhendo com sentido de Estado e bom senso o 25 de Abril que quer", sublinhou. 

Passando pelos vários problemas sociais, Marcelo Rebelo de Sousa destacou que continuam por resolver vários desígnios: melhor democracia, mais crescimento, igualdade, justiça social, educação, saúde, habitação, solidariedade social, ambiente, visão intergeracional, papel da mulher, desempenho de jovens e de sectores excluídos ou ignorados. E há um dado a reter: "Nunca conseguimos reduzir a menos de 1,5 milhões de pobres" nestes 49 anos de liberdade.

"Este é um tempo de esperança: a liberdade e democracia, mesmo quando nos trazem muitas desilusões, a sensação de tempo perdido, de adiamento, dão-nos sempre a esperança que a ditadura não tolera, a esperança pela mudança. Há sempre a possibilidade de criar caminhos diversos - podem demorar, mas existem sempre, existiram sempre", sublinhou o Presidente da República.

"Com a última palavra no povo. Com o povo tendo a possibilidade que só em liberdade e democracia existe, nunca em ditadura, de continuar a escolher o 25 de Abril que quer, mesmo que saiba que é imperfeito, que durará pouco tempo, que ficará aquém das expectativas", concluiu, falando na necessidade de criação de ambições.

Mais do que pedir desculpa pela colonização

Mesmo perante as duras críticas do Chega e o protesto da Iniciativa Liberal, o Presidente da República voltou a defender a presença “especial” de Lula da Silva no Parlamento. Marcelo Rebelo de Sousa lembrou a descolonização como um dos pilares que motivaram o 25 de Abril, recordando que “os Capitães de Abril achavam que não fazia sentido prosseguir numa guerra” colonial contra os povos africanos que reclamam a independência.

“Faz todo o sentido o encontro de hoje, que é o encontro de sempre”, defendeu Marcelo Rebelo de Sousa, que vê na visita de Lula da Silva uma oportunidade para “olhar para trás e assumir responsabilidade por aquilo que fizemos”. “Não é apenas pedir desculpa, que às vezes é o mais fácil. É assumir a responsabilidade do futuro e do passado", disse, vendo em Portugal uma “vocação histórica” para acolher imigrantes, demarcando-se assim do discurso de André Ventura, que minutos antes tinha criticado não apenas a vinda de Lula da Silva mas também o acolhimento de vários estrangeiros em Portugal.

“Como podemos nós, pátria de emigração, ser egoístas perante os dramas dos emigrantes que são dos outros?”, disse Marcelo, recebendo uma ovação das bancadas do PS, de membros do Governo e do PSD.

Marcelo Rebelo de Sousa lembrou depois uma história familiar, a do avô, que em 1871 foi para o Brasil para “fugir à miséria”. Indo mais longe, o chefe de Estado recordou mesmo que é o primeiro Presidente da República a ter “um filho português que é brasileiro e uma neta brasileira que também é portuguesa”.

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