Ex-primeira-ministra britânica elogiou o sucessor Rishi Sunak por a China como “a maior ameaça de longo prazo ao Reino Unido”
A ex-primeira-ministra britânica e atual deputada conservadora Liz Truss disse esta quarta-feira que a China representa uma ameaça económica e política para o Ocidente, no início de uma visita de quatro dias a Taiwan.
Truss é a primeira ex-primeira-ministra britânica desde Margaret Thatcher, na década de 1990, a visitar Taiwan. Pequim considera a ilha parte do seu território e ameaça a reunificação através da força, caso Taipé declare formalmente a independência.
Liz Truss junta-se a uma lista crescente de representantes eleitos e ex-funcionários dos Estados Unidos, Japão e países europeus que visitaram Taiwan, nos últimos anos, numa reação às tentativas da China de isolar a ilha da comunidade internacional.
Pequim encara os contactos internacionais de Taiwan como iniciativas no sentido da independência formal da ilha.
“Há quem diga que não quer outra Guerra Fria. Mas esta não é uma escolha que estamos em posição de fazer. Porque a China já embarcou numa campanha de auto-suficiência, quer queiramos separar-nos da sua economia ou não”, disse Truss, num discurso proferido num hotel de Taipé.
“A China está a aumentar a sua marinha a um ritmo alarmante e está a realizar o maior reforço militar da História em tempos de paz”, apontou.
Pequim “já formou alianças com outras nações que querem ver o mundo livre em declínio. Eles já fizeram uma escolha sobre a sua estratégia. A única escolha que temos é entre apaziguar e acomodar-nos ou tomar medidas para evitar conflitos”, argumentou.
O elogio a Rishi Sunak
Truss elogiou o seu sucessor, Rishi Sunak, por descrever a China como “a maior ameaça de longo prazo ao Reino Unido” e por pedir o encerramento de centros culturais administrados pelo governo chinês, as delegações do Instituto Confúcio, que foram acusados de servirem como canais de propaganda do Partido Comunista Chinês.
As relações da China com o Reino Unido e a maioria das outras democracias ocidentais deterioraram-se rapidamente nos últimos anos, em grande parte como resultado de disputas sobre direitos humanos, tecnologia, comércio e reivindicações territoriais de Pequim no Mar do Sul da China.
As relações de Pequim com Londres têm sido especialmente amargas devido à ampla repressão da China à liberdade de expressão e outras liberdades civis em Hong Kong, uma ex-colónia britânica que recebeu a promessa de manter as suas liberdades após a transferência para o domínio chinês, em 1997.
A China disse que um importante acordo bilateral sobre Hong Kong não se aplica mais e rejeitou as expressões britânicas de preocupação com os desenvolvimentos na região, por constituírem uma “interferência nos assuntos internos” do país asiático.
A China também protestou contra um acordo conjunto entre Austrália, Estados Unidos e Reino Unido, conhecido como AUKUS, que prevê o fornecimento à Austrália de submarinos movidos a energia nuclear, em parte para combater a crescente influência da China no Pacífico.
Truss também disse que não se pode confiar na China para cumprir os seus compromissos comerciais ou ambientais.
Ela elogiou Taiwan como uma “repreensão duradoura ao totalitarismo” e disse que o destino do território é um “interesse central” para a Europa.
“Um bloqueio ou invasão de Taiwan prejudicaria a liberdade e a democracia na Europa. Assim como uma vitória russa na Ucrânia prejudicaria a liberdade e a democracia no Pacífico", defendeu.
"Nós, no Reino Unido e no mundo livre, devemos fazer tudo o que pudermos para apoiar" Taiwan, disse.
A imprensa chinesa criticou a viagem de Truss nas últimas horas: analistas citados pelo jornal Global Times garantiram que a visita “não vai trazer nenhum benefício substancial à ilha”. Com base em informação difundida pela imprensa britânica, o jornal oficial do Partido Comunista Chinês disse que Truss vai receber dezenas de milhares de libras pela sua palestra.
No final da Segunda Guerra Mundial, Taiwan integrou a República da China, sob o governo nacionalista de Chiang Kai-shek.
Após a derrota contra o Partido Comunista, na guerra civil chinesa, em 1949, o Governo nacionalista refugiou-se na ilha, que mantém, até hoje, o nome oficial de República da China, em contraposição com a República Popular da China, no continente chinês, comunista.
O território realizou reformas democráticas nos anos 1990 e é hoje uma das mais vibrantes democracias no leste da Ásia.