Em entrevista ao Público e à Rádio Renascença, o presidente da Câmara de Lisboa responsabiliza a gestão anterior - socialista - pelos principais problemas da cidade, do lixo nas ruas à instalação dos grandes e polémicos painéis publicitários
Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, diz que "alguma extrema-esquerda" - sem identificar os partidos - aproveita-se das pessoas que se encontram em situação de sem-abrigo, mantendo-as naquela situação "como arma política": "As pessoas em situação de sem-abrigo tornaram-se, para alguma extrema-esquerda, quase um negócio. E eu acho que isso é um aproveitamento", diz Moedas em entrevista ao Público e à Rádio Renascença, argumentando que para alguns partidos é conveniente ter pessoas a viver em tendas na cidade de Lisboa para que continuem a poder criticar a gestão municipal.
Nas palavras do autarca, que se recusa a revelar se vai ou não recandidatar-se à presidência no próximo ano, "Lisboa é a cidade em Portugal que mais faz sobre o grande problema das pessoas em situação de sem-abrigo, que aumentou depois da pandemia". Moedas dá ainda a entender que as medidas tomadas pela Câmara estão a ser boicotadas pelos autarcas socialistas.
"Tínhamos as pessoas em situação de sem-abrigo num quartel em Santa Bárbara. O governo anterior teimou que eu tinha que retirar das pessoas, que levei para o Beato. Depois, no Beato, o presidente da junta socialista também não estava contente. Temos agora um problema em Arroios que tem que ser resolvido. O governo propôs o Antigo Hospital Militar de Belém. O presidente da Junta da Ajuda, que é do PS, também não quer as pessoas em situação de sem-abrigo ali. Depois aprovámos um hotel social na freguesia Santa Maria Maior e o presidente da Ajuda, que é do PS, também não quer ali. Muitas vezes pergunto-me se será que o PS quer resolver a situação. É que eu quero resolver a situação."
"Para haver um buraco numa rua é preciso anos de não ter feito nada"
Os socialistas são também responsáveis, diz, pelas queixas existentes sobre o lixo e o desleixo em algumas zonas de Lisboa. Carlos Moedas acusa a descentralização dos serviços de recolha e limpeza que foi "mal feita " por António Costa, quando este era presidente da Câmara. "Ele não resolveu, na altura, e ninguém o resolveu. Foi uma descentralização mal feita. Temos esta dicotomia com as freguesias. Obviamente que o sistema não funciona. (...) A culpa é de não haver uma responsabilidade apenas de uma instituição. Quando temos um ecoponto, e que é a câmara que recolhe dentro do ecoponto mas não recolhe os sacos à volta, temos um problema", diz o atual presidente.
Aponta ainda um segundo problema, que é o facto de não haver recolha de lixo ao domingo: "Tenho de começar a falar com os sindicatos, e a nível técnico essas conversas estão a ser feitas, sobre a não recolha do lixo ao domingo. Ao domingo, produzimos 900 toneladas de lixo e não conseguimos recolher, porque isso não está no acordo com os sindicatos. Não quero fazer nada contra os sindicatos, mas temos de falar".
Quanto ao desleixo na cidade - passeios esburacados, espaços verdes maltratados, mobiliário urbano descuidado…-, volta a acusar a gestão socialista: "Isso resulta de 14 anos de descuido. Vamos falar em buracos na rua. No outro dia, vi estes números. Em 2019, 2021, a câmara de então investiu oito milhões de euros nesses três anos. Nós já investimos 23 milhões a tapar buracos. Tudo isso estamos a refazer. Quando, de repente, neste mandato já investimos 23 milhões e tivemos os problemas que tinham, é porque não houve planeamento anterior. É porque as coisas não se fizeram. Não apareceram hoje. Para haver um buraco numa rua é preciso anos de não ter feito nada."
Culpa dos painéis? "PCP, BE e Cidadão". Polícia Municipal a deter pessoas? Pedi à ministra pequena mudança da lei"
Na entrevista, Carlos Moedas aborda ainda a questão dos polémicos painéis publicitários de grandes dimensões que foram colocados em vias principais da cidade. E mais uma vez responsabiliza a gestão anterior. "Aqui, o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista mentiram. E é importante que isso fique claro, porque fui acusado de mentir", diz. "Mentiram porque este contrato foi adjudicado em 2018. E, obviamente, como presidente da câmara, tenho de cumprir a lei. E cumprir a lei era assiná-lo. Nem sequer havia aqui uma escolha. Há uma adjudicação do contrato em 2018, com os votos a favor do PCP, do Bloco de Esquerda, dos Cidadãos por Lisboa e, na altura, com votos contra do PSD. Há uma adjudicação que é feita. Como presidente, tenho que assinar essa adjudicação, depois de todo um imbróglio legal que houve e uma série de litígios."
Depois dos protestos, o que Moedas fez foi "retirar já muitos destes placards, muitos destes MUPI, como lhes chamamos na cidade. Muitas vezes, em certas situações, pedimos à empresa para retirá-los em situações que não deveriam estar. Já mandámos parar todos os grandes formatos. (...) Agora, estamos a trabalhar com a empresa, parámos todos os grandes formatos, eles aceitaram, mas tem de ser uma negociação. Se for preciso, até podemos reduzir o montante daquilo que recebemos em relação a este contrato."
A mais recente polémica da gestão de Carlos Moedas tem que ver com a polícia municipal. O presidente quer que esta força de segurança possa fazer detenções. E justifica: "Os polícias da Polícia Municipal são polícias de segurança pública. Há uma coisa que, como lisboeta, nunca percebi. Porque é que, se está a haver uma cena em que há um roubo, uma pessoa a roubar uma carteira, o polícia municipal não actua? O que é que os lisboetas vão pensar? Vão pensar, então, mas o que é a Polícia Municipal? Ao comandante da Polícia Municipal, eu disse, 'senhor comandante, os seus polícias são polícias da segurança pública, eles têm de fazer detenções'. O que peço à ministra, e já o transmiti, é que haja uma pequena mudança na lei para que a Polícia Municipal possa não só fazer essa detenção mas depois levar até à esquadra. Isto não tem nada que ver com extrema-direita ou extrema-esquerda. Isto tem que ver com segurança da cidade, com as preocupações das pessoas".