567 malas, 423 relógios e 14 tiaras. Ele foi “o primeiro-ministro favorito” de Trump, agora está caído em desgraça

14 set 2022, 20:30
Najib Razak, ex-primeiro ministro da Malásia

Najib Razak terá desviado milhões de dólares de um fundo público para financiar campanhas eleitorais e pagar o estilo de vida luxuoso que levava com a mulher. A Justiça não cedeu à influência. E a prisão define-se como o destino no curto prazo

567 malas, 423 relógios e 14 tiaras. Quando as autoridades fizeram uma rusga à propriedade de Najib Razak, o ex-primeiro ministro da Malásia, de 69 anos, encontraram isto e muito mais. Ao todo, 273 milhões de dólares em bens de luxo.

A mulher, Rosmah Mansor, de 70 anos, é vista como uma Lady Macbeth dos tempos modernos no sudeste asiático. Para muitos, foi ela que forçou o marido a roubar fundos governamentais para sustentar os seus hábitos de consumo extravagantes. Uma das suas compras mais marcantes é um pendente de diamante rosa, avaliado em 27 milhões de euros.

Mas, para a Justiça, os dois são culpados. Donald Trump, ainda antes de ser presidente dos Estados Unidos, descreveu Najib Razak como o seu “primeiro-ministro favorito”. A amizade começou em 2014, enquanto ambos jogavam num campo de golfe de Trump em Nova Jérsia. Depois da eleição, um dos maiores patrocinadores de Trump terá mesmo aceite milhões do malaio Jho Low, amigo do filho de Rosmah, escreve o The New York Times.

Se outrora Najib Razak, filho do segundo homem a ocupar o lugar de primeiro-ministro na Malásia, era visto como intocável, o cenário hoje é muito distinto. Em agosto, chegou a tribunal num carro desportivo preto, entrou pela porta traseira, rodeado de dezenas de guardas prisionais e polícias. Destino: o quinto andar, para o segundo julgamento por acusações de corrupção.

Longa lista de acusações

Em marcha está uma sentença de 12 anos de prisão por desviar milhões em fundos do governo, mais concretamente do fundo 1MDB. O dinheiro, segundo a acusação, terá servido para pagar campanhas eleitorais e para alimentar o estilo de vida luxuoso. A mulher, conhecida pelas suas malas Hermès, também foi condenada: 10 anos por subornos e uma multa acima dos 200 milhões de dólares.

Num país desiludido com a corrupção na política, a postura da Justiça acabou elogiada. “Ninguém esperava que isto acontecesse no Sudeste Asiático”, disse James Chin, professor de estudos asiáticos na Universidade da Tasmânia ao The New York Times, destacando o sentimento de impunidade que tende a reinar nos cargos mais altos do país.

A cadeira do poder foi retirada a Najib Razak em 2017. Pela primeira vez, o seu partido, o United Malays National Organisation, perdia as eleições nacionais. O novo governo avançou de imediato com mais de 40 processos contra o ex-governante. Houve receios de que o tribunal se deixasse influenciar. Mas, no julgamento, os nove jurados foram unânimes ao considerá-lo culpado.

Uma investigação do Departamento de Justiça dos EUA apurou, em 2016, que 731 milhões de dólares foram transferidos para as contas de Najib Razak, a partir de verbas do fundo de investimento 1MDB. Pelo menos 4,5 mil milhões deste fundo desapareceram. Muito do dinheiro continua por recuperar.

Mas, apesar da escala das acusações, os apoiantes do ex-primeiro-ministro esperam que ele possa sair da prisão e relançar a sua carreira política. Para tal acontecer, precisaria do perdão do sultão da Malásia. Logo depois de entrar na prisão, entregou uma petição a pedir perdão. Enquanto ela estiver em apreciação, Najib Razak vai ocupando o seu lugar no parlamento.

O atual primeiro-ministro, Ismail Sabri Yaakob, um aliado de Najib Razak, está sob pressão da UMNO para convocar eleições para novembro: isto porque uma vitória do partido é encarada como uma hipótese para fortalecer a libertação antecipada do ex-primeiro-ministro.

Najib Razak foi condenado, em 2020, por lavagem de dinheiro, quebra de confiança e abuso de poder por receber ilegalmente transferências de uma antiga unidade do fundo de investimento 1MDB. A mais alta instância da Malásia confirmou as condenações em agosto, com o político a ser levado diretamente para a prisão.

Já no julgamento da mulher, foi usado o argumento de que ela exercia influência significativa sobre o marido, à custa da sua natureza "autoritária". Rosmah Mansor chorou e implorou pelo perdão. “Sou vítima de tudo”, insistiu.

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