Como os dinossauros eram verdadeiramente (sim, tinham plumas)

CNN , Jacopo Prisco
24 dez 2021, 16:00
Reconstrução de um Psittacosauro, uma ilustração que aparece no livro "Dinosaurs: New Visions of a Lost World." Uma descoberta de fóssil desta criatura contém tecido mole preservado, incluindo pele e uma série de plumas semelhantes às de escrevedeiras, no topo da cauda. Foto: Bob Nicholls

O Crystal Palace Park, na zona sul de Londres, continua a ter as primeiras esculturas de dinossauros do mundo. Foram feitas por volta de 1850, baseadas no que eram, na altura, descobertas científicas muito recentes: fósseis, desenterrados em Inglaterra umas décadas antes.

Os cientistas tentaram compreender as criaturas e as esculturas foram a primeira tentativa de visualizá-los em tamanho real. Foram mostrados como animais mamíferos gigantes, de quatro patas, uma ideia já revolucionária comparada com as anteriores que imaginavam os dinossauros como lagartos gigantes. Mas estava simplesmente incorreto.

Imagem da exposição do Crystal Palace com as fantásticas reconstruções de dinossauros em primeiro plano, pelo artista londrino George Baxter. Foto: Wellcome Collection

Sabemos hoje que os dinossauros não se pareciam nada com as versões escamosas no Crystal Palace. Contudo, durante décadas, as esculturas, bem como outras representações posteriores, erradamente influenciaram a visão do público destes gigantes extintos. Contudo, o novo livro do famoso paleontólogo Michael Benton, "Dinosaurs: New Visions of a Lost World", oferece a mais recente interpretação.

"É o primeiro livro de dinossauros em que os dinossauros são verdadeiramente parecidos com o que eram", afirma o autor, que trabalhou com o artista paleo Bob Nicholls, para dar vida às criaturas. Cada pormenor é justificado por provas, tanto quanto possível. Tentámos escolher espécies que estão bastante bem documentadas para que, no texto, eu possa indicar o que sabemos e porque o sabemos."  

O artista paleo Bob Nicholls deu vida às criaturas do livro de Benton, incluindo na capa, que aqui vemos. Foto: Thames & Hudson

Muitas das provas vêm da mais recente descoberta de fósseis, na China, que, a partir da década de 90, mudaram a forma como interpretamos a aparência dos dinossauros. A descoberta, em 1996, na província chinesa de Liaoning, de um fóssil emplumado, por exemplo, criou uma ligação direta entre os dinossauros e as aves.

"Acho que podemos dizer que as plumas surgiram muito mais cedo do que pensávamos, pelo menos 100 milhões de anos mais cedo, portanto, mesmo na origem dos dinossauros", afirmou Benton.

Uma restauração esquelética do hadrossauro (Hadrosaurus foulkii) baseada no original na Academy of Natural Sciences, em Filadélfia, a primeira montagem em museu de um dinossauro que também estava, e corretamente, ereto. Foto: Smithsonian Institution Archives

A ideia de que os dinossauros tinham plumas não apelava a todos. O famoso "Parque Jurássico", que estreou em 1993, antes de terem sido descobertos os dinossauros emplumados, tem-se recusado a incluí-los nos seus filmes mais recentes.

"Justificam-no ao dizer que não querem que o T-Rex pareça uma galinha gigante. Mas é uma pena," afirmou Benton.

Mais recentemente, Benton e a sua equipa na Universidade de Bristol, no Reino Unido, descobriram uma forma, encontrando estruturas de pigmentos embutidas nas plumas fossilizadas, para identificar os padrões de cores de um dinossauro a partir dos fósseis. "Fomos os primeiros a aplicar este método, em 2010, portanto o livro documenta sobretudo estudos dos últimos dez anos que contemplaram a pele, as escamas e as plumas nos fósseis, para obter a cor."

O resultado é mostrado através de ilustrações de 15 criaturas representadas no livro – não só de dinossauros, mas também de aves, mamíferos e répteis pré-históricos – adornadas com padrões de pele vibrantes, uma abundância de plumas multicolores e algumas com fabulosas cabeças iridescentes.

Contemplar estas criaturas mostra o quanto melhorou o nosso conhecimento sobre dinossauros e o quanto pode ainda melhorar. "Há uns anos, pensava que nunca iríamos saber a cor de um dinossauro, mas agora sabemos", afirmou Benton.

"Não definam limites porque, mais cedo ou mais tarde, um jovem inteligente vai dizer: ´Pessoal, vocês conseguem resolver isto.'"

"Dinosaurs: New Visions of a Lost World" é publicado pela Thames & Hudson.

Para ler: "The Rise and Fall of the Dinosaurs" (2018)

Se quer saber toda a história dos dinossauros, não precisa procurar mais do que esta "biografia de dinossauros" de um dos paleontólogos mais célebres do mundo, Steve Brusatte. O livro narra os 200 milhões de história dos dinossauros, desde o Triássico, pelo Jurássico e até ao Cretácico, quando o seu domínio acabou através de uma extinção em massa, provocada por um cometa ou asteroide. Narrada ao estilo de uma saga épica que ilustra o funcionamento moderno da paleontologia, baseia-se na pesquisa mais recente.

Para ver: "Walking with Dinosaurs" (2000)

Esta série clássica documental, produzida pela respeitada BBC Natural History Unit e transmitida nos EUA pelo Discovery, teve a distinção de ser o documentário mais caro de sempre, quando foi lançado, em 1999. Conquistou três prémios Emmy, deu origem a duas sequelas e retratou dinossauros nos seus habitats naturais – ao verdadeiro estilo documental – utilizando uma mistura de CGI e animatrónica. Era tecnologia de ponta, na altura, e ainda tem bastante valor a nível educativo e de entretenimento, apesar de alguma da ciência estar agora desatualizada.

Para ver: "Dinosaur 13" (2014)

Esta mistura entre paleontologia e drama político é contada através da história de Sue, o maior e mais completo esqueleto de T-rex jamais encontrado. Depois de desenterrado no Dakota do Sul, em 1990, o fóssil tornou-se o centro de uma batalha legal de muitos anos, sobre a sua propriedade, ilustrando os desentendimentos que podem existir entre paleontólogos, colecionadores de fósseis e governos que são proprietários dos terrenos onde os fósseis são encontrados. Alerta de spoiler: Sue está agora em exibição no Field Museum of Natural History, em Chicago.

Para ouvir: "I know Dino" (2016-presente)

O podcast mais importante para amantes de dinossauros, "I Know Dino", é gerido por Garret Kruger e Sabrina Ricci, uma equipa de marido e mulher que são entusiastas dos dinossauros. Cada episódio de uma hora é sobre uma espécie, que é discutida e explorada em pormenor com a ajuda de convidados. O podcast, que começou em 2016, aproxima-se agora dos 400 episódios.

Para ver: "Parque Jurássico" (1993)

Este clássico de Steven Spielberg continua a ser o ponto de referência da cultura popular para dinossauros. Foi o primeiro filme a representá-los como criaturas inteligentes, dinâmicas e velozes. Apesar de ter sido feito há quase trinta anos, o CGI do filme ainda não passa o teste do tempo. O rigor científico diminuiu com os anos, mas continua a ser um filme divertido para ver, com atuações memoráveis de Laura Dern, Sam Neill e Jeff Goldblum.

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