Grávida em risco de vida a quem foi negado um aborto em Malta já está em Maiorca para avançar com procedimento

24 jun 2022, 17:13
Andrea Prudente estava em risco de vida e leis anti-aborto maltesas impediam o término da gravidez (Imagem Twitter)

Andrea Prudente sofreu complicações graves à 16.ª semana de gravidez, mas as rígidas leis anti-aborto do arquipélago maltês impediram o término voluntário da gravidez enquanto fossem detetados batimentos cardíacos

A grávida norte-americana, Andrea Prudente, a quem foi negado um aborto em Malta, após ter tido complicações graves na gravidez, já viajou para Palma de Maiorca, onde está a receber tratamento e irá pôr fim à gravidez, adiantou o companheiro esta sexta-feira à Euronews.

Jay Weeldreyer assegurou que os médicos do Son Espases University Hospital de Palma de Maiorca estão a preparar Andrea Prudente para o procedimento que irá remover os restos de tecidos fetais, porque a mulher estava em risco de vida devido a uma eventual infeção.

Um voo de emergência médica transportou o casal de Malta para Maiorca ao fim do dia da passada quinta-feira. 

Andrea e Jay estavam no arquipélago maltês a celebrar a "lua de bebé", uma espécie de lua de mel antes da criança nascer, quando à 16ª semana de gravidez, a mulher começou a sofrer hemorragias graves na ilha de Gozo e foi aconselhada a tomar medicamentos de prevenção de aborto espontâneo, que se revelaram ineficazes. Dois dias depois foi admitida num hospital com um diagnóstico complicado: a placenta tinha ficado deslocada das paredes do útero e já não possuía líquido amniótico, essencial à proteção do bebé a infeções e ameaças externas ao mundo intrauterino; perante este quadro clínico o bebé tinha "zero hipóteses" e a vida da própria mãe também estava em risco

A vida da mãe estava também em perigo, como uma transferência posterior para o hospital de Mater Dei, na ilha de Malta, veio a confirmar. Para além de uma ruptura da membrana e da posição do cordão umbilical a colocar em maior risco de hemorragia, Andrea testou positivo à covid-19. Os médicos foram assertivos e garantiram que o bebé não tinha quaisquer hipóteses de sobrevivência, mas as rígidas leis anti-aborto do país impedem o término voluntário da gravidez enquanto forem detetados batimentos cardíacos.

Andrea descreve tudo o que experienciou como “traumatizante”. Já o marido da norte-americana equiparou o sucedido a “uma forma inconcebível de tortura emocional e psicológica".

"Só quero sair daqui viva. Jamais conseguiria imaginar um pesadelo destes", disse Andrea Prudente.

As palavras da norte-americana ao jornal britânico The Guardian e a história impressionante levaram várias organizações dos direitos das mulheres a mobilizarem-se. O caso de Andrea recordou, entre grupos feministas e ativistas, o tratamento de Savita Halappanavar num hospital irlandês em 2012, quando o país se encontrava sob leis anti-aborto semelhantes. A mulher acabou por falecer de sepse às 17 semanas de gestação. 

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