Elogios a Pizarro? Sim. Dúvidas sobre o que pode fazer? Algumas. E o que ele fez no Governo de Sócrates? "Não esquecemos." Como quem cuida da nossa saúde vê o novo ministro dela

9 set 2022, 20:35

Os enfermeiros não esquecem o que Pizarro fez no Governo de José Sócrates - esperam que o reverta. Mas médicos, psicólogos e sindicalistas também tem considerações a fazer

Um "político experiente", um "médico que conhece os sistemas de saúde", um "homem com capacidade de diálogo", "um excelente gestor de recursos humanos", "uma pessoa que conhece os dossiês", que tem uma grande "inteligência emocional" e que terá pela frente "uma tarefa extraordinariamente difícil": são elogios de médicos, enfermeiros, psicólogos e sindicatos ouvidos pela CNN Portugal no dia quem se soube que Manuel Pizarro é o eleito de António Costa para assumir o Ministério da Saúde.

Mas depois há outras nuances na análise, como esta: “A avaliação faz-se após a missão e o trabalho estarem concluídos e não quando é anunciada uma escolha”, ressalva o bastonário da Ordem dos Psicólogos, Francisco Miranda Rodrigues. “Não tenho de estar ou deixar de estar satisfeito", refere Miguel Guimarães, responsável pela Ordem dos Médicos. “Não achamos nada até começar a trabalhar. Das outras vezes achámos algo e acabou sempre por correr mal”, aponta Ana Rita Cavaco, bastonária da Ordem dos Enfermeiros.

Por sua vez, o presidente do Sindicato Independente dos Médicos, Jorge Roque da Cunha, realça que "qualquer que fosse a escolha do primeiro-ministro teria de ser respeitada”. Emanuel Boieiro, responsável pelo Sindicato Nacional dos Enfermeiros, realça que “se é uma boa ou má escolha depende das políticas que vierem a ser adotadas”.

A Ordem dos Médicos reconhece, no entanto, que Manuel Pizarro é um nome que pode trazer "algumas vantagens" por ser uma personalidade que "conhece bem o nosso sistema de saúde, não só o SNS mas todo o sistema nacional de saúde - e os sistemas de saúde europeus". Miguel Guimarães acredita que estas são valências que se podem vir a revelar "importantes", lembrando que "nós não estamos sozinhos no mundo e é necessário perceber o que os outros países fazem para resolver conseguir dar uma resposta mais adequada àquilo que são as necessidades dos cidadãos". O bastonário destaca ainda a "inteligência emocional" e as capacidades de "gestão, de inteligência emocional e de ouvir as pessoas" que vê no novo ministro.

"Além disto, o sr. Manuel Pizarro é um excelente gestor de recursos humanos, ou seja, a sua relação com os profissionais de saúde, nomeadamente com os médicos, é mais fácil, é mais empática e isso é importante, porque dentro do SNS vai ter um conjunto alargado de pessoas a trabalhar para o Estado e para servir os nossos doentes", refere o bastonário da Ordem dos Médicos.

Por outro lado, os enfermeiros lembram que "há algo que Manuel Pizarro pode corrigir": o sector não esquece que, enquanto secretário de Estado Adjunto e da Saúde - no Governo socialista de José Sócrates -, o agora ministro foi um dos responsáveis pela extinção das carreiras destes profissionais e dizem esperar que agora retifique a situação. No entanto, Ana Rita Cavaco lembra que o futuro da Saúde passa também pelo primeiro-ministro, António Costa, tendo em conta as políticas que venham a ser aprovadas e, por isso, a bastonária diz que não sabe o que esperar. "Sem saber o que vai fazer não podemos dizer o que é bom ou mau", conclui.

O que é importante que Costa dê a Pizarro

O bastonário da Ordem dos Psicólogos diz que o sector "está, como sempre esteve, motivado e aberto a qualquer escolha que esteja disposta a trabalhar em conjunto e a escutar quem está no terreno". Francisco Miranda Rodrigues explica que "a expectativa, tal como até aqui, é de que haja abertura, que se passe das palavras aos atos e que o SNS seja reestruturado, em prol dos profissionais e de uma melhoria da capacidade de responder aos problemas dos cidadãos". “É preciso dar uma demonstração clara e muito rápida que aquilo que se anuncia vai mesmo acontecer”, refere o bastonário dos Psicólogos.

A falta de reposta para casos de saúde mental no SNS tem sido tópico recorrente ao longo dos últimos anos e a Ordem dos Psicólogos vê em Manuel Pizarro alguma esperança, uma vez que "por várias vezes e publicamente já defendeu a necessidade da contratação de mais psicólogos para os centros de saúde", lembra o bastonário, acrescentando que "espera que de facto isso aconteça e se passe das palavras e do que está escrito aos atos”. Miranda Rodrigues evidencia ainda que a aplicação do Plano de Recuperação e Resiliência feita pela equipa da antiga ministra Marta Temido foi "um grande avanço na área da saúde mental em comparação com os últimos 20 anos”, mas “não podemos ficar por aqui", lembrando que espera "um reforço do efetivo de psicólogos, que estão em falta no SNS, como este ministro já defendeu no passado”.

Apesar da indigitação de um novo responsável pela pasta da Saúde, o Sindicato Nacional dos Enfermeiros diz "esperar a continuação das políticas que têm vindo a ser adotadas". O líder sindical Emanuel Boieiro aludiu às palavras de António Costa após a demissão de Marta Temido, quando o chefe do Executivo respondeu aos jornalistas que "quem quer mudanças de políticas tem de derrubar o Governo". Ainda assim, o sindicalista lembra que tem estado a ser discutido o descongelamento das carreiras dos enfermeiros e espera "que essa matéria seja concluída no dia 14”.

“Sendo um político experiente, esperamos que tenha capacidade para que junto do sr. ministro das Finanças e do sr. primeiro-ministro possa demonstrar que parte dos cinco mil milhões de euros de impostos que os portugueses estão a pagar a mais devem ser canalizados para o SNS", considera o Sindicato Independente dos Médicos. Jorge Roque da Cunha diz que conhece e reconhece "a capacidade de diálogo" do novo ministro e que deseja que "a sua sabedoria seja aplicada a bem do SNS”. “Em relação ao doutor Pizarro, nós temos a oportunidade de o conhecer há muitos anos. É um político experiente, é uma pessoa que conhece os dossiês e tem uma tarefa extraordinariamente difícil, fruto de vários anos em que os investimentos no SNS foram diminuindo, em que os problemas se foram acumulando e em que a sua antecessora teve uma política basicamente de propaganda e de ocultação dos problemas”, aponta ainda o presidente do Sindicato Independente dos Médicos.

Por fim, o bastonário dos Médicos lembra que compor os sistemas nacionais de saúde em Portugal não é uma tarefa de um só homem. Miguel Guimarães alerta que "é importante que o sr. primeiro-ministro dê as condições adequadas ao dr. Manuel Pizarro para exercer a sua missão em pleno" e que só assim será possível "adaptar as políticas de saúde que foram definidas pelo PS no sentido de encontrar os melhores caminhos para resolver os grandes problemas que nós temos neste momento a nível do serviço público”.

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