Centro dedicado a Luis Sepúlveda traz todo o espólio do escritor para a Póvoa de Varzim: "Será como se estivéssemos no seu escritório em Gijón"

17 fev 2023, 16:25
Luís Sepúlveda

Centro de memória vai ser recriado no espaço de uma casa que alberga cerca de 30 mil livros e que já funciona muitas vezes como biblioteca de jardim. A ideia é criar "um pequeno centro cultural, ligado ao livro"

A ligação de Luis Sepúlveda à Póvoa de Varzim confunde-se com a história daquele que é um dos maiores eventos literários do país, o Correntes D'Escritas. O escritor chileno esteve ligado à organização deste festival desde a primeira edição e foi um dos seus maiores embaixadores. De resto, foi no Correntes Correntes D'Escritas que viria a surgir em público pela última vez, antes de morrer infetado com covid-19, em 2020. Ora, é todo este contexto que explica o facto de o espólio de Sepúlveda, que vivia em Gijón, ter sido doado à autarquia poveira pela viúva, Carmen Yáñez. Agora, nesta cidade nortenha à beira-mar, com a qual Sepúlveda tinha uma longa história de amizade, vai nascer um pequeno centro cultural com um espaço dedicado à sua memória.
 
"O Correntes D'Escritas tem 24 anos e ele foi o grande incentivador deste encontro, trouxe vários escritores que ele conhecia da Colômbia, do Chile, da Argentina. E todos estes escritores começaram a fazer aquilo que é hoje o Correntes D'Escritas", afirma à CNN Portugal Luís Diamantino, vereador da Cultura na Câmara Municipal da Póvoa de Varzim.
 
Este centro de memória será criado num dos espaços da Casa Manuel Lopes, uma casa do início do século XX que alberga cerca de 30 mil livros e que já funciona muitas vezes como biblioteca de jardim. A ideia é criar aqui "um pequeno centro cultural, ligado ao livro, mas também a Luis Sepúlveda".
 
"Teremos, por exemplo, uma sala direcionada a uma exposição que já fizemos com o Daniel Mordzinski, que era muito seu amigo e que era o seu fotógrafo, que é uma exposição da vida do Luis Sepúlveda, dos seus amigos, da sua famíia", explica Luís Diamantino. 
 
Por outro lado, será feita também a "reconstituição do seu escritório", com "tudo o que havia no seu gabinete, até para além da sua biblioteca". "As estantes virão para a Póvoa, a escrivaninha virá para a Póvoa, os quadros, os diplomas, os prémios que lhe foram atribuídos - e foram inúmeros - virão para a Póvoa e serão colocados todos como se estivéssemos em Gijón, no escritório de Luis Sepúlveda, onde ele escrevia, com o seu computador, com tudo", completa o vereador.
 
A autarquia revela que já está a trabalhar na criação deste espaço e o objetivo é que o centro de memória possa abrir "o mais depressa possível", idealmente no próximo ano. "Estamos a falar de turismo literário, que é muito importante. Somos capazes de nos deslocarmos a qualquer terra só para ver a casa de um escritor, para conhecer melhor o escritor", destaca Luís Diamantino.

A "capital literária" do país nesta altura

Turismo literário é o que não falta por estes dias na Póvoa de Varzim, com mais uma edição do Correntes D'Escritas, que começou na terça-feira e que tem promovido muitos encontros entre escritores e leitores, em vários espaços da cidade. "No Correntes não há barreiras, o leitor está ali com o escritor à mão de semear, ou à mão de assinar, e pode conversar com ele. O leitor pode ser um amigo do escritor e do livro logicamente porque o livro está no centro disto tudo", refere o verador camarário.
 
Na época baixa do turismo balnear, a cidade costeira assume-se, assim, como a "capital literária" do país e a própria economia local tem respondido à projeção conquistada pelo evento. 
 
"A Escola Superior de Hotelaria e Turismo que fica entre a Póvoa e Vila do Conde já criou uma pós-graduação em turismo literário. Isto é importante porque significa que já há frutos do que estamos a fazer. A sociedade civil responde positivamente ao que está a acontecer. Abriam mais livrarias na cidade, temos um restaurante que é uma livraria. O livro começa realmente a ganhar espaço", afirma o vereador. 
 
Este ano, o encontro de escritores prestou homenagem a Agustina Bessa-Luís, que viveu durante alguns anos na Póvoa de Varzim, com uma exposição que vai correr o país para celebrar o seu centenário, a Ana Luísa Amaral, que morreu no ano passado e era uma "amiga" do Correntes D'Escritas, e à escritora brasileira Nélida Piñon, que também morreu no ano passado.
 

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