Não foi um discurso dito em clima de paz. E foi um discurso que falou sobre um mundo que também ele não está em paz. Lula, que chegou a equiparar Putin e Zelensky, fez de maneira diferente os seus comentários sobre a guerra
"Condenamos a violação da integridade territorial da Ucrânia." A garantia foi deixada pelo presidente do Brasil, terminando a sua presença em Portugal com a afirmação de que o país está contra a guerra, depois de posições polémicas sobre a invasão russa - nas quais chegou a colocar Portugal entre os culpados pelo conflito. Num discurso a partir da Assembleia da República, e apesar de se tratar de um evento à parte da sessão solene, Lula da Silva não fugiu a comparar o 25 de Abril com a luta ucraniana.
"A Revolução dos cravos mostra que a política militar que enfrenta um povo em luta jamais poderá vencê-lo. Poderá, no máximo, prorrogar o conflito indefinidamente, e assim tornar mais custoso e inevitável o acerto de contas com a própria população", afirmou, lembrando o fim da ditadura em Portugal, que diz ter ajudado para o fim da ditadura no Brasil - e sugerindo que a revolução deve servir de exemplo para a guerra em curso na Ucrânia. Lula da Silva diz que o diálogo é a melhor forma de se chegar à paz, até porque "nenhuma solução de um conflito nacional ou internacional será duradoura senão for baseada no diálogo e na negociação política".
Compreendendo as dificuldades que a guerra causa na Europa, e que se transportam para o resto do mundo - atingindo em especial os sectores alimentar e energético, Lula da Silva pediu uma ordem internacional baseada no respeito e na preservação da soberania, apelando ao fim do "sofrimento e perda de vidas". Em paralelo, e olhando para o papel da Organização das Nações Unidas, Lula da Silva reiterou que a disposição do Conselho de Segurança deve mudar: mesmo que sem o dizer, sugeriu que o Brasil deve passar a ser membro permanente, até porque é importante ampliar a forma como as nações estão representadas.
"Que cena ridícula"
Lula da Silva diz sentir-se em casa em Portugal e considerou o 25 de Abril um “salto para o futuro” do país com destino ao “desenvolvimento económico com justiça social”. No seu discurso na Assembleia da República, o presidente do Brasil afirmou que o 25 de Abril permitiu que “Portugal desse um verdadeiro passo para o futuro”, ao recuperar “as liberdades civis, a participação política dos cidadãos, a democratização política, os direitos trabalhistas e a livre organização sindical, criando as bases para o desenvolvimento económico com justiça social”.
“Nos últimos dias tive aqui em Portugal a inconfundível sensação de estar em casa, sentimento que acredito que é compartilhado por todos os brasileiros que vivem em Portugal e todos os portugueses no Brasil”, começou por dizer Lula da Silva na sua intervenção, suscitando aplausos da maioria dos deputados, enquanto os deputados do Chega batiam nas mesas e empunhavam cartazes com as bandeiras da Ucrânia e onde se podia ler frases como “Chega de Corrupção”.
Perante isto, o presidente da Assembleia da República chamou a atenção dos deputados portugueses liderados por André Ventura: “Os senhores deputados que se querem permanecer na sessão plenária devem comportar-se com urbanidade, cortesia e a educação que é exigida a qualquer representantes do povo de português. Chega de degradarem as instituições, chega de porem vergonha no nome de Portugal”.
À saída, Lula reagiu - e reagiu irritado. "Cena ridícula, que papelão fizeram", afirmou o presidente brasileiro. E foi-se embora.