"Meu amor, conheço-te desde pequenino." Luís foi à feira na sua terra, viu os socialistas ao longe e passou ao lado do Chega. Mas irritou-se mesmo foi com os jornalistas

12 mai, 16:23
Luís Montenegro em Espinho

Foi o caos na feira semanal de Espinho, onde à mesma hora estiveram as campanhas da AD, PS, Chega, PAN e ADN. No meio disto tudo quem ficou a perder foram os clientes que, apesar de ganharem sacos, não tinham espaço para fazer compras

"Olhe, menina, as gamelas são as mesmas, os porcos é que mudam." As palavras desta feirante fazem rir os compradores que estão em fila, aguardando que as folhas de couve passem pela mandolina e, à medida que se dá à manivela, se transformem em picadinho para caldo verde. "Eu era do PS ferrenha, hoje não sei o que sou. Acho que o Pedro Nuno Santos fala com muita frieza, ele quer o poder a toda a força", comenta uma das clientes. Há quem ache bem, há quem ache mal, há quem não se pronuncie. "Oh minha santa, a gente quer é que eles não nos roubem." 

Esta manhã, todos os caminhos foram dar à feira de Espinho. Se em Évora os responsáveis da campanha conversaram para garantir que as comitivas não se iriam encontrar, em Espinho não houve combinações. Pelas 9:30, logo à entrada da feira semanal, já há um grupo de apoiantes do Partido Socialista à espera de Pedro Nuno Santos, com a música em altos berros. Nem cem metros à frente, começam a juntar-se os apoiantes da AD, com as suas colunas portáteis e bandeiras cor-de-laranja. Pelo meio, há uma barraquinha do Chega com um grupo de apoiantes, entre os quais o deputado Pedro Frazão. E depois, ainda há um grupo de elementos agitando as bandeiras do ADN e, do outro lado, uma pequena comitiva do PAN, com a presença de Inês Sousa real. As músicas e os gritos misturam-se, ora se ouve que "o futuro é já, já, já", ora "deixa o Luis trabalhar". 

Luís Montenegro esta segunda-feira na feira de Espinho (Lusa/ Miguel A. Lopes)

A disputa entre os dois partidos na feira de Espinho é muito mais do que simbólica e há motivos para pensar que este cruzamento é tudo menos casual: é que, ainda que Montenegro esteja em casa, nas últimas legislativas, a AD venceu aqui com um margem mínima, menos de um ponto percentual. Esta manhã, o PS vai à frente na arruada e só quando os socialistas já estão a terminar a volta ao mercado é que arranca a AD. Sem confusões. Só uma breve troca de insultos com os elementos do Chega. À passagem de Montenegro, os poucos apoiantes do partido de Ventura começam a gritar "corrupção, corrupção" e logo os sociais-democratas respondem com "mentira, mentira".

A feira de Espinho tem tradição e muito movimento. As verduras são viçosas, os enchidos têm um cheiro intenso. Quando a comitiva da AD avança por entre as ruelas estreitas a confusão aumenta, há encontrões e tropeções, e muita gente a queixar-se de não conseguir fazer as suas habituais compras - e nem a simpatia dos jovens que distribuem sacos de pano com os logotipos da AD (brancos) e do PS (vermelhos) parece ajudar. "Isto é uma falta de respeito pelas pessoas", grita uma senhora, enervada. Os feirantes também não acham muita graça, numa banca os tachos e panelas estão prestes a cair no chão, noutra são os pintainhos e os galos que parecem assustados nas suas gaiolas. “Quem estragar, paga”, avisa uma vendedora de fruta, enquanto muitos apoiantes lamentam nem sequer conseguir chegar ao pé do primeiro-ministro. Alguns conhecidos gritam "Luís, Luís" e conseguem furar por entre os seguranças para tirar uma selfie e dar uma palavra de ânimo ao candidato. "Meu amor, tudo de bom, conheço-te desde pequenino, que sejas muito feliz", diz-lhe uma senhora. "Sempre foi uma simpatia, agora é que anda desaparecido lá por Lisboa", comenta outra.

