Montenegro entra de mergulho na 2.ª semana de campanha: aceitaria jogar vólei com Rui Rocha, mas para governar preferia estar só com o CDS

12 mai, 07:00
Luís Montenegro em Espinho (MIGUEL A. LOPES/LUSA)

REPORTAGEM || Luís Montenegro passou pela sua terra - Espinho, viva! - e aproveitou para um momento de descontração - vólei com os amigos. Esta segunda-feira vai à feira - de Espinho, viva! - e talvez se encontre com Pedro Nuno Santos

"Está muito boa. Tomáramos nós que no verão estivesse assim." Luís Montenegro sai do mar e abana um pouco a cabeça para tirar o excesso de água do cabelo. O dia está encoberto, até já choveu, e o mar de Espinho não é conhecido pela sua temperatura agradável. Mas o candidato da AD nem hesita quando, terminado o jogo de vólei, tira a blusa e corre com os amigos em direção ao mar. Dá uns dois ou três mergulhos nas ondas e sai sorridente, sem mostras de ter frio.

Este foi um momento de "descompressão, de recuperação do esforço". De "refrescamento". E bem necessário. A entrar na reta final da campanha, com viagens de norte a sul, do litoral ao interior, sempre em passo acelerado, as sondagens têm sido animadoras mas, até agora, não há sinal da tal "maioria maior" que Montenegro tem pedido em quase todos os discursos e, por isso, há cada vez mais perguntas sobre o que fará a AD para conseguir a tão ambicionada estabilidade governativa. Com quem se coligará a coligação?

A disputar todos os pontos na areia, já a treinar para as eleições

"Vieram aqui por causa do torneio?" Às 9:30 deste domingo, os jornalistas começam a montar os tripés no passeio da Praia Azul, Espinho, com as câmaras apontadas às redes instaladas na areia. Só duas das redes estão livres, todas as outras estão ocupadas. Rui Ferreira aproxima-se para que o ouçam melhor: "Vieram por causa do torneio?". Não, Rui, lamentamos mas não, viemos ver o primeiro-ministro a jogar vólei. "Ah!", ri-se. Rui pertence ao Clube de Ténis de Espinho e é um dos maiores entusiastas do ténis de praia, uma modalidade que está a captar cada vez mais praticantes na região. O torneio marcado para este fim de semana tem mais de 100 inscritos e é um marco importante, explica: é a estreia da Liga BT 4500 - BT de Beach Tenis e 4500 que é o código postal de Espinho. Rui está animado, mas os jornalistas não parecem muito interessados.

O candidato da AD foi jogar vólei na praia com amigos, como costuma fazer ao domingo foto Lusa/ Miguel A. Lopes

O momento não estava previsto na agenda oficial da campanha da AD, mas - tal como já tinha acontecido na sexta-feira, quando o candidato fez um desvio para se encontrar com a mulher, que estava em peregrinação a Fátima - a imprensa foi avisada de que Luís Montenegro iria jogar vólei na praia com os amigos, "como faz habitualmente ao domingo de manhã", na praia onde cresceu, a poucos metros de casa, na terra onde tem a sua empresa de consulturia, Spinumviva ("Espinho Viva", explicou o primeiro-ministro quando a polémica começou).

Às 10:15, Montenegro chega com ar descontraído, de chinelos, blusa de manga cava e calções, acompanhado de amigos, e ri-se para os jornalistas: "Também vêm jogar?". Brinquemos, então, todos um bocadinho ao faz-de-conta que isto é o quotidiano de um cidadão comum. Os seis amigos ocupam a rede, fazem exercícios de aquecimento e começam a jogar em duplas, tentando ignorar as máquinas fotográficas. Na quadra, Luís é simplesmente Luís. "Aqui, Luís", "vai, Luís", gritam os companheiros. E Luís vai, salta para a bola, serve, defende, aterra na areia para salvar um ponto, apoia as mãos nos joelhos, ofegante. Está cansado mas não desiste. E os amigos não lhe facilitam a vida. Lá porque é a estrela do dia, ninguém o deixa ganhar. "A malta é muito competitiva", justificaria mais tarde o candidato da AD, esclarecendo no entanto que hoje fizeram "um jogo mais amigável para ninguém ficar mal".

Luís Montenegro mostrou que está em forma a jogar vólei com os amigos foto Lusa/Miguel A. Lopes

Entretanto, chegam os elementos da juventude social-democrata com as suas camisolas cor de laranja, que, pelos vistos, também foram avisados deste momento "pessoal", e vieram fazer claque. A confusão chama a atenção dos transeuntes. "O que é que se passa?" Carla veio só dar um passeio matinal para apanhar um pouco de sol, mas assim que vê o primeiro-ministro saca do telefone para tirar fotografias e, depois, ligar a uma amiga. "Não vais acreditar quem é que está aqui!" Carla mora e trabalha em Espinho mas não conhece pessoalmente Montenegro. "Mas tenho amigos que o conhecem, isto é uma terra relativamente pequena. E dizem que é muito simpático."

