Prejuízos, mortes e área ardida. Vão todos subir nos próximos dias, mas o que já se conta é inimaginável
O cenário é apocalíptico e as imagens descrevem tudo o que é possível saber do que se passa em Los Angeles, cidade que mergulha no quarto dia de incêndios devastadores, de tal forma que as palavras inferno e apocalipse se banalizaram.
Mas nem só das imagens se fazem os incêndios na Califórnia, já que os números que vão surgindo mostram uma realidade assustadora: assim de repente, 121 quilómetros quadrados arderam em cerca de três dias, uma área já bem superior à cidade de Lisboa, e que deve tornar-se bem pior nos próximos dias, com o vento a fazer temer o pior e com os bombeiros cansados de um combate que muitas vezes parece inútil.
Mas há mais: a JP Morgan Chase calcula em 50 mil milhões de dólares (cerca de 48 mil milhões de euros) os prejuízos, num número que duplicou nas últimas 24 horas, e que deve continuar a subir vertiginosamente à medida que o tempo passa. Para se ter uma noção da brutal dimensão deste número, Portugal recebeu uma ajuda especial de 500 milhões de euros em fundos comunitários para cobrir os prejuízos dos grandes incêndios de setembro. Um valor 100 vezes mais pequeno que o de Los Angeles.
Numa outra figura de comparação, os três dias de incêndios em Los Angeles correspondem a quase um quinto do Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal, avaliado em 287 mil milhões de euros. O mesmo é dizer que em apenas 72 horas ardeu 16% da riqueza que Portugal produz num ano.
Ainda numa outra comparação, os prejuízos em Los Angeles chegavam, e ainda sobravam, para cobrir os gastos previstos no Orçamento do Estado português para 2025 nas áreas do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e da Saúde, as duas que agregam mais despesa pública.
Pior do que perceber a dimensão do que já foi destruído é concluir que muito do que ardeu pode não estar sob alçada de seguros. Segundo as estimativas, a maioria dos prejuízos estava mesmo sem seguro feito.
Não havendo ainda uma estimativa suficientemente clarificadora para se perceber o que quer isso dizer em propriedade destruída - a agência Associated Press avança que foram consumidas duas mil casas -, sabe-se que 15 mil habitações estão em risco direto de destruição. O xerife da cidade de Los Angeles descreve bem a coisa: “Não sabemos o esperar”. E nem falava dos prejuízos, mas das mortes. Há seis confirmadas até ao momento, mas já toda a gente assumiu que vão ser bem mais.
Face aos números aterradores, o presidente dos Estados Unidos afirmou que o governo central vai assumir “100%” das despesas provocadas pelos incêndios. “Anuncio que o governo federal vai cobrir em 100% os custos durante 180 dias”, garantiu Joe Biden, a partir da Casa Branca, naquele que será um dos últimos atos relevantes da sua presidência.
Dinheiro que será utilizado para pagar a remoção de destroços, mas também a instalação de abrigos temporários, os salários das autoridades que estão no terreno e ainda “todas as medidas necessárias para proteger vidas e propriedade”.
A proteger essas vidas estão centenas de bombeiros extenuados, que carregam às costas, além da responsabilidade, 45 quilos de equipamento. Trabalham sem parar para tentar garantir o mínimo no combate a diferentes incêndios, alguns deles 0% controlados.
“Os bombeiros têm estado a combater fogos com a força de ventos de furacão, muitos deles sem dispositivos para respirar ou máscara, durante horas sem fim”, explicou à CNN a porta-voz dos bombeiros da Califórnia.
Muitos deles, acrescentou DeeDee Garcia, estão a trabalhar há 40 ou mais horas seguidas, tempo durante o qual enfrentam “fumo extremamente tóxico e os químicos das estruturas e veículos que arderam”.
Um resumo de alguns números que ajudam a perceber o que se está a passar:
- Incêndio de Palisades: as autoridades estão a investigar ativamente o início do incêndio de Palisades, disse a chefe do Departamento de Bombeiros de Los Angeles, Kristin Crowley. Um total de 21 funcionários - incluindo 16 investigadores de fogo posto - mais um cão treinado para farejar aceleradores de fogo, estão a trabalhar no caso.
- Incêndio de Eaton: os bombeiros conseguiram impedir o crescimento significativo do incêndio, mas este já queimou cerca de 42 quilómetros quadrados e danificou ou destruiu mais de mil estruturas. O incêndio de Eaton também foi responsabilizado por cinco mortes e ainda está com 0% de contenção, confirmou o chefe dos bombeiros do condado de Los Angeles, Anthony Marrone.
- Número de mortos: o número exato de vítimas mortais causadas pelos incêndios florestais ainda não é conhecido, admitiu o xerife do condado de Los Angeles, Robert Luna. As autoridades trabalham para “descobrir esses números”, mas acreditam que o número de vítimas vai aumentar. Luna disse que algumas áreas afetadas parecem “ter sido atingidas por uma bomba”. Há seis mortos confirmados.
- Cortes de gás e falta de eletricidade: mais de 15 mil pessoas em Malibu enfrentam cortes de gás, disse a supervisora do condado Lindsey Horvath, e a comunidade de Sunset Mesa está sob um aviso de água fervente. Palisades também tem um aviso de corte de água em vigor. Cerca de 95 mil clientes continuam sem eletricidade, de acordo com os funcionários dos serviços públicos. O diretor das Obras Públicas, Mark Pestrella, disse que os sistemas de esgotos, energia e transportes foram “significativamente danificados”.
- Evacuações: cerca de 180 mil pessoas no Condado de Los Angeles ainda estão sob ordens de evacuação, confirmou Luna. Outros cerca de 200 mil residentes estão sob aviso de evacuação, acrescentou, o que significa que devem preparar-se para abandonar as suas casas, caso seja ordenado.
A previsão: Os ventos mais violentos do sul da Califórnia abrandaram ligeiramente no início da quinta-feira, mas prevê-se que voltem a aumentar ao longo do dia e que se mantenham fortes pelo menos até sexta-feira à tarde na zona do incêndio. Outra ronda de ventos de Santa Ana é provável na noite de sábado para domingo, segundo o Serviço Nacional de Meteorologia em Los Angeles.
Prejuízos, área ardida, mortes... tudo números que vão subir, e muito.