“Cristo Atado à Coluna”: descoberto soneto inédito de Camões

Agência Lusa , CV
13 jul 2022, 19:55
Luís Vaz de Camões (Getty)

Trata-se de um poema que “desenvolve uma ideia nada ortodoxa”

O poeta, professor e investigador Nuno Júdice disse esta quarta-feira à agência Lusa ter descoberto um soneto de Luís de Camões, “Cristo Atado à Coluna”, num manuscrito datado de 1666, editado por Manuel de Faria, no século XVIII.

Nuno Júdice afirmou que o poema é atribuído a Camões e a autoria não lhe suscita dúvidas, apesar de uma possível edição implicar “o trabalho de especialistas”.

O manuscrito foi encontrado pelo investigador na Biblioteca Digital Hispânica, onde se encontram vários outros poetas “do barroco, que merecem ser melhor estudados”.

Nuno Júdice salientou que esta sua descoberta demonstra “que há ainda muito por revelar nas bibliotecas e por estudar e dar o devido valor”, na área da literatura.

“É uma esperança para os investigadores”, disse o também diretor da revista Colóquio Letras da Fundação Calouste Gulbenkian, referindo que “não está tudo estudado ou descoberto”, profetizando que há território literário por desvendar.

Referindo-se ao poema, Júdice disse que Manuel de Faria “foi o primeiro editor a sério de Camões”, no século XVII, e não seria este soneto que tornaria Camões um poeta maior e tão conhecido.

Esta poema, segundo Nuno Júdice, “desenvolve uma ideia nada ortodoxa”, com o catolicismo vigente na época, já que Camões argumenta que o amor liberta.

Segundo o investigador, neste soneto escrito em português,Camões afirma que “Cristo é torturado e chicoteado, mas liberta-se pelo amor à humanidade”. Camões recupera a ideia do “cárcere por amor”, que tinha sido já desenvolvida pelo poeta Diego San Pedro (1437-1498), autor de “Cárcel de Amor”.

Luís de Camões, de vida incerta, terá nascido em Lisboa, em 1524, cidade onde morreu em 1579 ou 1580, tendo recebido uma reduzida avença do Rei Sebastião pela escrita do poema épico “Os Lusíadas”, publicado em 1572. O poeta encontra-se sepultado no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, apesar de suscitar algumas dúvidas aos académicos que seja o seu corpo que se encontra na urna de pedra.

Não é a primeira vez que Nuno Júdice 'se encontra' com Camões.

O investigador contou à Lusa, que, há uns anos, descobriu um poema atribuído ao épico, “Leite da Virgem”, que entregou aos cuidados da especialista camoniana Fiama Hasse Pais Brandão, que, entretanto morreu em 2007.

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