Alguns militantes do PCP passam a distribuir folhetos, mas não se aproximam. Algumas pessoas tiram fotografias. Outras abrandam o passo até perceberem o que é que está a acontecer e depois continuam. "Nunca aqui o tinha visto, nem ao domingo nem em dia nenhum", comenta um vizinho, que prefere não se identificar. "E olhe que eu venho aqui todos os dias." Emília e Américo param o seu passeio e sentam-se num banco junto à praia para ver o jogo. São de Santa Maria da Feira mas têm um apartamento em Espinho e, assim que os dias ficam melhores, começam a vir à praia. Também não conhecem pessoalmente Luís Montenegro, mas não têm dúvidas: "É bom rapaz. E estava a andar bem, não era? Mas outros quiseram tirá-lo de lá", diz Américo, encolhendo os ombros. "Na nossa terra nunca conhecemos outro partido, seja na câmara ou na junta, é sempre PSD. E nós também."

No vólei Montenegro joga em duplas. E no Governo aceita em triplas?

Começa a chuviscar. Aos cerca de 45 minutos de jogo, os amigos correm para o mar e, no final, sem dar tempo sequer para Luís Montenegro se embrulhar na toalha, os jornalistas estendem o microfone e as provocações, lembrando que no dia anterior Rui Rocha também tinha jogado vólei, manifestando-se disponível para acolher na sua quadra quem quiser mudança, numa alusão implícita a futuros entendimentos pós-eleitorais com a AD. Será que o líder da IL seria uma boa dupla? "Não sei o que é que ele joga, mas vou admitir que sim, partimos sempre de um espírito positivo", responde Montenegro.

Ainda dentro da metáfora desportiva e questionado sobre como se encaixaria o CDS-PP nessa equipa de dois, Luís Montenegro responde: “Ficava para todo o trabalho que é preciso em equipa, seguramente”.

Depois do mergulho, Montenegro prestou breves declarações aos jornalistas foto Lusa/ Miguel A. Lopes

A possibilidade de uma coligação da AD com a Iniciativa Liberal tem sido um dos temas recorrentes nas declarações dos últimos dias. Os socialistas têm alertado para o perigo que um Governo liberal representaria para o Estado Social. Em Famalicão, no sábado, Montenegro respondeu que a sua única coligação era com os portugueses: "Não vale a pena virem com papões. Só anda com papões quem não tem soluções. Aqui não mora nenhum papão; mora a solução”.

Entretanto, já este domingo, o presidente da IL disse ter sido desafiado pela “direção e lideranças” do PSD para uma coligação pré-eleitoral nestas legislativas, mas recusou porque não é um “partido apêndice”. “Quando soubemos que a legislatura ia acabar, que a moção de confiança não ia ser aprovada, tivemos enormes manifestações de desejo de que a IL se integrasse noutro tipo de plataforma”, revelou Rui Rocha aos jornalistas.

A resposta chegou logo a seguir, no comício da AD em Viseu, onde o cabeça de lista, Leitão Amaro, deu o troco: "Por bem intencionados que sejam, nós podemos dizer, por exemplo, aqui em Viseu que votar na IL é voto desperdiçado, não concorre para uma maioria maior. E, já agora, mesmo [a nível] nacional retira força ao primeiro-ministro que hoje temos e que vamos continuar a ter para o futuro”, disse, perante uma plateia composta por cerca de três mil apoiantes (segundo as contas da AD). 

Também o líder do CDS-PP aproveitou para enfatizar uma frase que disse no sábado, em Famalicão, e que disse ter criado “um sururu”: de que a coligação AD é apenas entre PSD e CDS-PP. “É verdade. Não tenham dúvidas: todo o meu esforço, todo o meu desejo é que a AD tenha um resultado robusto, um resultado que nos permita uma governação que dependa apenas de nós e não de outros”. E justificou: “Porque já percebemos que quando dependemos dos outros a instabilidade é a primeira das possibilidades”.

Quanto a Montenegro, num discurso pouco inspirado e até algo atabalhoado, comparado com o que temos visto nesta campanha, limitou-se a pedir "que não se disperse o voto" e a apelar, mais uma vez, a uma maioria maior.

Pode ser que esta segunda-feira de manhã Luís Montenegro acorde cedinho e, antes de ir passear na feira de Espinho, vá dar mais um mergulho, desta vez sem jornalistas nem câmaras por perto. Vai precisar de ter as ideias ainda mais frescas para o caso de se cruzar com Pedro Nuno Santos, que também estará por ali.

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