A Máquina do Tempo viaja até a 1 de julho de 1993, quando o presidente leonino entrou triunfal e de sorriso rasgado por entre centenas de adeptos para apresentar Paulo Sousa e Pacheco de verde e branco.
Estávamos em junho de 1993, um mês que ficou para a história como o «Verão Quente»: por um lado porque a RTP estreava por essa altura uma telenovela com o mesmo nome e por outro porque treze anos antes o FC Porto já tinha tido também o seu Verão Quente.
O primeiro ficou para sempre como o Verão Quente de 80 e acabou com a primeira eleição de Pinto da Costa para presidente, o segundo herdou o nome de Verão Quente de 93 e provocou uma enorme guerra entre os eternos rivais Sporting e Benfica.
A história começou verdadeiramente em janeiro, quando Paulo Futre saiu do At. Madrid e chegou a ter tudo acertado para voltar ao Sporting. Praticamente à última hora, roeu a corda e acabou por assinar pelo Benfica, o que foi sempre considerado uma traição.
Sousa Cintra nunca o aceitou e aproveitou a crise que se instalou na Luz para iniciar a vingança.
O extremo esquerdo Pacheco foi o primeiro a rescindir com o Benfica por salários em atraso, a 19 de junho de 1993, pouco depois dos encarnados ganharem a Taça de Portugal, após uma exibição de luxo de Paulo Futre e de um triunfo por 5-2 sobre o Boavista.
Paulo Sousa fez o mesmo pouco depois, ele que era um dos maiores ativos do clube e ficou revoltado com o facto do Benfica ter passado uma procuração ao empresário Manuel Barbosa para o vender para o futebol italiano.
«Os jogadores são tratados como cães», explicou no final desse mês de junho ao jornal A Bola, já depois de ter rescindido contrato.
«Como é possível darem uma procuração a um empresário para tratar do meu futuro? Eu é que tinha de ser consultado em primeiro lugar para dizer aquilo que queria.»
Pelo meio, a 25 de junho, chegou o pedido de rescisão de contrato do «Menino de Ouro»: exatamente, João Pinto rescindiu contrato e fugiu com José Veiga para Espanha. Nessa altura os responsáveis encarnados desligaram a máquina do faxe da ficha elétrica com medo que mais rescisões chegassem ao Estádio da Luz.
Enquanto isso, de resto, o Benfica tentava por todas as formas entrar em contacto com João Pinto, sem o conseguir, e acabou por ser Valentim Loureiro, através da avó do jogador, a convencê-lo a voltar ao Benfica.
Jorge de Brito, o presidente do Benfica, foi então buscar João Pinto a Espanha, ofereceu-lhe um contrato milionário e pagou 100 mil contos (500 mil euros) ao Sporting.
É verdade que o dinheiro, naquela altura, era o que o Sporting menos queria, Sousa Cintra pretendia mesmo era ver o jogador de verde e branco, mas nem essa marcha-atrás de João Pinto estragou o verão perfeito para os adeptos, e sobretudo para o presidente leonino.
Por isso a 1 de julho Alvalade rebentou em completa euforia.
Sousa Cintra entrou de Mercedes branco pela pista de tartan de Alvalade, com Paulo Sousa e Pacheco no banco de trás, e centenas de adeptos em perfeita loucura.
Pacheco e Paulo Sousa vestiram pela primeira vez de verde e branco, numa cerimónia em que não se lhes viu um único sorriso, ao contrato do exuberante Sousa Cintra, que era todo ele alegria e felicidade. O presidente foi até atirado ao ar pelos adeptos leoninos.
«A prenda dos 84 anos do Sporting veio do Benfica», anunciou Sousa Cintra, acrescentando que o clube tinha deixado o rival encarnado «de mão estendida».
No fim, Paulo Sousa teve de ser tirado do meio dos adeptos que o queriam saudar, numa cena de perfeita loucura. No ano seguinte, seria vendido à Juventus e deixaria o Sporting sem conquistar nenhum título. Curiosamente, aliás, foi o Benfica que acabou campeão. Após aquele triunfo por 6-3 em Alvalade. Acabou por ser a vingança perfeita, portanto.
«Máquina do tempo» é uma rubrica do Maisfutebol que viaja ao passado, através do arquivo da TVI, para recuperar histórias curiosas ou marcantes dos últimos 30 anos do futebol português.