"Tentaram enterrar-me vivo", diz Lula da Silva que garante estar pronto para "baixar as armas e escolher a vida"

CNN Portugal , HCL
31 out 2022, 00:43

Lula da Silva procurou a reconciliação do povo que diz ser a sua "causa", no seu primeiro discurso desde que foi eleito presidente do Brasil. Pelo caminho foi dando pistas sobre a sua estratégia para que o país "encontre uma saída" de uma "situação muito difícil"

Algumas horas após ser eleito pela terceira vez presidente do Brasil, Lula da Silva deu o seu primeiro discurso à nação e começou a revelar alguns dos pontos que considera essenciais para o seu mandato. Em primeiro lugar, disse, a prioridade é acabar com a fome "outra vez". "Não podemos aceitar como normal. Se somos o terceiro maior produtor de alimentos, se temos tecnologia e uma imensidão de terras, temos o dever de garantir que todo o brasileiro possa tomar o café da manhã, almoçar e jantar todos os dias", disse durante uma conferência de imprensa num hotel na região central da capital paulista.

Ao mesmo tempo em que Jair Bolsonaro divulgava que não se iria posicionar hoje sobre o resultado das eleições, que fizeram dele o primeiro presidente a não conseguir ser reeleito na história do Brasil, Lula da Silva agradeceu a Deus e ao povo pelo resultado. "Eu me considero um cidadão com um processo de ressurreição na política brasileira, porque tentaram enterrar-me vivo, mas estou aqui para governar esse país numa situação muito difícil", afirmou

Sublinhando que tem fé de que com a ajuda do povo, o Brasil "encontre uma saída, para o país voltar a viver em harmonia e democraticamente", classificou esta como uma das mais importantes eleições da história, "com dois projetos opostos do país e que tem como vencedor o povo brasileiro". "É uma vitória de um imenso movimento democrático que se formou acima das ideologias e dos interesses pessoais", garantiu também, acrescentando que a maioria do povo brasileiro "deixou claro que deseja mais democracia, inclusão social, respeito mais liberdade, igualdade e fraternidade o nosso país". 

Prometendo também que "não vão existir dois países", Lula deixou a promessa de enfrentar "sem trégua o racismo, o preconceito, a discriminação" para que "brancos, negros e indígenas tenham os mesmos direitos e oportunidades". "A ninguém interessa viver num país dividido e em permanente estado de guerra", acrescenta. "É hora de baixar as armas que nunca deviam de ter sido empunhadas. Nós escolhemos a vida".

Para além disto, no discurso de Lula foi também vincada a prioridade de retomar o diálogo entre as instituições e o povo. Para, por um lado, "retomar o diálogo com o legislativo e o judiciário sem tentativa de exorbitar intervir, controlar, mas buscando reconstruir a convivência harmoniosa entre os três poderes" e, por outro, para conciliar as relações entre o governo e o povo. 

Para este último objetivo, Lula deixou aquilo que será uma das suas primeiras mudanças no governo brasileiro, trazer de volta as conferências nacionais, "para que os interessados apresentem ao Governo sugestões de políticas públicas para qualquer área".

"O país é grande demais para ser pária". A mensagem de Lula para fora

Depois, Lula virou-se para fora, numa altura de elevada pressão internacional por causa da guerra na Ucrânia, e reiterou que o Brasil está pronto para retomar o protagonismo no panorama internacional. "O país é grande demais para ser relegado ao papel de pária". 

Assim, o novo presidente brasileiro diz que é tempo de o Brasil deixar de ser visto apenas como um exportador de commodities e de matéria prima. "Vamos reindustrializar o Brasil", promete, acrescentando a sua vontade de ajudar a desenhar um comércio internacional mais justo com os Estados Unidos e a União Europeia.

"O mundo sente saudade do Brasil, soberano, que falava de igual para igual com os mais ricos e que ajudava os mais pobres", afirma, antes de se despedir sublinhando que o "Brasil é a minha causa, o povo é a minha causa".

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