Como é que a medicina estética rejuvenesce as mãos?

21 nov 2021, 23:52
Rejuvenescimento de mãos (Pexels)

Fique a conhecer os procedimentos estéticos que podem retirar até 10 anos à aparência da pele. Um dos sinais mais visíveis do envelhecimento é a perda de gordura subcutânea, mas há tratamentos estéticos que contrariam isso

É ainda uma área da medicina estética pouco conhecida, mas a pandemia fez aumentar a procura por tratamentos de rejuvenescimento das mãos. Não só porque a necessidade de lavar constantemente as mãos as deixou mais frágeis e envelhecidas, mas porque passamos a olhar mais para elas e para o seu aspeto. As mãos denunciam logo a idade e como estão constantemente expostas, ficam muito mais propensas ao fotoenvelhecimento e ao crono envelhecimento, isto é, ao envelhecimento natural.

“Basta olhar para a cara de uma pessoa que trabalha no campo e para as suas mãos e compará-la com a pele do resto do corpo, quando ela se despe, para se perceber que há uma diferença muito grande”, explica o médico David Valverde, especializado em medicina estética.

Mestre em Bioquímica e com pós-graduação em medicina estética e cosmética, David Valverde explica em que consistem as técnicas de rejuvenescimento de mãos, de que forma atuam e que cuidados requerem.

Quando é que começam a notar-se os sinais de envelhecimento da pele nas mãos? E porquê?

As mãos denunciam logo a idade e desde miúdo que sempre fui fascinado pelo envelhecimento das mãos. E depois comecei a perceber o que é que acontecia ao nível do nosso corpo e da face com a idade. Com a idade também vamos perdendo massa muscular, colagénio, aparece a flacidez e tudo descai. E não perdemos só estrutura dos tecidos a nível de gordura, mas também estrutura óssea. Se olharmos para umas mãos que estão constantemente expostas e com as quais as pessoas não têm cuidado, observamos que ao longo do tempo elas ficam mais mirradas, com as veias mais salientes, as estruturas ósseas mais visíveis e, geralmente, com manchas. O que é que podemos fazer em medicina estética? É tentar, de alguma maneira, colmatar isso.

Como é que se pode contrariar esse envelhecimento?

Há várias técnicas. Existem os lasers para tratar as manchas e outras coisas, mas eu não tenho laser e não faço. Mas também podemos fazer um peeling químico na mão, para começar a tirar alguma pigmentação. Só que isso não preenche a mão por dentro. Uma das formas de preencher é com ácido hialurónico. Para isso, com uma pequenina porta de entrada, ou seja, uma picada, tal como a que se faz para tirar sangue, e depois com uma cânula, que é como se fosse um tubo fino, introduz-se o produto. Quando se começa a introduzir a cânula ela começa a desviar as veias, o que é ótimo para não provocar hematomas (mas claro que isso pode acontecer, tudo pode acontecer em medicina). Com a cânula, que é como um fio condutor, vamos traçando trajetos na mão, em várias zonas, que depois preenchemos com ácido hialurónico, por exemplo.

Que tipo de ácido hialurónico é injetado?

Existem hialurónicos reticulados e não reticulados. O não reticulado é muito parecido com o que existe naturalmente no nosso organismo e vai provocar uma hidratação na pele. O ácido hialurónico reticulado é o mesmo gel, mas tem uma espécie de rede à volta dele que o protege da degradação que o nosso corpo vai fazendo, automaticamente, àquele ácido. O corpo acaba por conseguir desfazê-lo, mas demora mais tempo. Enquanto que com o acido hialurónico não reticulado, o nosso corpo começa rapidamente a integrá-lo e ele acaba por desaparecer, o reticulado permanece mais tempo. Por isso é que ele dura cerca de um ano, um ano e meio, dependendo da velocidade de cada corpo. Isto são os chamados fillers de preenchimento. E dentro desta categoria ainda podemos usar bioestimuladores, que são várias substâncias, como ácido hialurónico e outras, que vão bio estimular a produção de colagénio. Também provocam o tal enchimento e têm ainda a propriedade de conseguir que o nosso corpo comece a produzir o próprio colagénio. E há outra coisa: o ácido hialurónico funciona como uma espécie de captador de água, ou seja, vai buscar água. Imaginemos que eu punha ácido hialuronico em excesso na mão. É preciso pensar que aquele ácido hialuronico ainda vai buscar água. E ao ir buscar água o que é que acontece? Ainda vai encher mais e o volume vai aumentar. Porque é que eu não gosto muito de fazer preenchimento de olheiras com ácido hialurónico? Porque se eu tiver o azar de o pôr num plano que não é o que devia ter posto, ele vai buscar água e a pessoa ainda fica pior. Por isso, prefiro fazer os tratamentos de medicina estética de forma gradual, em conjunto com a pessoa, para tentar perceber o que ela quer e nivelar expectativas. Tem de se ter muito cuidado.

As intervenções nas mãos são uma área ainda pouco procurada na medicina estética?

