Campo de Batalha | Em Lisboa, vitória no Rossio pode sair da Betesga: PS e PSD mobilizam eleitores e apelam ao voto útil

5 out, 14:00
Campo de Batalha Lisboa: Alexandra Leitão, João Ferreira, Carlos Moedas, fotos partidos, montagem CNN

Há autarquias onde o resultado de 12 de outubro terá peso nacional: são populosos, têm vários candidatos a presidente e há possibilidade de troca de protagonistas. Em Lisboa, a vitória do PSD parecia certa - até que vieram as últimas sondagens empatar tudo. Resultado pode ser (outra vez) por uma nesga

Lisboa (CNN Autárquicas 2025) - Nem é preciso sondar os partidos, "bastou" sondar o país. Esta quinta-feira, três sondagens - uma delas na CNN Portugal - vieram confirmar que o favoritismo anterior de Carlos Moedas (PSD) se foi erodindo, em benefício da melhoria nas intenções de voto de Alexandra Leitão (PS), além de uma subida também de João Ferreira (CDU). A vitória terá sempre amplas leitoras nacionais, mas não se espera larga margem para o vencedor, seja ele quem for. 

Boletim: quem é quem?

Lisboa tem feito nascer autarcas que se transformam em primeiros-ministros e Presidentes da República. Mas a maior câmara do país não é apenas trampolim político, é também destino de consagração. E de responsabilidade: a Câmara parece uma "grande empresa"  e tem a seu cargo a gestão política de uma cidade cheia de virtudes, problemas e desafios.

E embora o autarca em funções, Carlos Moedas, tenha surgido como o favorito em várias sondagens anteriores à tragédia no Elevador da Glória, ainda não é certo como é que a gestão desta crise se irá refletir nas contas dos eleitores. Numa das sondagens mais recentes, Alexandra Leitão surge na dianteira.

Depois há um outro fator que prejudica potencialmente Moedas: o crescimento do Chega, a avaliar pelas últimas legislativas, em várias freguesias de Lisboa, como é o caso de Marvila. Nesta corrida, o social-democrata junta a Iniciativa Liberal à coligação que tinha com o CDS-PP, numa tentativa de ganhar mais força.

Estratégia também seguida pela esquerda. Se antes, o PS surgia coligado apenas com o Livre, nesta candidatura protagonizada pela ex-ministra Alexandra Leitão criou-se uma frente de esquerda, a que se juntaram o Bloco de Esquerda e o PAN. Leitão foi ainda uma escolha de Pedro Nuno Santos, de quem era número dois, em detrimento de Marta Temido, que chegou a mostrar disponibilidade para o cargo, mas acabou como eurodeputada, para permitir que o ex-secretário-geral do PS tivesse pelo menos uma vitória eleitoral para apresentar.

Alexandra Leitão é representante de uma ala mais à esquerda do PS, o que alimenta uma discussão em Lisboa sobre se os lisboetas querem radicais ou moderados à frente da autarquia, com Carlos Moedas a posicionar-se do segundo lado. Já as críticas a Moedas tendem a centrar-se no facto de ser um político de aparências, mais interessado em aparecer do que fazer, mais ocupado a cortar fitas do que a resolver problemas.

A CDU volta a candidatar-se com João Ferreira, com os comunistas a rejeitarem todas as abordagens socialistas para fazer parte da coligação à esquerda, gorando as expectativas de Leitão.

Ao contrário do que aconteceu noutras corridas, o Chega não apresenta um deputado à Assembleia da República como candidato à principal câmara do país. Preferiu o deputado municipal Bruno Mascarenhas, eleito em 2021, quando a candidatura foi liderada pelo apresentador de televisão Nuno Graciano, falecido em 2023.

É numa figura conhecida do grande público que aposta o ADN, com a cantora Adelaide Ferreira, que promete que “Lisboa vai ter o papel principal”.

Concorrem também José Almeida do Volt, Luís Mendes do RIR, Ossanda Liber do Nova Direita, Sofia Afonso do MPT e Tomaz Dentinho do PPM/PTP. 

Gestão da tragédia no Elevador da Glória pode penalizar Moedas (Miguel A. Lopes/Lusa)

Arsenal de campanha

A tragédia do Elevador da Glória tornou-se um tema de campanha. O descarrilamento, onde morreram 16 pessoas, permite uma discussão sobre o estado de segurança das infraestruturas onde diariamente entram centenas ou milhares de pessoas, como os ascensores da Carris, e as garantias que podem ou não ser dadas pela autarquia para tranquilizar a população e visitantes. O caso serve ainda para o ataque direto a Carlos Moedas, pela forma como o tem gerido politicamente este tema.

É também impossível fugir ao dossiê da habitação, porque em nenhuma outra cidade do país se sente tanto os efeitos dos aumentos dos preços e da falta de oferta. As famílias estão asfixiadas e o número de pessoas em situação de sem-abrigo tem disparado. Todos os candidatos apresentam propostas nesta matéria, que passam pela construção para a classe média. Contudo, o tema é mais profundo.

Nos últimos anos, a oferta que tem surgido destina-se ao segmento superior, que coloca Lisboa numa montra de luxo e ostentação. E a pergunta que surge é: que cidade queremos? A habitação é o mote para se falar sobre a descaracterização da cidade, sobre gentrificação, sobre a forma como os estrangeiros estão a condicionar o mercado, seja enquanto investidores ou enquanto turistas.

E, por falar em turismo, Lisboa parece acusar algum cansaço, por causa do alojamento local, o ruído da vida noturna, o consumo de álcool sem regras na rua e o custo de vida que aumenta por causa do poder de compra de estrangeiros.

Outro dos temas fortes da campanha é o da (in)segurança, com o reconhecimento de que existem zonas de cidade com problemas de criminalidade, de consumo de droga na rua, que a população já evita durante a noite. O debate tem assentado na necessidade de um reforço policial. Mas vai para lá disso: segurança implica também melhor iluminação, espaços públicos cuidados e ruas sem lixo. A recolha de resíduos é, aliás, uma das matérias onde os dois principais candidatos à câmara prometem uma revolução daqui em diante.

Menos lixo e uma cidade mais verde é a vontade de muitos lisboetas. E isso só se consegue com um reforço dos transportes públicos - que permitam uma ligação efetiva aos concelhos vizinhos da capital, retirando carros das estradas e evitando trânsito intenso – e com a criação de novas áreas exclusivas de circulação pedonal.

Por fim, e porque Lisboa não conseguirá fugir aos efeitos das alterações climáticas, importa transformar a cidade: menos betão à mostra, mais espaços verdes. Além do efeito mais agradável à vista, a ciência mostra que ter árvores e outros tipos de vegetação nas cidades pode atenuar a subida extrema das temperaturas.

Turismo é encarado como um problema relevante pelos lisboetas (Getty Images)

Currículo de guerra

O passado importa na hora de medir as probabilidades que cada força política tem. Veja como evoluíram as principais forças políticas neste concelho.

Nota: nesta comparação foram tidos em conta os cinco partidos com maior peso eleitoral nas últimas eleições autárquicas, de 2021. O PSD concorreu em coligação com o CDS-PP. O PS concorreu coligado com o Livre.

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