"Zelensky é tão responsável quanto Putin". Lula da Silva diz que o presidente da Ucrânia "quis a guerra"

Agência Lusa , BCE
4 mai 2022, 17:43
Lula da Silva na Argentina (EPA)

O líder progressista brasileiro considerou que Zelensky “quis a guerra” porque se ele “não quisesse a guerra, teria negociado um pouco mais” a favor da paz

O ex-presidente brasileiro Lula da Silva criticou esta quarta-feira os presidentes diretamente envolvidos no conflito na Ucrânia, a União Europeia e os EUA, apontando que os mesmos não negociaram o suficiente a favor da paz.

“Nós, políticos, colhemos aquilo que nós plantamos. Se eu planto fraternidade, solidariedade, concórdia, vou colher coisas boas. Mas se eu planto discórdia, vou colher desavenças. Putin não deveria ter invadido a Ucrânia”, declarou Lula da Silva, numa entrevista divulgada esta quarta-feira, que é uma das capas da última edição da revista norte-americana Time.

“Mas não é só o Putin que é culpado, são culpados os EUA e é culpada a União Europeia. Qual é a razão da invasão da Ucrânia? É a OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte, NATO]? Os EUA e a Europa poderiam ter dito: ‘A Ucrânia não vai entrar na OTAN’. Estaria resolvido o problema”, acrescentou.

Questionado novamente sobre o conflito, o líder brasileiro, que foi apresentado no texto como o candidato que lidera as sondagens para a eleição presidencial no Brasil marcada para outubro, também disse não saber se o desejo da Ucrânia de entrar na NATO conduziu à invasão da Rússia, como justificou o Governo russo no início da guerra.

“Esse é o argumento que está colocado. Se há algum segredo, nós não sabemos. O outro é a [possibilidade de a] Ucrânia entrar na União Europeia. Os europeus poderiam ter resolvido e dito: ‘Não, não é o momento de a Ucrânia entrar na União Europeia, vamos esperar’. Eles não precisariam fomentar o confronto!”, avaliou Lula da Silva.

Lula da Silva critica falta de seriedade nas negociações

O ex-presidente brasileiro considerou que as conversas para evitar a guerra na Ucrânia “foram muito poucas”, frisando que os países envolvidos no conflito “poderiam ter-se sentado numa mesa de negociação e passado 10 dias, 15 dias, 20 dias, um mês discutindo para tentar encontrar a solução".

"Então eu acho que o diálogo só dá certo quando ele é levado a sério”, sustentou.

Lula da Silva criticou diretamente o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmando que ele é tão responsável quanto o Putin pela guerra.

“Ele [Zelensky] é tão responsável quanto o Putin. Porque numa guerra não tem apenas um culpado”, disse o ex-presidente brasileiro.

O líder progressista brasileiro considerou que Zelensky “quis a guerra” porque se ele “não quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais”.

“É assim. Eu fiz uma crítica ao Putin quando estava na Cidade do México, dizendo que foi errado invadir. Mas eu acho que ninguém está procurando contribuir para ter paz. As pessoas estão estimulando o ódio contra o Putin. Isso não vai resolver! É preciso estimular um acordo. Mas há um estímulo [ao confronto]! Você fica estimulando o cara [Zelensky] e ele fica se achando o máximo”, afirmou Lula da Silva.

“Ele [Zelensky] fica se achando o rei da cocada, quando na verdade deveriam ter tido conversa mais séria com ele: ‘Ô, cara, você é um bom artista, você é um bom comediante, mas não vamos fazer uma guerra para você aparecer’. E dizer para o Putin: ‘Ô, Putin, você tem muita arma, mas não precisa utilizar arma contra a Ucrânia. Vamos conversar!’”, concluiu.

Na entrevista, a revista norte-americana lembrou que Lula da Silva deixou o poder no Brasil (2003-2010) como o Presidente mais popular da história do país, citando também as reviravoltas de sua trajetória política nos últimos anos.

O texto lembrou as condenações do ex-presidente, que foi considerado culpado num processo da Operação Lava Jato pelo qual passou 580 dias preso, tendo sido libertado em 2019 após o Supremo Tribunal Federal (STF) considerar que ele foi julgado por um juiz suspeito e parcial, o ex-ministro Sérgio Moro - posição reiterada na semana passada pelo Comité de Direitos Humanos da ONU.

O texto lembrou que o ex-presidente brasileiro vai disputar novamente as eleições presidenciais e deve enfrentar o atual chefe de Estado, Jair Bolsonaro, que tentará renovar o seu mandato.

Relacionados

Brasil

Mais Brasil

Patrocinados