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Visita de Lula não é só sobre o 25 de Abril: é sobre acordos importantes para os imigrantes

22 abr 2023, 09:35

Realizar ações que melhorem a vida dos imigrantes e fortaleçam laços entre os países é uma obrigação dos governos e beneficiam a todos, sem distinção política

Depois de sete anos, temas essenciais para Brasil e Portugal voltam a estar em cima da mesa. Entre pontos simbólicos e práticos, selam a retomada diplomática entre os países já iniciada na visita que Lula realizou ao país após vencer a eleição no final de 2022. A cimeira agora ocorre em um contexto de aumento do número de brasileiros em Portugal, da guerra na Ucrânia e de polarização política deste e do outro lado do oceano. 

O evento é realizado após quatro anos de um governo que nada fez pelo fortalecimento dos laços entre os países - pelo contrário. Basta lembrar que o ex-presidente Bolsonaro preferiu passear de moto com apoiadores em vez de receber o presidente português Marcelo Rebelo de Sousa, que ele mesmo havia convidado.

Agora, a normalidade diplomática e institucional está voltando. E não é por acaso que a primeira viagem à Europa do presidente Lula tenha Portugal como destino. É o país com maior número de brasileiros no continente europeu - nunca foram tantos - e com laços históricos que todos conhecemos. 

Muito se fala, e com total razão, sobre as lamentáveis declarações de Lula sobre a invasão russa na Ucrânia. Aqui na CNN Portugal, já defendi que essa seja a oportunidade para o presidente conhecer a realidade da guerra e como ela afeta todos que moram na Europa, incluindo os brasileiros.

A visita começou bem nesse sentido. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, se reuniu com representantes da comunidade ucraniana em Portugal, que preparou protestos contra Lula por causa das declarações que culpabilizam a Ucrânia pela guerra - que tem como única culpada a Rússia.

A reunião, realizada na noite de sexta-feira (21), foi um gesto importante de respeito e procura pelo entendimento e que também resultou na confirmação de uma visita ao território ucraniano, que está sob invasão russa. O governo confirmou que o experiente diplomata Celso Amorin visitará Volodymyr Zelensky.

Acordos e simbolismos


Além da guerra e das polêmicas envolvendo o 25 de Abril, é importante sublinhar os demais pontos da agenda. Um deles é a economia, com encontros focados na pauta econômica com empresários europeus e brasileiros. 

De acordo com dados do governo do Brasil, somente em 2022 o comércio entre ambos os países foi de 5,26 bilhões de dólares, especialmente de petróleo e produtos agrícolas.Acordos e entendimentos comuns podem fortalecer ainda mais a relação comercial luso-brasileira e com resultados práticos, mesmo que não imediatos.

A discussão sobre racismo e xenofobia, que brasileiros e demais imigrantes sofrem diariamente em Portugal, é um tema que não pode ser tabu e precisa ser enfrentado. Uma reunião vai tratar do tema e esperamos que as conclusões sejam efetivas e não só palavras bonitas, porque o problema é grave e mexe com o dia a dia dos cidadãos. 

No mesmo sentido, serão formalizados acordos mútuos de validação de diplomas escolares e das carteiras de motorista. Tudo que ajude a diminuir a enorme burocracia existente em Portugal ajuda, principalmente quando se trata de temas ligados com o estudo e trabalho. Esse tipo de iniciativa beneficia diretamente todos os imigrantes. Aqui, não importa para quem foi o voto, todos saem ganhando. 

E essa não é nada além da obrigação de ambos os governos, que devem realizar  um trabalho conjunto em prol dos cidadãos, tanto de brasileiros que moram em Portugal quanto dos portugueses que moram no Brasil. Acordos devem facilitar a vida dos cidadãos, que já enfrentam o desafio de ser imigrante.

Há mais de 20 anos, a formalização do Estatuto de Igualdade de Direitos e Deveres fez, faz e continuará fazendo a diferença na vida dos brasileiros que escolheram Portugal para viver. Os acordos previstos para serem assinados nesta cimeira podem ter o mesmo efeito duradouro, importante e benéfico. 

No campo simbólico, a entrega do prêmio Camões ao cantor Chico Buarque, que dispensa apresentações, é outro ponto importante da visita. Atrasada desde 2019, porque Bolsonaro se recusou a entregar a premiação, a cerimônia promete ser um marco na cultura brasileira - mas também política, digna de ficar nos livros de história. 

Lula, quando esteve preso, prometeu ao artista que sairia da prisão, se tornaria presidente e entregaria pessoalmente o prêmio ao cantor, já que Bolsonaro se recusou a fazê-lo. Na época, o racional foi duvidar da difícil missão de cumprir a promessa. 

Mas afinal, a história está prestes a se tornar realidade. Entre tantos outros episódios dignos de um roteiro na icônica série House of Cards, esse é o exemplo perfeito de como a política e a história brasileira nunca vai deixar de nos surpreender - para o mal e para o bem.
 

* Amanda Lima escreve a sua opinião em Português do Brasil

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