Navios despejam petróleo três mil vezes por ano nos mares da Europa

22 mar 2022, 11:13
Navio (AP Photo/Michel Spingler)

Investigação mostra que navios descarregam regularmente "água de porão” ilegalmente em vez de a tratar. Este tipo de ações tem efeitos tóxicos na vida marinha

Uma nova investigação da Lighthouse Reports, um consórcio europeu de jornalistas, citada pelo The Guardian, mostrou que, todos os anos, há mais de 3.000 casos registados de navios comerciais que despejam petróleo nos mares da Europa, assim como a "água de porão", ao invés de a tratar.

De acordo com o jornal The Guardian, a "água de porão" é composta por uma mistura de líquidos recolhidos da casa dos motores e que pode ser misturada com lubrificantes, produtos de limpeza e metais como chumbo e arsénico, que se acumulam no porão do navio. Este tipo de resíduos é caro de tratar e, por isso, alguns dos navios despejam-nos diretamente no mar, o que, segundo a investigação, acaba por ter efeitos tóxicos na vida marinha.

Segundo a investigação, que contou com o contributo de seis denunciadores, contornar o sistema não é difícil: os navios que o querem fazer usam bombas específicas, falsificam diários de petróleo e descarregam à noite quando a tecnologia de radar pode detetar, mas não verificar - pelo menos facilmente, a descarga.

Ao longo de seis meses, e através de tecnologia satélite, testemunhas anónimas e pedidos de acesso a documentos sobre incidentes sobre libertação de petróleo de navios, o consórcio europeu de jornalistas descobriu que a maioria dos países é lenta a atuar e a punir quem não cumpre as regras.

Na Europa, é a Agência Europeia para a Segurança Marítima (EMSA), através da iniciativa CleanSeaNet, que analisa as imagens de satélite para detetar possíveis fugas de petróleo e, quando isso acontece, é enviado um alerta para o país, que pode enviar um avião ou um barco para inspecionar a fuga e enviar as conclusões à EMSA.

A monitorização por satélite terá sido aperfeiçoada nos últimos anos, mas o controlo das práticas ilegais de despejo de resíduos continua a ser limitado, o que faz com que apenas 1,5% dos potenciais derrames de óleo sejam verificados fisicamente no local, pelas autoridades, nas primeiras três horas após o alerta das imagens de satélite.

No entanto, apesar da iniciativa CleanSeaNet estar a funcionar desde 2007, os níveis de alerta são baixos. Em 2020, por exemplo, houve apenas 7.672 deteções de fugas e, dessas, só 208 foram confirmadas. Os especialistas afirmam que a demora na resposta, a juntar com os poucos dados disponíveis da EMSA, faz com que a eficácia da atuação reduza.

A EMSA conta ainda com o contributo da SkyTruth, uma organização ambiental que trabalha com análise de dados a partir de imagens de satélite, e foi graças a esta organização que se conseguiu detetar, em 18 meses, de julho de 2020 a dezembro de 2021, mais de 300 ocorrências de possíveis despejos ilegais de resíduos em águas europeias.

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