Foi detido, não se arrepende do que fez e agora vai voltar para a Ucrânia para lutar: “Decidi que o meu país era mais importante do que o meu trabalho”
No sábado de manhã, enquanto via as imagens de um prédio em Kiev atingido por um míssil, Taras Ostapchuk tomou uma decisão rápida: entrou no iate onde trabalha há 10 anos, avisou os colegas de tripulação para saírem e tentou afundá-lo. Aconteceu na marina de Port Adriano, em Maiorca, Espanha.
O iate é o “Lady Anastasia”, que pertence ao russo Alexander Mijeev, diretor-geral da Rosoboronexport. Segundo o chefe de máquinas ucraniano, esta companhia vende material militar a Putin. Foi, portanto, a sua maneira de se vingar.
“Há dois dias, vi, através da internet, uma informação sobre um ataque com míssil a um edifício de apartamentos em Kiev e eu vivo num edifício muito parecido na cidade, muito parecido. Essa informação foi muito forte e perguntei a mim mesmo: ‘O que devo fazer: continuar a trabalhar ou lutar pelo meu país?’ Decidi que o meu país era mais importante do que o meu trabalho”, contou, esta segunda-feira, ao El País.
Foi por isso que entrou na sala de máquinas do "Lady Anastasia" e abriu várias válvulas para provocar o afundamento. Antes, avisou a tripulação para saírem e os colegas, também ucranianos, chamaram a Guardia Civil, que foi ao local detê-lo.
Taras Ostapchuk foi detido no sábado, pernoitou na Guardia Civil de Calvià, em Maiorca e, no domingo, compareceu em tribunal. Ao juiz, disse a verdade: foi um ato de vingança contra o empresário russo, que o ucraniano suspeitou poder ter fornecido o míssil que atingiu o bloco de apartamentos. E garantiu que não se arrepende. Foi posto em liberdade, sob acusação de um crime de danos.
O iate sofreu alguns prejuízos, mas não chegou a afundar-se.
"Estou preparado para lutar"
Quanto ao chefe de máquinas ucraniano, agora a missão é outra: neste momento, está já a caminho da Ucrânia para ir combater os russos.
“Vou voar até à Polónia, porque não posso voar até à Ucrânia, já que o espaço aéreo está fechado. Depois de chegar à Polónia, vou apanhar um comboio ou autocarro até à Ucrânia. Não sei para onde vou, porque as estradas estão bloqueadas. Vou tentar chegar a Kiev, mas não agora”, revelou, também ao El País.
A família de Taras encontra-se em Kiev.
“O meu plano é lutar contra eles [os russos]. Não sei como vou lutar, porque nunca o fiz. Nunca servi no Exército, sou um marinheiro. Mas sim, estou preparado para lutar contra eles."
O Lady Anastasia foi construído em 2001, leva 10 passageiros e tem cinco cabines. Tem bandeira de uma ilha do Caribe: São Vicente e Granadinas. Tem 48 metros de comprimento e está avaliado em sete milhões de euros.
A Guardia Civil está agora a investigar o barco, uma vez que, no registo, aparece uma empresa como proprietária, e não este empresário russo.
Não houve, até ao momento, comentários ao sucedido por parte de Alexander Mijeev, da Rosoboronexport, que exporta material de defesa, como tanques, aviões, armas e munições.