Apesar de ter a campanha muito bem planeada pela sua equipa, o candidato da AD gosta de improvisar. Esta manhã, em Porto de Mós, não resistiu a subir ao primeiro andar de uma apoiante de longa data. "Estava tão feliz que nem era capaz de falar", conta Mariazinha
Mariazinha veio à janela ver o que se passava, que música era aquela ali na rua, e assim que percebeu foi logo buscar a sua bandeira, a bandeira cor de laranja do PSD que tem “de outras campanhas já antigas”, para agitá-la à passagem de Luís Montenegro. Mas nunca esperou isto. “Tenho sonhos disparatados, mas isto nunca sonhei.” Isto foi um primeiro-ministro que não contente em acenar e esticar-lhe o braço com os dedos em “v”, como faz habitualmente quando passa por alguém à janela, decidiu ir dar-lhe um beijinho. “Posso subir?”, perguntou. “Claro, suba, suba.” E só depois é que ela percebe o que lhe está a acontecer. Logo hoje que “estava tão mal vestida.”
“Fiquei tão feliz! Recebi um abraço e um beijinho do primeiro-ministro!”, exclama, depois de toda a emoção. Maria Teresa Narciso é o nome que tem no cartão de cidadão, mas em Porto de Mós todos a conhecem como Mariazinha Martins, apelido do marido que já faleceu. Tem 97 anos, trabalhou no comércio a vida toda e também foi do PSD a vida toda: “Só nas primeiras duas eleições é que votei no CDS mas desde então é sempre, sempre PSD, nunca mais votei noutro. Se tivesse pernas para andar já estava lá em baixo.”
Ao candidato da AD que lhe entrou em casa antes do meio-dia, enquanto o almoço estava ao lume, acompanhado da ministra da Justiça, Margarida Balseiro Lopes, cabeça de lista por Leiria, e pelo presidente da Câmara de Porto de Mós, Jorge Vala, disse que acreditava que ele ia ganhar, que estava muito contente por o ter ali e pouco mais. “Eu estava tão feliz que nem era capaz de falar.” Não pediu nada, nem sequer um aumento da reforma. “É toda a gente a pedir dinheiro, eu não pedi nada, não falámos de dinheiro, nas festas não se fala em dinheiro.” Montenegro agradeceu-lhe o apoio e depois das fotografias à janela continuou o seu percurso.
“Isto fica histórico”, conclui Mariazinha. “Eu sou muito velha, infelizmente já não vou fazer mais nenhuma campanha. Sou uma pessoa católica, cristã, e sei que tenho os dias contados. Mas enquanto cá estou, faço a festa. Deus fecha a minha vida com chave de ouro.”
Nem Mariazinha estava à espera nem os assessores de campanha, que já tinham tudo preparado para Montenegro virar à esquerda, e tiveram de mandar parar o Grupo de Gaiteiros do Pombal e fazer ali um compasso de espera. “Mas onde é que ele vai?”, pergunta Ana, que estacionou a carrinha com quatro piscas e veio com as duas colegas para ver o primeiro-ministro. “Tenho a carrinha cheia de comida, não podemos atrasar-nos.” A carrinha está cheia de marmitas com bacalhau à Brás, que vai ser o almoço dos alunos da escola secundária. “A gente ao meio-dia tem de estar a servir”, impacienta-se Ana.
Até que por fim Luís Montenegro retoma o seu caminho e percorre a avenida de Santo António, desta vez com um grupo relativamente pequeno de apoiantes e a habitual barulheira da JSD, em direção ao mercado. A meio do caminho detém-se para fazer declarações aos jornalistas, desvalorizando o facto de o tribunal ter recusado a providência cautelar que apresentou contra cartazes do Chega que o associavam a José Sócrates, alegando que o tempo que passou até à decisão fez com que se perdesse efeito útil. Nada que lhe retire o sorriso da cara. A campanha segue.