Os 11 «mandamentos» de Abel Ferreira no Palmeiras

Vítor Maia , Pavilhão Rosa Mota, Porto
20 nov 2022, 14:46
Abel Ferreira (EPA/Yuri Edmundo)

O treinador bicampeão sul-americano deu uma palestra na «Thinking Football Summit», evento promovido pela Liga

Abel Ferreira foi um dos convidados do «Thinking Football Summit», evento organizado pela Liga que decorre até este domingo no Pavilhão Rosa Mota, no Porto.

A partir do Brasil, o técnico do Palmeiras deu uma pequena palestra sobre os «Pilares de trabalho, gestão e liderança». O treinador português agarrou-se a um quadro tático e partilhou os seus «11 Mandamentos».

1- Respeito, união e competitividade

É sagrado. Os jogadores não têm de ser amigos, mas o respeito entre eles têm de existir. Esta união de que falo tem que ver com o treinador, mas também com as lideranças do próprio clube. Os capitães têm a responsabilidade de unir e de guiar o grupo de trabalho. Felizmente, temos líderes de grande carácter e de grande pesonalidade aqui. Ajudam-me muito. A competitividade interna é fundamental para seres competitivo contra os teus riviais.

2- Ataque é criatividade, defesa é organização

O ataque é criatividade dentro de uma organização e ideia coletiva. A defesa é organização. É na defesa que vejo o carácter e o compromisso de uma equipa. Esta é a minha opinião. Não estou aqui para convencer ninguém, é a minha opinião. É aquilo em que acredito.

3- Fazer o certo nunca é errado

Vou dar um exemplo já que estamos a falar de jornalismo. No final de um jogo, não percebi uma pergunta de um jornalista e dei-lhe uma resposta agressiva e até arrogante. Depois de ter revisto a pergunta e a minha resposta, decidi fazer uma videochamada e pedir desculpa ao jornalista. Muitos disseram-me que não tinha de pedir desculpa, mas senti que fazer o certo nunca é errado. Ele fez uma pergunta normal e não a soube interpretar. Não deveria ter falado com falei.

4- A alma da equipa é o altruísmo

Fui aprendendo como treinador ao longo destes dez anos. A alma da equipa é o altruísmo. O nosso ego tem de ficar em casa. No futebol há muitos egos, incluindo o do treinador. Ao longo do tempo, aprendi que o ego tem de ficar em casa e que há um bem maior: a equipa. Ninguém está acima da equipa. É bom que os jogadores entendam não só por palavras, mas têm de sentir o que significa deixar o ego em casa e que têm de lutar por algo maior.

5- Ser a nossa melhor versão

É o que mais peço aos jogadores. Não lhes peço que ganhem jogos. Somos obrigados a ser a nossa melhor versão de forma consistente. É o que exijo aos jogadores.



6 – A estrela é a equipa

É a fundação principal. É uma frase corriqueira, mas os jogadores entendem muito bem. É fundamental os jogadores entenderem o que significa isto no seio de um grupo de trabalho. Este código de hnra é partilhado com os meus capitãoes. Ser capitão traz muitos benefícios, mas também muitas responsabilidades.

8 – Gosto pelo treino e amor pelo jogo

É o que sustenta uma equipa vencedora. É maior que tudo. Quando gosto de treinar, vou sentir-me muito melhor e não vou estar dependente das vitórias. Costumo fazer três perguntas aos meus jogadores no início do ano. Se gostam de treinar, de competir e de ganhar. Falo com eles olhos nos olhos. Se demorarem a responder três segundos à primeira pergunta... eles dizem todos que gostam de ganhar, quase todos dizem que gostam de competir, mas treinar… quando não respondem de forma clara ou assertiva, algo é preciso mudar.

7- Renúncias e sacrifícios
 
Como disse, a defesa é organização e aí que vejo o carácter de uma equipa. É por aí que analiso a minha equipa e o adversário. Temos de fazer renúncias e sacrifícios, sobretudo na nossa vida particular. Os jogadores são muito solicitados para vários eventos, alguns acho que devem ir, mas de outros devem fugir. Não consigo dar o dia e a noite ao mesmo tempo. Muitas vezes, essas renúncias têm de ser feitas para mais tarde colhermos frutos.  

10 – A vitória é uma espada

Esta frase fica bem na cabeça e no coração dos jogadores. Quando te sentares em cima de uma vitória e de uma conquista… A vitória é como uma espada: vai-te rachar a meio. É bom que os jogadores sintam isso. Às vezes ficamos empolgados e esquecemo-nos das nossas origens, do nosso trabalho e passamos a viver no mundo da ilusão. É nas derrotas que se processam muitas das grandes aprendizagens.

11 – Acreditar sem ver

Acreditar que vamos ganhar antes de conhecer. Aqui fala-se muito em fé, o povo brasileiro é muito religioso, mas isto é acreditar num caminho e num processo. O Lucas Barrios [ex-internacional paraguaio] lesteve aqui a estagiar connosco e pediu-me um conselho. Disse-lhe: ‘Vais perceber e sentir que queres mesmo ser treinador nas derrotas’. Isso é que vai definir se queres seguir ou não esta profissão que é dura, difícil, mas ao mesmo tempo mágica. É nos momentos de solidão que vais entender se isto é para ti ou não.

9 – Todos somos um

Por norma, em cada clube arranjo uma palavra que nos guia. Todos somos um. Ficou evidente dentro do clube e chegou aos adeptos também. Nunca pensei que tivesse tanto impacto.


 

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