Geralmente, as pessoas não olham para as mãos. Antes da pandemia, a maioria das pessoas tomava duche de manhã, olhava-se ao espelho três minutos e nunca mais olhava para o espelho, a não ser à noite, antes da higiene. O que é que a pandemia trouxe que nos levou a olhar mais para nós? O facto de estarmos em casa e começarmos a usar muito as videochamadas.

Passamos a ser confrontados a toda a hora com a nossa própria imagem…

Sistematicamente, e passamos a ser confrontados com a nossa própria imagem em videochamadas, sem filtros, sem nada. E ainda com um pormenor: as pessoas trabalhavam sempre com uma luz, um candeeiro colocado atrás, no sitio errado. E muitas das nossas rugas e fragilidades, são jogos de luzes. E a pessoa passou a ver outra realidade. E passamos também a olhar mais para as mãos, inevitavelmente, por termos de as lavar constantemente, de colocar álcool gel, luvas… Mesmo o gesto de aprender a lavar as mãos também implicou que olhássemos para elas. Este procedimento tornou-se usual e, automaticamente, as pessoas começaram a ver se havia soluções para combater isso.

Sentiu esse aumento de procura no consultório?

Comecei a sentir, sim. Claro que quanto mais se fala numa coisa, mais ela é procurada. E a medicina estética funciona muito boca a boca. Alguém que tem uma amiga que fez e que ficou ótima… E se calhar muita gente que nunca tinha pensado nesta questão das mãos, quando ler isto vai começar a pensar. Ou se calhar até já pensaram, mas depois esquecem-se e não fazem nada. E há muitas soluções. Mesmo a maioria das pessoas nem tem o hábito de pôr creme nas mãos e quando põe protetor solar, coloca na parte inferior das mãos e não na parte externa. As mãos são muitas vezes esquecidas. Por isso, o preenchimento das mãos está a começar a ficar muito na berra. Há quem tenha medo de pôr os ácidos hialurónicos ou algo que dê volume, e para esses casos também podemos optar pelo skinbooster.

Como é que é feita a aplicação?

Pode ser com uma cânula ou com umas mini lâminas que fazem umas mini perfurações na pele e é por aí que começamos a deixar algum produto para penetrar nas camadas mais profundas da pele. É uma espécie de líquido, que é um cocktail, que também tem ácido hialurónico não reticulado, antioxidantes, minerais, vitaminas etc. No fundo dá um boost, um empurrão à nossa pele. O mercado está cheio de cremes ótimos, mas não são suficientes porque eles não conseguem penetrar na cama mais profunda da pele.

Os pacientes já chegam com uma ideia do que querem fazer ou simplesmente vão ter consigo porque não gostam do aspeto das mãos, mas não sabem o que fazer?

É mais por aí. Ou porque já fizeram coisas à cara e percebem que as mãos não estão a acompanhar o rosto e então perguntam se há soluções. Os homens não aderem tanto a este tipo de tratamento, são mais as mulheres. A generalidade dos homens não se preocupa tanto com as mãos. Mas para uma mulher, as mãos têm outra importância e basta olharmos para o facto de usarem muitas joias, gostarem de arranjar as unhas e pintá-las… As mulheres dão valor às mãos, mas geralmente só cuidam delas em gabinete de estética e desconhecem a ponte para algo melhor, como um destes tratamento de rejuvenescimento.

Há diferenças ao nível do envelhecimento das mãos entre homens e mulheres?

As características de envelhecimento são as mesmas, seja num homem ou numa mulher. Temos é de perceber que a própria estrutura de um homem é diferente e a estrutura da pele também. A pele das mulheres é geralmente mais frágil, mais fina, mais lisa. A grande diferença é que os sinais de envelhecimento de um homem vão ver-se um pouco mais tarde.

Disse que a duração do ácido hialurónico é de um ano. E a dos outros tratamentos?

Com o skin booster costumamos fazer protocolos de tratamentos em que estabelecemos uma temporalidade de tratamento, que pode ser de mês a mês e depois espaçar. E tudo depende da forma como as mãos são tratadas entre intervenções.

E no caso do peeling, para quem tem manchas na pele, estamos a falar já de idades mais avançadas?

Geralmente sim, mas a partir dos 40 as manchas já começam a aparecer. E tudo depende da exposição que a pele teve ao sol, da sua predisposição para ficar com manchas e de outros comportamentos. Quanto à frequência dos peelings, temos de ir avaliando a evolução de cada caso.

Há uma estação ideal para fazer um peeling nas mãos?

O ideal é no inverno porque não estamos expostos ao sol da mesma forma, nem ele tem a mesma intensidade.

E qual é o nível de dor destas intervenções?

Geralmente não dói. Eu acho que o que pode fazer mais impressão é ver o procedimento. Porque, de resto, o que se sente é apenas a picada para fazer a porta de entrada, e sente-se a cânula a entrar na pele e o produto a ser libertado. Mas a cânula não pica. E para minimizar a picada podemos pôr na porta de entrada um anestésico local, em creme, ou um bocadinho de gelo. Ou posso usar também uma vibração porque os nossos recetores de vibração são mais rápidos do que os da dor.