Joaquim Jorge vende "caladinhos da feira" em Espinho (foto: CNN Portugal)

Regueifas, bôlas, "beijinhos de amor", almendrados. Desde 1972 que Joaquim Jorge tem barraca montada na feira de Espinho e já apertou a mão a muitos políticos. "Sempre que há eleições os políticos atacam as feiras que é onde está mais gente, não é?", comenta o vendedor de 70 anos. Mas, desta vez, não teve sorte. O alvoroço passa na rua ao lado. Se tivesse falado com Pedro Nuno Santos, Joaquim Jorge ter-lhe-ia "pedido para ele pôr meio milhão na conta, como fez com a senhora da TAP", já a Montenegro teria oferecido um dos típicos "caladinhos", canudos recheados de creme pasteleiro, doces como pastéis de nata, "mas muito melhores", faz questão de dizer uma freguesa. "Caladinhos deveriam eles ficar que isto é uma barulheira que não se aguenta", interrompe outra. A risada é geral.

Na frente da comitiva da AD vai Rita Santos que é, desde fevereiro, a presidente da concelhia da JSD de Espinho - um cargo que Luís Montenegro também ocupou na juventude. "Somos uma concelhia muito ativa e temos muito bons quadros, por isso é normal que várias pessoas daqui façam um bom trabalho e tenham uma carreira política", diz, lembrando que a sua antecessora, Carolina Marques, é agora deputada na Assembleia da República, e garantindo não se sentir pressionada pela herança deixada pelo atual primeiro-ministro. "Quando ele esteve na JSD ainda eu não era nascida."

Rita tem 21 anos, está no último ano da licenciatura em Direito na Universidade do Porto e não sabe ainda se o seu futuro passará pela política. Na verdade, neste momento, só quer chegar às férias de verão: entre a queima das fitas, que agora terminou, a campanha eleitoral que está a decorrer e os exames na faculdade, que estão prestes a começar, não tem tido muito tempo. Vem de uma família de simpatizantes do PSD, mas que não eram militantes do partido. Ela inscreveu-se aos 16 anos, depois de "pesquisar muito todas as ideologias" e chegar à conclusão de que "a mais equilibrada é a social-democracia". Das políticas de "Luís" para a juventude destaca o IRS jovem e o passe ferroviário verde: "Foi um bom começo, agora é continuar".

Rita Santos faz campanha pela primeira vez como líder da JSD de Espinho (foto: CNN Portugal)

"Mas querem voltar a fazer as mesmas perguntas que faziam há dois meses e há três meses?"

Após 40 minutos de caos, Luís Montenegro para para responder a perguntas da comunicação social. Questionado se entende, ao fim de uma semana de campanha, que “valeu a pena insistir na teimosia de manter a empresa familiar e levar o país para eleições”, irrita-se com os jornalistas: “O senhor não tem mais nenhuma pergunta para me fazer todos os dias? Mas querem voltar a fazer as mesmas perguntas que faziam há dois meses e há três meses?". 

Montenegro também não quer comentar as declarações do presidente da IL, Rui Rocha, que disse que tinha sido desafiado pelas lideranças do PSD para uma coligação pré-eleitoral - que recusou - e, por outro lado, recusa que haja problemas na coligação PSD/CDS-PP, respondendo um breve: “Nada disso”.

Perante a insistência nas questões da governabilidade, Luís Montenegro afirma que tem sido mais claro do que qualquer outro líder político. “O que eu propus foi uma coligação aos portugueses para continuarem a acreditar neste Governo e é essa que interessa agora. As conversas entre os partidos acho que existem e vão existir sempre, mas não é meu hábito distrair as portuguesas e os portugueses como mexericos políticos, quando aquilo que está em causa são opções estratégicas para o futuro do país”, conclui.

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