"Há um antes e um depois de Aníbal Cavaco Silva": Montenegro homenageia o "primeiro-ministro que transformou Portugal"

5 nov, 14:20

Para Montenegro, Cavaco Silva “construiu um país virado para o futuro, que finalmente almejou estar ao nível dos países mais desenvolvidos da Europa”

Luís Montenegro prestou esta quarta-feira homenagem a Aníbal Cavaco Silva, descrevendo o antigo primeiro-ministro como uma “referência maior para o atual Governo” e “uma personalidade central da história da democracia portuguesa”.

“É com profunda satisfação e uma imensa gratidão que hoje recebemos aqui o Presidente Aníbal Cavaco Silva e a doutora Maria Cavaco Silva, para assinalar o início de um ciclo governativo que abriu aquele que foi o período mais proveitoso e mais profundo da nossa democracia”, começou por sublinhar.

A cerimónia, realizada no Palácio de São Bento, assinalou os 40 anos da tomada de posse do primeiro governo de Cavaco Silva, a 6 de novembro de 1985, e contou com a presença de vários membros dos seus executivos, como Luís Marques Mendes, Leonor Beleza, João de Deus Pinheiro e Luís Mira Amaral, bem como ministros e secretários de Estado do atual Governo.

Várias figuras ligadas ao PSD marcaram presença na homenagem a Cavaco Silva, em São Bento. Lusa

Perante os ilustres convidados, o primeiro-ministro aproveitou ainda para destacar que o legado de Cavaco Silva “continua ainda a ter marcas muito impressivas na realidade do país”, recordando o impacto dessa época na sua própria geração. “Marcou muitas gerações e, perdoem-me uma palavra pessoal, marcou sobretudo a minha. A geração que acedia ao ensino superior e pôde usufruir das oportunidades criadas pelas infraestruturas e transformações que o país então empreendia”, salientou.

O atual chefe do Governo descreveu Cavaco Silva como “um primeiro-ministro que transformou Portugal”, reconhecendo a importância das reformas estruturais realizadas entre 1985 e 1995. “O professor Cavaco Silva e os governos que chefiou foram marcados por decisões corajosas e por um conjunto extenso e coordenado de reformas que transformaram as políticas públicas, a sociedade portuguesa e construíram as bases de um Portugal moderno”, sublinhou.

Cavaco Silva sucedeu nos comandos da política portuguesa a Mário Soares em 1985 como primeiro-ministro, cargo em que permaneceu por mais dez anos. Em 1995 era sucedido pelo socialista António Guterres. Com esse longo período de governação, Cavaco tornou-se no político que mais tempo esteve na liderança de um Governo em Portugal desde o 25 de Abril, num período em que conseguiu duas maiorias absolutas.

Para Montenegro, durante esses anos o antigo governante “construiu um país virado para o futuro, que finalmente almejou estar ao nível dos países mais desenvolvidos da Europa”, acrescentando que “independentemente das perspetivas e da orientação política de cada português, é justo reconhecer que há um Portugal antes e um Portugal depois de Aníbal Cavaco Silva.”

Sentado na primeira fila de uma sala onde por muitas vezes se dirigiu ao país, o também ex-Presidente da República ouviu o atual primeiro-ministro apontar os seus contributos na modernização do sistema educativo, da saúde, da administração pública e das infraestruturas. “Este ciclo foi desde o sistema de ensino ao sistema de saúde, ao mercado de trabalho, à arquitetura económica do país, à coesão social e territorial, nomeadamente nas infraestruturas rodoviárias e ferroviárias”, disse, sublinhando que as políticas de Cavaco Silva “aproximaram os cidadãos do Estado e consolidaram a democracia”.

No encerramento da homenagem, Montenegro dirigiu também palavras de reconhecimento pessoal ao antigo governante. “É para mim uma honra poder dizer hoje muito obrigado. Obrigado por tudo isso, mas sobretudo pela inspiração que nos transmite e que nos impõe a mesma responsabilidade de estar à altura dos desafios do nosso tempo. Hoje, como então, é necessário levar mais longe o processo de criação de infraestruturas estratégicas para o desenvolvimento do país e reafirmar a ideia de modernização que esteve muito presente nos governos de Cavaco Silva”.

A cerimónia de celebração dos 40 anos do primeiro Governo de Cavaco Silva serviu ainda para Montenegro inaugurar uma exposição fotográfica dedicada ao legado do antigo primeiro-ministro e Presidente da República, que estará presente na residência oficial do primeiro-ministro durante o mês de novembro.

Cavaco lembra momento menos bom

O antigo primeiro-ministro Cavaco Silva lembrou a substituição de cinco ministros como o pior momento dos anos à frente do Governo e o acordo com o PS, em 1989, para a revisão constitucional, como o melhor.

Cavaco Silva disse não querer aproveitar a ocasião para falar sobre a ação dos seus governos, preferindo expor quais foram, para si, os pontos mais alto e mais baixo à frente do executivo.

O antigo chefe de Governo disse que o pior momento foi a remodelação do executivo a 2 de janeiro de 1990, em que foram substituídos cinco ministros, entre eles o então vice-primeiro-ministro e o ministro da Defesa.

“Tive que preparar e concretizar a substituição de cinco ministros, incluindo o vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa, que tinha acabado de pedir admissão. Foi, para mim, muito pesada e profunda a solidão que normalmente assalta um primeiro-ministro quando tem de remodelar o governo. O anúncio da remodelação, no dia 2 de janeiro de 1990, apanhou de surpresa a comunicação social e o país político”, disse.

Cavaco Silva discursa durante a homenagem em São Bento. Lusa

Cavaco Silva acrescentou que essa crise política “não impediu a repetição da maioria absoluta do PSD nas legislativas que seguiram em 1991”.

Sobre o melhor momento, o histórico social-democrata escolheu o dia em que o seu Governo chegou a acordo com o PS os termos da revisão constitucional de 1989, em que foi eliminado o princípio da irreversibilidade das nacionalizações realizadas no pós-25 de abril, definiu uma abertura para da televisão à iniciativa privada, reduziu o número de deputados e eliminou a plena gratuitidade do Sistema Nacional de Saúde (SNS) e consagrou o referendo popular.

“Foi uma revisão constitucional decisiva para o País vencer o desafio da integração europeia”, considerou.

Nesta sessão, que decorreu na Sala da Lareira, participaram os ministros do atual Governo e vários antigos governantes de Cavaco Silva, como o atual candidato presidencial Luís Marques Mendes, a conselheira de Estado Leonor Beleza ou a antiga líder do PSD Manuela Ferreira Leite.

Eduardo Catroga, João de Deus Pinheiro, Teresa Patrício Gouveia, Faria de Oliveira e Mira Amaral foram outros dos convidados da cerimónia.

Atrás do púlpito estava uma fotografia da tomada de posse de Cavaco Silva, conferida pelo então Presidente da República Ramalho Eanes e onde era também possível ver o seu antecessor na chefia do Governo, o socialista Mário Soares.

Aníbal Cavaco Silva foi primeiro-ministro durante 10 anos, entre 1985 e 1995, tendo conquistado duas maiorias absolutas em eleições legislativas. Entre 2006 e 2016 exerceu funções como Presidente da República.

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