O que é um recetor de vibração?

É um vibrador, que vibra enquanto eu dou a picada. E o que acontece é que o vibrador engana o cérebro. Isso é muito usado em medicina estética.

Quanto tempo demora cada um destes tratamentos, em média?

Geralmente, cada tratamento demora por volta de meia hora, 15 minutos em cada mão.

Pexels
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Há pessoas que não podem fazer estes procedimentos? Ou doenças que os inviabilizam?

Em pessoas que tenham pele atópica ou feridas abertas, nós não mexemos. Por exemplo, eu nunca ponho ácido hialurónico em pessoas com doenças autoimunes, doenças em que o organismo se ataca a si próprio. Vamos imaginar que uma pessoa com artrite reumatoide vem pôr ácido hialurónico. A doença da pessoa até pode estar controlada, mas eu posso despoletar um descontrole da doença. E é por isso que é tão importante ser um médico a fazer este tipo de procedimento.

Mas há muita oferta no mercado feita por não médicos…

Pois há e isso tem sido uma luta muito grande da Sociedade Portuguesa de Medicina Estética. Mandam vir produtos pela internet… Tudo que eu vejo de promoções de leve dois pague um, ou de promover a venda de um botox por meia dúzia de tostões…

É de desconfiar?

Sim. Porque os produtos que nós aplicamos são produtos caros! Por isso, como é que há pessoas que praticam preços mais baixos do que o do próprio produto? O botox, por exemplo, é um produto liofilizado, vem em pó e é preciso fazer a reconstituição [diluição] e ter alguns cuidados. Como é que uma ampola que geralmente dá para uma pessoa é usada em mais? Eles fazem o milagre da multiplicação. Diluem aquilo mais do que é suposto, a ampola dá para mais do que uma pessoa, mas depois os resultados não são bons. Isto é um problema de saúde pública e que devia estar muito bem regulado. As sociedades de medicina estética têm sido impecáveis contra aquilo a que eles chamam de intrusismo na profissão. Isto são cuidados médicos que não devem ser feitos por outra pessoa. Por exemplo, se for feita uma aplicação sem uma boa desinfeção e depois o paciente ganhar uma infeção, como é que essas pessoas vão resolver isso? Não têm conhecimento para isso, nem têm autonomia para prescrever um antibiótico ou outra coisa qualquer. E choca-me o facto de as pessoas ainda embarcarem nisso.

Provavelmente faz falta uma informação mais clara sobre tudo isso, sobre os preços dos produtos…?

Percebo, mas é difícil. Para já, os preços em medicina estética nunca são fixos. Porque é tudo à base de número de mililitros de produto que se aplica. Há pessoas que precisam de mais e outras de menos. Depende muito, até porque não somos simétricos. Por isso é que é um bocadinho ingrato falar-se de preços em medicina estética. A mensagem que é importante passar é que isto tem de ser feito por médicos. Eu tenho a minha autorização da entidade reguladora de saúde. E basta ir a um sitio que não seja regulado pela Entidade Reguladora de Saúde para perceber que não deve fazer lá. Não é uma informação difícil de assimilar.

E a nível de cuidados pós procedimentos?

Os cuidados são muito básicos tendo em conta que foi aberta uma porta de entrada que não pode infetar. Se for um peeling, é preciso ter cuidado com o sol, fazer uma boa hidratação… Quando falamos de acido hialurónico, os cuidados são outros como não fazer muito exercício nem muito esforço com as mãos, logo a seguir, porque o ácido ainda vai acabar por se moldar. Quando é no rosto, são outros cuidados. Porque o ácido hialurónico é maleável e só se fixa passado umas horas. Por isso tenho o cuidado de dizer ao paciente para ter cuidados na forma como dorme, por exemplo, e para não fazer ginásio de seguida com muitos pesos. O ácido precisa de um bocadinho de tempo. Mas no fundo é só ter bom senso e ter consciência de que acabou de fazer um procedimento estético. Por exemplo, se estava habituada a por produtos agressivos na pele das mãos, tem de ter cuidado nos primeiros dias, não usar produtos de limpeza agressivos…. Basta ter alguma atenção nos primeiros dias.

Os resultados do ácido hialurónico são logo visíveis?

São, mas voltamos ao que disse atrás. O acido hialurónico é logo visível mas tem tendência a melhorar nos dias a seguir, porque vai buscar água. Por isso é preciso ter calma. E no bioestimulador temos de dar tempo à pele para produzir colagénio.

Que idade pode ser retirada às mãos quando falamos de procedimentos de rejuvenescimento?

Essa é uma pergunta difícil porque aos 40 anos, duas pessoas podem ter mãos completamente diferentes. É difícil dizer quantos anos retiramos. Quantificar é ingrato, mas se calhar podia dizer entre 5 a 10 anos. Mas não me quero comprometer com um número porque cada pessoa é um ser único. Duas pessoas com 40 anos não têm as mãos iguais seja por causa das profissões, seja pela história de vida ou por outros fatores.

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