A espera acabou, chegou o dia, o futebol voltou: o campeão Sporting defronta o FC Porto, vencedor da Taça de Portugal - é este sábado, pelas 20:15. Antes disso: Maniche defronta o presente e o passado - faz revelações e escolhe os melhores golos que marcou por cada um dos clubes
Maniche jogou pelos dois lados, venceu duas vezes a Supertaça pelo FC Porto e garante que, independentemente do momento atual de cada clube, está tudo muito "equilibrado" - há apenas uma unha a separá-los: "Dou 50/50 para cada lado mas com o Sporting a partir talvez um pouquinho mais à frente". "O Sporting manteve a estrutura, os jogadores sabem exatamente a filosofia e as ideias de Ruben Amorim", sublinha Maniche. Por outro lado, considera que o "FC Porto tem perspetivas mais baixas" do que noutras épocas, muito porque "não tem a capacidade financeira de contratar os jogadores que quereria". Maniche entende que a mensagem de Vítor Bruno tem de ser muito clara e passar por "força, coragem e para o jogadores acreditarem neles próprios".
Maniche considera que a Supertaça "não é um dos mais importantes troféus" para jogadores ou equipa técnica mas é algo muito "simbólico" - é o troféu que dá início àquilo que se pode transformar numa época de sucessos ou em algo menos bom. "A Supertaça é um jogo que normalmente é contra os rivais, há sempre um sentimento de compromisso de querer jogar bem perante um rival e de deixar uma boa imagem para o resto da época e para os adeptos. Este jogo acho que tem um valor acrescentado, mas, se formos a pensar bem, em todos os troféus que FC Porto e Sporting estão inseridos este provavelmente é o mais fraco."
O FC Porto pode agora ter o problema de menos dinheiro mas teve sempre a virtude do ADN. Maniche sabe disso do ADN: chegou ao clube no verão de 2002, vindo de uma época menos positiva no rival Benfica, então treinado por Jesualdo Ferreira - o médio tinha feito apenas um jogo pela equipa B. A experiência no FC Porto foi excelente: em apenas três anos venceu uma Liga dos Campeões, um Mundial de Clubes, uma Taça UEFA, dois campeonatos, uma Taça de Portugal e duas Supertaças. O médio explica que o FC Porto assenta em dois pilares estruturais: "Espírito de compromisso e uma vontade de fazer com que os jogadores se identifiquem muito rapidamente com o clube". E como se consegue isso? Maniche recorda que esse era o papel das grandes referências do clube, jogadores e ex-jogadores que tinham um papel fulcral dentro e fora do relvado: "Eles passavam o ADN Futebol Clube do Porto".
"Fala-se muito nesta palavra quando se fala do FC Porto: ADN. A ideia é que tens de dar tudo dentro de campo, tens de ter a mesma vontade de ganhar que têm os adeptos, tens de tentar ganhar todos os títulos. Quando vestes a camisola do Porto, este ADN é no sentido da vontade, do compromisso, da garra, da entrega e tudo isso", recorda.
Maniche foi para o Dínamo de Moscovo após os anos de FC Porto. Depois da experiência de uma época na Rússia transferiu-se para o Chelsea - onde conquistou a Premier League. Seguiu-se uma época no Atlético de Madrid, depois rumou ao Inter de Milão por empréstimo - onde ganhou a Serie A. Passou pelo FC Köln, da Alemanha, e aos 33 anos chegou a Alvalade, onde só esteve durante uma época: "No Sporting foi um período mais complicado".
O presidente do clube era Filipe Soares Franco, o treinador Paulo Sérgio - e depois José Couceiro - e já lá iam oito anos desde que Jardel e João Vieira Pinto tinham levantado o último troféu de campeão. Maniche recorda que no Sporting "não havia referências", o desligamento do clube relativamente às antigas glórias era notório e, em termos do plantel, era assim: havia Liedson e Matías Fernandez, que são boas referências, mas de resto havia nomes como Vukcevic, Izmailov, Jaime Valdés ou Leandro Grimi - marcaram pela inconsistência de exibições e por serem jovens promessas que nunca vingaram. A isto, como lembra Maniche, aliou-se um conjunto de contratações que correram francamente mal: "Muitos jogadores estrangeiros chegaram e não se souberam integrar".
Mas o que faltou no passado ao Sporting há agora: referências fortes. Para Maniche, o espelho do empenho dentro e fora de campo do atual Sporting é o novo capitão - Mortem Hjulmand. "Tem mesmo perfil para ser capitão. Tem o carácter, a personalidade e, acima de tudo, o respeito dos colegas, Hjulmand tem tudo isso e tem-no vindo a provar em campo", diz Maniche, lembrando ainda que o médio "incorporou-se no plantel na perfeição e até já fala Português". "Amorim não viu só um jogador em Hjulmand, viu um capitão."
Os golos de Maniche
Aproveitando este Sporting-FC Porto, Maniche enumerou para a CNN Portugal os golos mais importantes que marcou ao serviço de cada um dos clubes. Pelo Sporting lembra o golo que marcou, já além dos 90 minutos, diante do Nordsjælland (2-1), para a Liga Europa.
Ao serviço do FC Porto, Maniche recordou três golos. O primeiro foi um remate cruzado quando o FC Porto perdia por 1-0 frente ao Marselha, no Vélodrome, a contar para a fase de grupos da Liga dos Campeões.
Os outros dois golos pelo FC Porto são obviamente a noite mágica de Maniche frente ao Lyon, na primeira mão dos quartos de final da Liga dos Campeões de 2003/2004. "Esses e o golo da seleção contra a Holanda ficam para a história", diz o autor dessas obras de arte. E diz com verdade porque foi o que aconteceu.