Macron reage ao escândalo e assume estar "orgulhoso" por ter ajudado a fazer lóbi pela Uber em França

CNN Portugal , HCL
12 jul 2022, 21:18
Emmanuel Macron (AP Photos)

Na sua primeira declaração após o escândalo Uber Files, o presidente francês garante que só ajudou a empresa norte-americana por considerar que iria gerar mais trabalhos

Emmanuel Macron afirma estar orgulhoso de ter apoiado a Uber e sublinha que "o faria novamente amanhã e depois de amanhã", após o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação ter revelado os esforços que o na altura ministro da Economia fez para ajudar a empresa norte-americana contra a indústria francesa de táxis.

Várias figuras políticas da esquerda à extrema-direita, bem como o líder do sindicato da Confederação Geral do Trabalho, apelaram a um inquérito parlamentar sobre a investigação Uber Files, que revelou reuniões secretas e não declaradas entre a Uber e Macron entre 2014 a 2016.

À margem de um evento para assinalar a construção de uma nova fábrica de semicondutores na região de Crolles, Macron foi interrogado por um jornalista do Le Monde sobre ter-se encontrado com funcionários de Uber entre 2014 e 2016. "Eu era ministro e fiz o meu trabalho", disse, apontando para uma “atmosfera” em que o encontro entre membros de governo e chefes de empresas, “particularmente quando são estrangeiros, é visto como mau". Macron acrescentou que as suas reuniões com os representantes da Uber eram "sempre oficiais" e incluíam membros do seu staff.

"Estou orgulhoso disso. Se eles criaram empregos em França, estou muito orgulhoso disso. E sabem que mais? Fá-lo-ia de novo amanhã e depois de amanhã", afirmou Emmanuel Macron, ao mesmo tempo que prometeu 1.500 novos postos de trabalho em Crolles, precisamente porque tinha, de forma semelhante, "há vários meses e de forma confidencial - porque temos de preservar os segredos das empresas -, tido uma reunião com o CEO da GlobalFoundries, que está aqui hoje".

Macron disse também que, enquanto presidente, tinha sido o líder global mais falado na regulamentação dos gigantes da Internet. "Quando me tornei presidente, regulámos o sector de forma generosa. Somos o primeiro país que regulamentou as plataformas online e depois disso pressionámo-los a nível europeu. Por isso, estou extremamente orgulhoso", diz.

"Sabem que mais, aqui vai um furo: é muito difícil criar empregos sem empresas e empresários. Por isso continuarei a encontrar empresas e empresários para os convencer a investir no nosso país e farei tudo o que estiver ao meu alcance para abrir sectores onde a atividade está bloqueada, a fim de criar empregos", disse. Já questionado sobre o porquê de enfrentar fortes críticas relativamente às suas negociações à porta fechada com a Uber, Macron justificou-se desta forma: "Se não lutarmos pela educação, pela formação e pela criação de inovação - por outras palavras, oportunidades económicas -, ainda teremos desemprego. E o nosso desemprego - mesmo que tenha diminuído nos últimos cinco anos - continua a ser demasiado elevado".

Danielle Simonnet, do partido de extrema-esquerda França Insubmissa, exigiu um inquérito parlamentar e criticou Macron,  dizendo que foi "um ministro que serviu os interesses de uma app norte-americana contra a opinião do governo e da administração francesa", referindo-se à investigação Uber Files - que mostra como Mark McGann, o lobista principal da Uber na Europa e que assumiu como delator dos ficheiros da Uber, se encontrou várias vezes com o atual presidente francês e que, mais tarde, apoiou-o na sua campanha presidencial de 2016.

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