Nadar, pedalar e correr: o triatlo no sangue dos irmãos Batista

16 nov 2021, 09:02

João Nuno (15 anos) e Ricardo (20 anos) destacaram-se com resultados a nível internacional e nacional em 2021. A história dos meninos de Torres Novas com ambições na modalidade olímpica

«Mais longe e mais alto» é uma rubrica do Maisfutebol que olha para atletas e modalidades além do futebol. Histórias de esforço, superação, de sucessos e dificuldades.

Ricardo, 20 anos. João Nuno, 15.

São irmãos e, além de Batista, têm o triatlo como denominador comum.

Nadar, pedalar e correr, num três em um, nem era coisa de família. Mas tornou-se bem cedo por esta dupla. Foi a partir da onda que Ricardo apanhou, desde os seus três anos, no Clube de Natação de Torres Novas (CNTN), na cidade ribatejana que os viu nascer e crescer.

Uns anos mais tarde, por volta de 2012/2013, Paulo Antunes, treinador e impulsionador do projeto da escola de triatlo integrada no CNTN, criada em 2009, captou Ricardo para a modalidade olímpica. Um ano depois, João seguiu os passos do irmão mais velho.

«Eu já fazia natação e o meu treinador, que ainda é o atual, o Paulo Antunes, acabou por convidar-me. Eu adorei a experiência, a junção de três modalidades e acabei por ficar. Felizmente, tem corrido muito bem», atira Ricardo, ao lado do irmão, em conversa com o Maisfutebol. «O meu treinador era meu professor de educação física e, quando entrei para o triatlo, o meu irmão também já andava. O meu professor perguntou-me se eu também queria e foi aí», conta João.

Encontramos os irmãos Batista após uma época de conquistas e maior afirmação no triatlo.

No início do mês, João foi vice-campeão mundial júnior em Quarteira, cerca de um mês depois de ter sido, na Turquia, vice-campeão da Europa no escalão internacional de Youth. Em setembro, já tinha sido bronze na Taça da Europa de juniores, em Banyoles, Espanha. Estes, entre outros, feitos a registar de um menino que ainda só tem quatro aparições na seleção nacional de Portugal.

Em Quarteira, João rimou com superação: estava em 15.º ao final dos 750 metros de natação e dos 20 quilómetros de bicicleta, mas galgou posições nos cinco quilómetros de corrida e só ficou atrás do espanhol Igor Bellido. «É uma sensação boa, é o meu primeiro ano de júnior. Ficar em segundo no meu primeiro ano, sendo o mais novo em prova, é muito bom, sabendo que ainda tenho mais três anos para fazer esta prova», atira o teenager, perto do feito do irmão, campeão do mundo júnior em 2019. «Ainda tem três anos para isso (risos)», brinca o mais velho.

João Nuno Batista, após cortar a meta em Quarteira, no início do mês

Em junho, Ricardo foi campeão europeu sub-23 de triatlo sprint, na Áustria, com um segundo de vantagem para o alemão Tim Hellwig. Em outubro, o torrejano foi bicampeão nacional de triatlo e ajudou o CNTN – tal como João – a ser também campeão nacional por clubes. 

O equilíbrio entre nadar, pedalar e correr… e a escola

Se um nadador se foca mais na água, um ciclista na bicicleta e um atleta na corrida, triatletas como Ricardo e João têm de dedicar-se com equilíbrio aos três desportos, nesta altura em paralelo com a vida académica. João continua em Torres Novas, no ensino secundário (11.º ano). Já Ricardo passa a semana em Lisboa - está na faculdade a cursar Ciências do Desporto – e admite que coloca já o triatlo em primeiro plano.

«O triatlo rouba muito tempo, sim. Neste momento estou a colocar o triatlo à frente, mesmo dos estudos. Eu tenho as aulas gravadas no computador e consigo ver à hora que quiser, o que é uma vantagem, então acabo por passar o dia praticamente todo a treinar», conta quem treina no Centro de Alto Rendimento do Jamor e não esconde a ambição do projeto olímpico já para Paris 2024.

«Agora estou a tentar, até 2024, o apuramento olímpico para Paris. O meu irmão ainda é mais novo (risos), talvez para 2028, mas é o objetivo máximo de qualquer atleta em desportos olímpicos, digo eu», expõe Ricardo.

João, ainda a viver com os pais, vai equilibrando as contas entre a escola e o triatlo. Aulas de manhã e, quando há tardes livres, combina bicicleta com natação, ou corrida com natação. Em média, são três horas por dia a treinar.

Mas num complexo atlético que combina três modalidades, há preferência? Se João tiver de escolher a mais exigente, aponta à corrida. «Gosto bastante das três e sou equilibrado nas três, mas a mais cansativa é a corrida, a modalidade final e na qual damos tudo para tentar chegar na melhor posição», testemunha.

Para Ricardo, o conforto maior está na bicicleta, mas tem de ser sempre sob o signo do equilíbrio. «Um triatleta tem de gostar muito das três. Se eu tivesse de escolher uma, talvez o ciclismo. É difícil ter um ponto fraco num dos segmentos, caso contrário acabamos por ficar logo fora de prova. Temos de ser bastante equilibrados nos três», partilha.

«Sinto que, cada vez mais, o triatlo está a ganhar reconhecimento»

Integrada em 2000 no programa olímpico, nos Jogos de Sydney, o triatlo teve o auge para Portugal em 2008, com a medalha de prata de Vanessa Fernandes em Pequim.

Sem esconderem que um dia gostavam de ir a uma edição dos Jogos Olímpicos, os irmãos Batista acreditam que este desporto está a ter «reconhecimento» maior no país.

«Sinto que cada vez mais o triatlo está a ser valorizado, é uma modalidade nova em Portugal, recente, entre aspas. Mas, com os nossos feitos e de mais excelentes atletas portugueses, sinto que cada vez mais está a ganhar reconhecimento. Ainda não chegou ao nível do futebol (risos), mas cada vez mais está a ganhar reconhecimento e isso é bom», defende Ricardo, corroborado por João, que não esconde, aos 15 anos, que «gostava de ser profissional» no triatlo.

Ricardo Batista, com o treinador Paulo Antunes, do CNTN

Com a época concluída, ambos apontam já baterias a 2022. Sempre a defender as cores do CNTN ou da seleção nacional. Sempre com o treinador Paulo Antunes, que não só orienta o triatlo do clube torrejano, como também atletas de outros clubes da nata lusa.

Em 2021, Ricardo acaba o ano no primeiro lugar absoluto do ranking de triatlo masculino. João conclui em 16.º lugar e, no seu escalão (cadetes), na liderança.

A concluir, ambos deixam as expectativas e os objetivos para o que aí vem. «No próximo ano vou tentar fazer o circuito mundial todo, em princípio é certo. É tentar fazer os melhores lugares possíveis, claro que não são provas para ganhar com a minha idade, é impossível, mas é para ficar melhor classificado, para começar a ganhar pontos olímpicos, para começar a posicionar-me no ranking». Palavra de Ricardo, seguida da de João. «Gostava de, para o ano, se possível, ganhar a prova em que fiquei em segundo [ndr: mundial]. Também vou para o meu último ano de Youth e gostava de ser campeão da Europa».

(artigo originalmente publicado às 23h50 de 15-11-2021)

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