Sobressalto no Báltico após "fortes explosões" na zona da fuga de gás do Nord Stream. Nórdicos reúnem-se de emergência

27 set 2022, 15:39
Mancha provocada pela fuga de gás no Nord Stream (Forças Armadas da Dinamarca)

Primeiro-ministro da Polónia já fala em sabotagem, numa altura em que surgem as primeiras imagens do local

As fugas de gás detetadas nos gasodutos Nord Stream 1 e 2, que transportam gás natural da Rússia para a Europa - o fornecimento está, atualmente, suspenso, estão a deixar os governos daquela zona em sobressalto.

Estações sismológicas da Dinamarca e Suécia registaram "fortes explosões subaquáticas" na mesma zona onde se deram as fugas de gás na segunda-feira. De acordo com a televisão sueca SVT, que falou com especialistas da rede nacional sísmica, "não existem dúvidas de que são explosões". As palavras são de Björn Lund, que faz as leituras dos valores registados, e que explicou que um dos impactos teve uma magnitude de 2,3 na escala de Richter, algo semelhante a um pequeno terremoto, e que foi sentido em cerca de 30 estações de medição sísmica no sul da Suécia.

"Consegue-se ver claramente como as ondas se deslocam do fundo para a superfície", acrescentou, referindo que a primeira explosão foi registada às 02:03 locais de segunda-feira, com uma segunda identificada às 19:04 do mesmo dia.

Pelo meio as autoridades marítimas da Dinamarca e Suécia emitiram avisos para que os navios evitassem aquela zona, de onde as primeiras imagens recolhidas mostram uma mancha fácil de distinguir no Mar Báltico.

Em cima da mesa poderá estar um ato de sabotagem. Embora tenha sido cauteloso, Björn Lund sublinhou que os serviços costumam ser avisados quando ocorrem explosões no local. "Desta vez não fomos, não recebemos qualquer informação", disse, afastando, assim, um cenário em que as explosões possam ter sido causadas pelas Forças Armadas da Dinamarca ou Suécia.

A primeira-ministra da Dinamarca reconheceu que se trata de uma situação "pouco comum" e muito séria. Ainda assim, Mette Frederiksen recusou-se a classificar o caso como sabotagem, mesmo reconhecendo que três fugas de gás são demasiadas coincidências para um acidente.

Menos dúvidas tem o primeiro-ministro da Polónia, que foi mais longe que os homólogos, dizendo que "se vê claramente que foi um ato de sabotagem". Ainda assim, Mateusz Morawiecki não forneceu quaisquer provas que sustentassem a afirmação.

Quem também falou em sabotagem foi a Rússia, com o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a classificar a situação de "muito preocupante". "Chegou-nos informação da Gazprom e do operador. São notícias perturbadoras, estamos a falar da destruição de um tubo", acrescentou.

Países reagem de imediato

Perante o estranho caso, Dinamarca, Noruega e Suécia tomaram medidas com efeito imediato, tentando assim responder ao problema. O ministro da Defesa da Dinamarca garantiu que a população de Bornholm, ilha que fica perto da zona da fuga, não corre perigo. Ainda assim foi destacada uma equipa de emergência para o local.

Em paralelo, a primeira-ministra dinamarquesa convocou o gabinete de crise com os líderes de todos os partidos para discutir a situação. Medida semelhante tomou a ministra dos Negócios Estrangeiros da Suécia, que convocou uma reunião com o gabinete de crise com membros do governo e autoridades de proteção civil.

Já a Noruega enviou uma equipa da Agência de Gestão de Emergências para medir a concentração de gás no ar, nomeadamente em Bornholm, mas também em Ertholmene.

Uma semana para controlar as fugas

O diretor da Agência de Energia da Dinamarca adiantou que pode levar até uma semana para estancar as fugas de gás no fundo do mar, avisando que, até lá, os navios devem evitar a área, uma vez que "a superfície do mar está cheia de metano, o que significa um risco aumentado de explosões na zona".

Kristoffer Bottzauw disse ainda que as autoridades vão continuar a acompanhar o caso com toda a atenção.

As fugas de gás no Nord Stream ocorreram exatamente na semana em que foi lançado o gasoduto entre a Noruega e a Polónia, e que vai servir para Varsóvia diversificar a sua dependência da Rússia. Já antes das fugas de gás a Autoridade para a Segurança Petrolífera da Noruega tinha alertado para drones não identificados que foram detetados a voar perto da costa e das plataformas petrolíferas e de gás natural do país, tendo mesmo avisado para possíveis ataques.

Já esta terça-feira, a empresa que gere a infraestrutura confirmou "quebras de pressão” no Nord Stream 1 após as deficiências verificadas no Nord Stream 2, bloqueado após a invasão russa da Ucrânia.

Num comunicado citado pela agência Reuters, a Nord Stream AG, com sede na Suíça, referiu que três linhas do gasoduto que passa no Mar Báltico tiveram danos "sem precedentes" num dia. De resto, a empresa responsável não conseguiu adiantar uma estimativa para que a total capacidade do gasoduto seja reposta.

"A destruição que ocorreu no mesmo dia simultaneamente em três cadeias de gasodutos offshore do sistema Nord Stream não tem precedentes. Ainda não é possível estimar o momento da restauração da infraestrutura de transporte de gás", indicou a empresa.

O Nord Stream 1, com capacidade para enviar 55 mil milhões de metros cúbicos de gás russo por ano, está parado depois de a Rússia ter comunicado uma fuga de óleo numa estação de compressão que ainda se encontrava a funcionar.

Moscovo alega que a turbina em causa, tal como outras que têm registado falhas, não pode ser reparada pela empresa Gazprom, que controla a infraestrutura, devido às sanções internacionais.

Esta posição russa é encarada pela União Europeia como “uma desculpa” que funciona como chantagem contra a Europa ao usar o “gás como uma arma”.

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