REPORTAGEM || Este sábado, a campanha da AD termina mais cedo por causa do dérbi. Houve banho de multidão em Viana do Castelo e depois no comício de Famalicão. Só faltou dançar o vira
"Mas então ele já se foi embora e nem sequer dançámos?" Alda e Henrique não conseguem esconder a desilusão. "Vínhamos com a ideia de dançar, mas com este povo todo... " O Grupo de Bordadeiras da Casa do Povo de Cardielos veio de propósito com 35 elementos à Praça da República de Viana do Castelo para receber Luís Montenegro, elas com os seus trajes típicos, os lenços na cabeça, os aventais à cintura, eles de fato preto e chapéu. Esperaram pacientemente, as raparigas de mão à cintura, prontas a bailar o Vira de Cardielos, mas quando o candidato da AD chegou a confusão foi tanta que não foi possível. Montenegro parou junto ao grupo, os músicos tocaram o Vira de São Silvestre e depois trocaram breves palavras. "Ele disse que se sente muito feliz por estar aqui e faz muito bem porque o Alto Minho é muito bonito", diz, orgulhosa, Alda, que é cantadeira. "Eu não danço, menina, sei dançar mas não danço, com este físico dava-me um abafo", ri-se Alda. As raparigas entreolham-se, tristes por não terem podido mostrar os seus dotes. "Viemos aqui para nada", lamenta-se uma miúda.
Em Viana, a arruada da AD está composta. E nem precisa dar muitos passos para encontrar mais ranchos folclóricos. Mais ranchos para Luís Montenegro? Nada disso. São o Rancho Folclórico Renascer da Areosa e o Grupo de Danças e Cantares do Carreço, que vieram fazer "o feirão" a Viana do Castelo este sábado, cada um com a sua barraquinhasde comes e bebes. Há pataniscas e bolinhos de bacalhau, bôla salgada e broa de milho. A Areosa trouxe moelas, o Carreço trouxe arroz doce. "Daqui a nada já não há nada, vai ver", afiança uma das vendedoras trajada a rigor. A festa não é para ele, mas, já que aqui está, Montenegro aproveita para dar uns beijinhos, provar uma patanisca e fazer um brinde.
Está ainda a comitiva na Praça da República quando logo ali à frente está uma banda a tocar. Uma banda? Para Luís Montenegro? Nada disso. É a Banda Marcial de Guifães, na Maia, e está aqui a acompanhar as mordomas e os mordomos da Festa das Rosas de Vila Franca. Chegaram cedo, antes das 10:00, ainda não havia colunas com música nem jotas a gritar para deixarem o Luís trabalhar. "Esta é uma festa em honra de Nossa Senhora do Rosário e dura todo o fim de semana", explica Francisca Forte, que tem 18 anos e é uma das sete "mordomas" neste desfile, carregando o ouro ao peito. "É muito pesado mas não custa tanto porque não são fios, é um colete", explica Francisca a rir. "Se não ia ficar a doer-me o pescoço." Logo à tarde têm cortejo em Vila Franca e as raparigas levam cestos bordados. Este domingo é a procissão onde os rapazes carregam os andores. Então e o Luís Montenegro? "Disso não sei nada".
A banda segue as mordomas pela rua da República, a arruada da AD vira à direita, como deve ser, pela rua Manuel Espregueira. Todos ao molho, as bandeiras ao alto e lá no meio Luís Montenegro, sempre acompanhado do cabeça de lista da AD e presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, a que se juntou mais à frente Paulo Morais, que será candidato pelo PSD nas próximas autárquicas à Câmara desta autarquia. Também lá andam pelo meio Nuno Melo, líder do CDS-PP, o eurodeputado Sebastião Bugalho e Hugo Soares, secretário-geral do PSD.
Montenegro vai cumprimentando as pessoas que estão nos passeios à sua espera, à porta das lojas, sentadas em esplanadas. Não faltou a paragem na tradicional pastelaria Manuel Natário, onde o candidato provou as famosas bolas. Ao ver a confusão que vem lá, a peixeira Albertina pega no seu carrinho e afasta-se uns metros para o lado: "Vêm com a força toda". A meio da rua estreita, Montenegro sobe a uma varanda para acenar aos apoiantes.
Fernando também vem à porta do seu estabelecimento: chama-se "Ourivesaria Fernando", mas, para falar a verdade, aqui não se vende ouro, só prata dourada. "Não engano ninguém, está aí escrito na montra o que é", diz o comerciante, que deixou de vender ouro quando há uns dez foi assaltado. Além disso, explica, "o ouro está caríssimo" e com a crise que se vive as pessoas procuram coisas mais baratas. Por exemplo, aquele coração grande, que está aqui exposto, em prata dourada custa 349 euros. E se fosse em ouro? "Ponha-lhe mais um zero!" "Claro que em ouro é melhor e há muitas pessoas que têm ouro antigo, de família, trabalhado à mão. Mas quem não pode compra aqui. Eninguém diz que não é ouro", garante.
Afinal, no ouro, como nas arruadas, a aparência é o que mais importa. E esta já rendeu muitas fotografias e vídeos para imortalizar a passagem de 40 minutos de Luís Montenegro por Viana do Castelo. No final, o primeiro-ministro percorre alguns metros às cavalitas de membros das juventudes da AD, como já aconteceu noutras localidades. “Obrigado a todos, obrigado Viana. Vamos continuar até ao fim, a lutar por uma maioria maior, não deixar ninguém em casa, mobilizar toda a gente, até domingo. Viva Portugal!”, grita, de cima de um vaso, e fazendo o "V" de vitória.
Segue-se se um comício em Vila Nova de Famalicão, onde o mercado se enche de apoiantes para ouvir os candidatos da AD. Este sábado, a agenda da campanha termina mais cedo devido ao jogo de futebol entre Benfica e Sporting.